Por: André | 28 Setembro 2013
No domingo, 22 de setembro, dois camicases detonaram explosivos na saída de uma igreja na cidade de Peshawar, matando 82 pessoas e provocando mais de 130 feridos. Christophe Jaffrelot, especialista da Ásia do Sul, fala sobre este duplo atentado contra os cristãos.
A entrevista é de Anne Guion e publicada na revista francesa La Vie, 24-09-2013. A tradução é de André Langer.
Eis a entrevista.
É a primeira vez que um atentado destas proporções visa os cristãos no Paquistão?
É a primeira vez que um atentado contra cristãos provoca tantos mortos. Nesse sentido, podemos falar de ruptura. Mas os cristãos já foram visados no passado, através de alvos simbólicos e prestigiosos, como Shahbaz Bhatti, o ministro cristão das Minorias, que foi assassinado em março de 2011. Certamente, não é a primeira vez que as minorias são atacadas no Paquistão. Os ahmadis – uma seita cujo fundador acreditava ser o novo profeta e o descendente de Jesus Cristo – e os xiitas são, com frequência, vítimas de atentados. Esses últimos são visados regularmente nas festas de muharram [primeiro mês do calendário islâmico. É um mês sagrado].
Há um recrudescimento da violência em relação às minorias?
Teve uma multiplicação das violências desde 2007, ano em que houve a radicalização e a junção entre duas correntes extremistas: uma jihadista, às vezes ligada à Al Qaeda, cujas bases encontram-se na zona fronteiriça com o Afeganistão e cujos objetivos são antiamericanos – seus membros atacam o Estado paquistanês porque ele é um aliado dos Estados Unidos. E a outra, sectária: sunitas extremistas que são financiados pela Arábia Saudita e que atacam todos os não-sunitas desde os anos 1980. Em 2007, essas duas correntes se viram representadas no movimento dos talibãs paquistaneses. O TTP (Movimento dos Talibãs do Paquistão), que reivindicou o duplo atentado-suicida de 22 de setembro, provém principalmente da corrente jihadista. Alguns de seus quadros são oriundos do jihad anti-soviético dos anos 1980.
Por que os talibãs do TTP atacam os cristãos?
Porque eles não são muçulmanos e porque o TTP escolhe seus alvos em função da repercussão midiática que provoca no Ocidente. Em junho, 10 alpinistas estrangeiros, ocidentais, foram mortos no Himalaia paquistanês em um ataque reivindicado pelo TTP. Atacar estrangeiros é a melhor maneira de se ter a maior ressonância midiática possível. Ora, os cristãos paquistaneses são identificados como próximos do Ocidente. Parece que esta estratégia funciona, porque a imprensa internacional fala do atentado do último fim de semana, ao passo que os ataques anteriores contra os xiitas e os ahmadis tiveram pouca atenção da imprensa. Mas o contexto é importante: o sentimento anti-ocidental se exacerba no Paquistão por causa dos ataques dos drones americanos que fazem numerosas vítimas e não somente entre os talibãs. Segundo o New America Foundation, um laboratório de ideias americano que faz a conta diária dos mortos, os drones teriam matado entre 2.000 e 3.300 pessoas desde 2004, principalmente no Waziristão do Norte. Ao alvejar os cristãos, os talibãs visam, na verdade, os Estados Unidos. Mesmo se os pobres cristãos de Peshawar nunca tenham recebido um dólar dos americanos.
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“O atentado no Paquistão visou, na verdade, os Estados Unidos”. Entrevista com Christophe Jaffrelot - Instituto Humanitas Unisinos - IHU