17 Setembro 2013
Desde a sua eleição, no dia 13 de março, nada foi mais como era antes. As mídias disputam as suas imagens. Todas as vezes em que ele aparece na TV, a audiência sobe. Palavras simples, o contato contínuo com os fiéis, e as pessoas novamente têm confiança no vigário de Cristo.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada no jornal La Repubblica, 13-09-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Está voando a Lumen Fidei, a primeira encíclica do Papa Francisco, que, com as suas mais de 250 mil cópias vendidas na língua italiana (mais de 1 milhão nas 12 línguas em que ela foi traduzida até agora) em pouco mais de dois meses, retrata no rosto do padre Giuseppe Costa, diretor da Livraria Editora Vaticana, um sorriso que não se via há algum tempo.
Mas todos aqueles que, na Santa Sé, têm a ver com a venda de produtos relacionados com Jorge Mario Bergoglio estão sorrindo: o papa que veio de "um no fim do mundo" atrai – é preciso dizer – como Deus manda.
Nada mais como antes
Seis meses de pontificado, e já nada é como antes dentro do muro construído por Leão IV para defender a colina vaticana dos saques dos sarracenos. "De uma Igreja cercada, com mil problemas, passamos para uma Igreja que se abriu", confirmou Pietro Parolin, novo secretário de Estado, em uma das suas primeiras saídas. Admitindo que grande parte do mérito da revolução em curso depois da época dos venenos e dos escândalos é de uma marca capaz de conquistar consenso como raramente se viu no passado: Francisco.
O segredo? Segundo o padre Costa, está todo na demanda. Um público mais elitista e refinado o de Joseph Ratzinger, o teólogo emprestado ao papado, e um público "diferente, mais popular, o de Bergoglio".
O Vaticano faz audiência
As televisões também se deram conta disso. Até seis meses atrás, os principais noticiários italianos se esforçavam para aceitar serviços relacionados com a Igreja, o papa e o Vaticano. A audiência, não é um mistério para ninguém, caía inexoravelmente todas as vezes.
Hoje, bastam duas frases do pontífice dos Pampas para ganhar audiência. E derrotar a concorrência.
O canal Tv2000, a televisão dos bispos italianos, sabe disso. Na noite do sábado, 27, e domingo, 28 de julho, a emissora colocou no ar a vigília em frente ao mar de Copacabana, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude convocada por Francisco. A Tv2000 obteve 7,12% de share, com picos, no fechamento, de 9,61%.
É em correspondência a essa transmissão ao vivo de 2h30min (que foi ao ar das 00h30min às 3h) que a Tv2000 foi a TV mais assistida da Itália, colocando-se no primeiro lugar absoluto no ranking dos canais abertos, na frente da Rai1, Rai2, Canale5, Italia1 e Rete4.
Os telefonemas do papa
Escutas que continuam, irrefreáveis, por ocasião de toda transmissão papal ao vivo. E, de fato, a plataforma de Murdoch também se deu conta disso. O que, há dois domingos, o Sky Tg 24 escolheu para inaugurar a chegada da alta definição? Com a transmissão ao vivo do Ângelus recitado por Francisco na Praça de São Pedro.
O padre Dario Viganò, sacerdote especialista em cinema e diretor do Centro Televisivo Vaticano (CTV), encontra-se regularmente com o papa. Ele explica que é o próprio Bergoglio o primeiro a se surpreender com o clamor midiático que os seus gestos inspiram. Acima de tudo, o clamor dos seus telefonemas.
Diz Viganò: "É o seu estilo desde sempre, o seu modo para manter relações com os padres da sua diocese, com as famílias que ele conhecia e com as realidades com as quais ele entrava em comunicação. Algumas pessoas ele chama por telefone, a outras ele manda um pequeno bilhete. Tanto que, sorrindo, o papa me disse: 'Se os jornalistas soubessem todas as coisas que eu fiz!'".
Pedidos de todo o mundo
E ainda: "Francisco também tem um reflexo no CTV: ele despertou novamente a atenção não só para as redes nacionais, mas também para todos os canais internacionais acerca das notícias relacionadas com a atividade do pontífice. Aumentam os pedidos de acordo com o CTV e, além da América do Norte e da Europa, Ásia e África, como previsível, também aumentam as demandas da América Latina para ter produções ao vivo. Para a América Latina, devemos ativar outro satélite, e isso se torna um compromisso enorme para nós. Tradicionalmente, era oferecido o Ângelus e a audiência geral: agora, muitíssimos outros pedidos de transmissão ao vivo chegam diariamente".
Gestos simples que agradam
Que Francisco é um ímã, muitos dados o dizem. Principalmente aqueles em posse da Prefeitura da Casa Pontifícia. Entre os dias 27 de março a 26 de junho, são 825 mil os fiéis que pediram ingressos para a audiência geral de quarta-feira. Se levarmos em conta que, geralmente, apenas um terço dos presentes entra na praça com o ingresso, isso significa que nas 14 audiências participaram em média mais de 100 mil pessoas. Números que, com os dados em mãos, apenas Karol Wojtyla alcançava nos seus anos dourados. Francisco faz a sua parte. Ele permanece diversas horas na praça, cumprimenta frequentemente os fiéis um a um. Deixa que os jovens tirem autorretratos com ele no iPhone. Faz com que os jovens com deficiência subam no papamóvel. Troca o solidéu com os fiéis. Abraça velhos amigos. Recebe cartas privadas. Veste a camiseta rubro-azul do San Lorenzo, o time do coração. Para ele, o tempo gasto entre as pessoas não é tempo perdido.
Padres à disposição nos museus
O efeito Francisco não é pouca coisa nos Museus Vaticanos, onde, depois de um ano de vacas magras, a receita subiu em um salto, com uma tendência de visitantes que, nos últimos seis meses, aumentou 7%. Ondas de turistas entram nos museus para visitar o patrimônio vaticano, é claro, mas também para outras coisas. No rastro de um papa mais acessível, um pastor que não despreza o cheiro do rebanho, eles também buscam um contato com o divino.
Os dirigentes dos museus se deram conta disso e criaram aquilo que eles jocosamente chamam de "serviço presbiteral". Dois padres, um no topo da escada de Bramante, o outro na entrada da Capela Sistina, estão à disposição para qualquer pessoa que precise de uma conversa. São inúmeras as pessoas que param. E falam contando sobre si mesmas e pedindo conselhos.
A pesquisa
Hoje, a Igreja comunica confiança. Quem expressa isso bem é uma pesquisa realizada exclusivamente para o La Repubblica pelo Instituto Demopolis e que se refere justamente aos primeiros seis meses de pontificado de Francisco: 88% dos italianos confia no Papa Francisco. É o dado de confiança mais alto registrado nos últimos 20 anos.
A apreciação da opinião pública cresce para 90% entre as mulheres, para 96% entre os católicos e chega a 67% no segmento composto por não católicos e não crentes: este dado é extremamente significativo, muito superior até mesmo ao dos anos mais intensos do pontificado de João Paulo II, que cresceu ainda mais depois das últimas escolhas de Bergoglio e da sua visita a Lampedusa.
O que mais chama a atenção dos italianos são a espontaneidade e a linguagem do papa, evidenciado por 80% dos entrevistados, mas também a grande proximidade das pessoas, percebida por mais de 7 em cada 10 entrevistados.
Também surpreende, significativamente, para 75%, a atenção mostrada nesses primeiros meses para os mais fracos. A confirmação disso também vem de algumas palavras do pontífice que chamaram a atenção dos italianos: "Como eu gostaria de uma Igreja pobre e para os pobres!".
As escolhas e os gestos dos primeiros seis meses de pontificado já estão incidindo sobre a relação entre a opinião pública e a Igreja Católica: depois de um período de profunda crise, volta a crescer a confiança na Igreja, que está hoje em 63%. Quase 20 pontos acima do valor registrado pelo barômetro político Demopolis de janeiro passado.
Crescem também as expectativas para o futuro: se 23% ainda parecem céticos, mais de 6 em cada 10 italianos parecem convictos de que Francisco contribuirá para uma profunda renovação da Igreja.
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Seis meses com o Papa Francisco: uma Igreja aberta ao mundo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU