09 Setembro 2013
O Papa Francisco está liderando a Igreja Católica em uma extraordinária campanha para evitar o ataque militar contra a Síria proposto pelo presidente Barack Obama.
A reportagem é de Francis X. Rocca, publicada no sítio Catholic News Service, 07-09-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Na quarta-feira passada, o papa apelou aos líderes do G20 a "deixar de lado a fútil busca de uma solução militar" para a guerra civil na Síria e a promover, ao invés, uma "solução pacífica através do diálogo e da negociação".
No dia seguinte, o ministro das Relações Exteriores enviou a mesma mensagem em uma reunião especial com o corpo diplomático vaticano. E, no sábado, o papa guiou uma vigília de oração pela Síria na Praça de São Pedro – um evento que o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, disse que seria sem precedentes, tanto em escala, quanto em importância do lugar, como um gesto papal pela paz.
Excepcionais como são, no entanto, as ações do Papa Francisco seguem em estreita continuidade o espírito e o histórico dos seus antecessores.
Na primeira visita de um papa às Nações Unidas, em 1965, o Papa Paulo VI memoravelmente pediu "nunca mais à guerra, nunca mais à guerra". O Bem-Aventurado João Paulo II foi um constante defensor da paz, convocando os encontros inter-religiosos em Assis, rezando pelo fim da violência nos Bálcãs e fazendo tudo o que podia, pública e privadamente, para impedir a invasão do Iraque em 2003.
Esforços papais de pacificação renderam pouco no caminho dos resultados concretos – a grande exceção é a mediação do Vaticano de uma disputa territorial entre a Argentina e o Chile no fim dos anos 1970 e início dos anos 1980 –, mas nenhum ofício hoje está mais estreitamente identificado, por católicos e não católicos, com a promoção da paz como um valor fundamental do que o papado.
No entanto, esse papel é relativamente recente no contexto da história de 2.000 anos do papado. Até algumas gerações atrás, longe de defender incansavelmente a negociação e o diálogo, os papas muitas vezes justificaram e até mesmo travaram guerras por conta própria.
Como se sabe, uma série de papas medievais convocaram as Cruzadas contra os muçulmanos na Terra Santa e em toda a região – incluindo a Síria .
Até o fim do século XIX, o papado tinha o seu próprio exército, cujos últimos vestígios são visíveis hoje na Guarda Suíça do Vaticano, com seus uniformes coloridos, cujo trabalho já não é o de atacar ninguém, mas apenas de proteger o papa. Mas, no início do século XVI, o papa renascentista Júlio II, de fato, montou a cavalo à frente de suas tropas, vestindo uma armadura completa, em batalhas contra governantes italianos e franceses rivais.
Foi somente no século XX que o bispo de Roma emergiu como uma voz confiável contra a guerra como forma de resolução de disputas internacionais. O Papa Bento XV fez grandes esforços para mediar um fim à carnificina da Primeira Guerra Mundial, e o Papa Pio XII buscou evitar através dos canais diplomáticos a Segunda Guerra Mundial.
Essa mudança certamente reflete o grande salto no poder destrutivo da tecnologia militar na era industrial, o que fez com que as condições estabelecidas pela doutrina social católica para se travar uma guerra justa simplesmente impossíveis de se cumprir.
Em 1963, o Bem-Aventurado João XXIII escreveu em sua encíclica Pacem in Terris que as armas nucleares tinham tornado a guerra finalmente inaceitável como meio de reparar a injustiça. E o Papa Francisco, embora se oponha à intervenção militar na Síria, sublinhou que ele condena com "máxima firmeza" qualquer uso de armas químicas, cujo exemplo mais recente é a justificação de Obama para atacar as forças do presidente sírio Bashar Assad.
Não só a natureza dos armamentos modernos, mas também uma mudança no próprio papado tornaram mais fácil para os papas abrir mão das guerras. Com a perda dos Estados Pontifícios em 1870, a Santa Sé deixou de ser um poder territorial. Desde então, nenhum pontífice teve uma participação direta em qualquer conflito internacional, e essa neutralidade deixou os papas mais livres para cumprir o seu papel como líderes de uma Igreja verdadeiramente universal, incluindo o papel fundamental de promover a paz.
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Para o papa, promover a paz agora faz parte do seu ofício - Instituto Humanitas Unisinos - IHU