Por: Cesar Sanson | 07 Setembro 2013
Após audiência pública em 30 de agosto, comunidades do rio Tapajós divulgam carta em que afirmam que não concordam com a construção de usinas hidrelétricas no rio. Segundo os movimentos sociais, "os argumentos dos representantes do governo revelaram que as hidrelétricas seriam construídas em sacrifício dos povos e comunidades tradicionais e em beneficio de uma pequena elite de grandes empreiteiras e mineradoras."
A reportagem é de Felipe Milanez e publicada pela Carta Capital, 06-09-2013.
As comunidades criticam o uso de força militar contra os indígenas Munduruku, sob o argumento de proteção aos pesquisadores que adentram os territórios indígenas contra a vontade dos Munduruku. As ações do governo estariam criando, dentro dos territórios indígenas, um "clima de terror".
Na Carta de Santarém, transcrevem trechos de falas onde a população local manifesta indignação contra os projetos e dizem estar sendo agredida. Dizem, também, que irão resistir e denunciam o descumprimento da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no que toca a consulta das populações afetadas pelos projetos.
A chegada dessa massiva indústria extrativista, de mineração e energia, tem provocado transformações profundas na região. As usinas são vistas, pela população local, como uma ameaça a sua sobrevivência, e exigem participarem do debate sobre o seu futuro e o da região.
O rio Tapajós é hoje um dos maiores palcos de conflitos ecológicos no Brasil. O governo federal pretende instalar mais de uma dúzia de usinas no Tapajós e afluentes, provocando um impacto cuja real dimensão sobre as populações e a floresta é impossível de medir. As usinas iriam produzir energia para o rico polo mineral do Tapajós e de Carajás. Há diversas mineradoras de bauxita operando no delta do rio, como a Alcoa, em Juruti, e a Mineração Rio do Norte, na margem esquerda do Amazonas. Há novos projetos para mineração de ouro, bauxita e níquel na região, além de também produzir energia para alimentar a Vale, em Carajás.
Talvez um dos mais belos da Amazônia, o Tapajós tem grande parte de suas margens cobertas de floresta. E a floresta amazônica especialmente nessa região, é mais uma memória histórica e cultural do que "selvagem": ali é um dos principais centros arqueológicos da Amazônia, com muitas áreas de terra preta, espécies de árvores domesticadas e uma das mais ricas diversidades culturais – povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, beradeiros, pescadores, seringueiros, caboclos, migrantes de diversas partes do país, pequenos garimpeiros independentes. Nos últimos anos, também assiste a chegada massiva de madeireiros e sojeiros, chamados de "gaúchos".
As comunidades pedem para ser ouvidas, e informam estar protegidas pela Constituição e tratados internacionais. A questão, se for tomada a mais recente e moderna jurisprudência no mundo, é realmente de direito das comunidades.
No Tapajós, além da bauxita, mas junto dela, há os megaprojetos que vão transformar para sempre a vida de quem vive lá – e muitos não irão sobreviver. Negar a essa população o direito de se manifestar e de ser protagonista sobre sua vida é uma medida além de autoritária. É uma medida que decide, a partir do centro do poder, quem vive, e quem não precisa viver.
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Tapajós: comunidades acusam governo de descumprir leis - Instituto Humanitas Unisinos - IHU