30 Setembro 2013
A reforma da Cúria e a forma como melhorar a imagem negativa do Vaticano terão prioridade quando o conselho de cardeais de oito membros do Papa Francisco se reunir em outubro, disse o cardeal alemão Reinhard Marx. Ele também disse que Francisco trouxe uma "nova atmosfera" e uma "nova sensibilidade" para a Igreja.
A reportagem é de Christa Pongratz-Lippitt, publicada no sítio National Catholic Reporter, 26-09-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O cardeal Reinhard Marx, de Munique, deu uma extensa entrevista à revista alemã Die Zeit em setembro. Ele discutiu o estado atual da Igreja e as mudanças que são cruciais em sua opinião.
"Precisamos de uma forte autoridade central, e é por isso que, como eu já enfatizei em Roma, devemos melhorar a reputação da Santa Sé. A Cúria está aqui para ajudar as Igrejas locais, que não são apenas ramificações romanas. Devemos promover uma mudança positiva na imagem do Vaticano. Não deve ser mais possível que os nossos fiéis considerem o Vaticano principalmente como algo negativo. Devemos mais uma vez ser capazes de nos orgulharmos das nossas sedes", disse Marx, que é presidente da Comissão das Conferências Episcopais da Comunidade Europeia.
"Muitos problemas são causados pela falta de comunicação entre o papa, a Cúria e os bispos locais", disse Marx. "Somos uma organização mundial sem paralelo, mas talvez não tenhamos atingido suficientemente o nível de desenvolvimento que uma organização mundial requer. No século XXI, nós precisamos ser tanto um ator global, quanto uma oração global", disse Marx, brincando com as palavras inglesas "global player" e "global prayer".
Ter uma organização eficiente é o mais importante, disse Marx. "Muitos dos nossos fiéis acham que a Igreja deveria ser piedosa, e que a burocracia é algo ruim. Eu fico muito irritado quando as coisas estão mal organizadas. A Igreja não deve ser governada de modo feudal. As decisões devem ser transparentes e verificáveis, e isso só funciona se você tiver uma administração eficiente".
É importante lembrar que a Igreja "não é apenas o que os bispos dizem. (...) É claro que devemos explicar o que os Evangelhos dizem, mas não devemos nos impor às pessoas de cima. Os cardeais não governam a Igreja, assim como os padres não governam os seus paroquianos. Alguns católicos ainda parecem pensar que um padre deve estar presente para que a Igreja funcione. Absurdo! A Igreja está onde dois ou três estiverem reunidos em seu nome".
Infelizmente, a Igreja muitas vezes ainda é acusada de querer orientar as pessoas em direções pelas quais elas não querem ir, continuou. Ela deveria se perguntar se não definiu as prioridades erradas ao proclamar a mensagem do Evangelho. "Muitos idosos cresceram com a ideia de que a Igreja é uma instituição moral, e que Deus é apenas um Deus misericordioso se guardamos os seus mandamentos. Mas Deus não diz: 'Se você for bom, então eu também vou ser bom com você'. Jesus proclama um Deus que diz: 'Eu te amo – portanto, viva', e assim nos dá a liberdade de decidir se queremos aceitar e retribuir o seu amor".
A direção que o pontificado de Francisco está tomando ficou clara depois do conclave, disse Marx. "A orientação básica muito em breve tornou-se claramente visível. Eis um homem que abraça as pessoas. Essa é a maneira que ele trabalha, a forma em que o trabalho pastoral tem prioridade".
Francisco não está encenando quando ele pegou o ônibus, decidiu ficar na pousada da Cidade do Vaticano ou telefonou para as pessoas em seu celular, disse Marx. "As pessoas sentem que isso é genuíno e não encenado. Você já ouviu falar do encontro no elevador? Há um cardeal muito jovem da Filipinas – ele tem apenas 53 anos, então ele é mais novo do que eu. Certa manhã, ele já estava no elevador quando o Papa Francisco entrou. O cardeal estava vestindo apenas um pulôver para o café da manhã e parecia um jovem seminarista ou um estudante. Ele murmurou: 'Santo Padre...', e o papa respondeu: 'Tudo bem, Santo Filho?'. A Igreja já mudou como consequência da forma aberta do papa e está ganhando impulso. Ela foi reanimada, de certa forma.
"Isso não deve ser entendido como uma crítica ao antecessor do Papa Francisco. O pontificado de Bento XVI terá um efeito duradouro, de longo prazo. Mas há uma nova atmosfera. Possibilidades estão se abrindo. Talvez o novo papa vai conseguir criar uma nova sensibilidade. O importante é deixar claro que os bispos não são senhores feudais. Por que os leigos não poderiam colocar as suas mãos sobre um bispo e abençoá-lo?"
Os recentes escândalos do Vaticano colocaram a sua reputação em baixa, disse Marx. Foi por isso que Francisco alertou contra os perigos do narcisismo. "Uma instituição que não serve mais, mas apenas se concentra em fortalecer e em engordar a si mesma, em última instância, irá prejudicar todos. Precisamos de mais transparência, de supervisão e de responsabilidade – e, aliás, aprender com o mundo não é proibido".
Questionado sobre o banco vaticano, Marx disse que é questionável se o Vaticano precisa absolutamente de um banco. "Eu, ao menos, acho escandaloso que, há décadas, uma instituição tenha sido autorizada a prejudicar a reputação da Igreja no mundo e entre os fiéis".
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''Vaticano deve melhorar a sua imagem'', defende cardeal alemão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU