Por: Jonas | 25 Setembro 2013
Não existe uma só referência à paz, entre as três grandes religiões monoteístas, que não aluda à imagem dos “filhos de Abraão”. No entanto, exatamente o túmulo do patriarca continua sendo o lugar de ódio e de enfrentamentos. São momentos muito tensos os vividos em Hebron, cidade da Terra Santa em que, há alguns milênios, venera-se a Gruta dos Patriarcas, onde Abraão foi enterrado de acordo com a tradição.
Fonte: http://goo.gl/r3tuY6 |
A reportagem é de Giorgio Bernardelli, publicada no sítio Vatican Insider, 23-09-2013. A tradução é do Cepat.
O que acendeu o pavio foi a morte de um soldado israelense, o sargento Gal Kobi. Ontem, um franco-atirador disparou-lhe quando estava exatamente próximo daquela que para os judeus é a “me’arat há-Machpela” (a Gruta de Machpela), ao passo que para os muçulmanos é “al-masjid al-Ibrãhimi” (a Mesquita de Abraão). Um homicídio que ocorre num momento bastante particular; nestes dias, Israel celebra a festividade de Sukkot. O militar israelense estava nesse local porque pertencia à escolta de alguns judeus que foram rezar na Gruta, que fica em terra palestina.
Como era de se esperar, o exército israelense respondeu com uma onda de prisões e violência sob o pretexto de encontrar o franco-atirador. Entretanto, a mais dura das reações foi de tipo política: o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, aprovou o estabelecimento de um novo grupo de colonos na “Machpela House”, edifício que se encontra precisamente nas proximidades do lugar sagrado. No ano passado, este pequeno imóvel foi adquirido por uma organização judia através de alguns intermediários. Entretanto, até o momento, era proibido estabelecer-se no edifício, para evitar novas tensões na cidade em que vivem cerca de 200 mil palestinos. Na atualidade, há aproximadamente sete mil israelenses que vivem na região protegida da Cidade Velha de Hebron e, inclusive, a entrada para o Túmulo de Abraão possui acessos diferentes (separados por um vidro blindado) para os diferentes fiéis.
A história de Hebron é um dos símbolos por excelência do conflito entre os israelenses e os palestinos. O Túmulo de Abraão tem uma importância fundamental para a história judaica. No livro do Gênesis, narra-se que a Gruta de Machpela foi adquirida por Abraão para enterrar sua esposa Sara e, por este motivo, é considerada elemento indispensável da Terra prometida. Inclusive, durante a diáspora, uma pequena comunidade de judeus se estabeleceu exatamente ali, convivendo com os muçulmanos. Porém, em 1929, quando começaram os atritos entre os nacionalistas árabes e os sionistas, 67 judeus de Hebron pagaram o preço num verdadeiro “pogrom”. Os ingleses responderam com uma força traumática: distanciaram, por motivos de segurança, todos os judeus da cidade de Abraão. A situação permaneceu mais ou menos igual até que, após a Guerra dos Seis Dias, um grupo de colonos decidiu se estabelecer em Hebron. No entanto, desta vez, tinham o exército ao seu lado. Foi o começo de novas feridas, que acabaram com uma guerra sangrenta no dia 26 de fevereiro de 1994, quando o judeu Baruch Goldstein abriu fogo contra um grupo de muçulmanos que estavam se dirigindo à Gruta dos Patriarcas para rezar. Houve cerca de 60 mortos entre aqueles assassinados por Goldstein e os que morreram posteriormente.
Este novo massacre de Hebron, em 1994, foi o primeiro obstáculo para o processo de paz que Rabin e Arafat iniciavam a partir dos Acordos de Oslo. Neste sentido, novamente, existe o temor de que as tensões ao redor do Túmulo de Abraão voltem a apagar as tímidas negociações entre israelenses e palestinos.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Hebron. Sangue no Túmulo de Abraão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU