Por: André | 31 Agosto 2013
Pietro Parolin (foto), de 56 anos, deixou Roma há quatro anos, quando foi feito arcebispo pelo Papa Bento XVI e enviado à Venezuela como Núncio Apostólico, depois de ter sido, durante sete anos, “vice-ministro do Exterior” vaticano. Segundo as indiscrições que estão circulando por aí, o Papa Francisco o teria escolhido como seu colaborador mais próximo, isto é, como futuro Secretário de Estado. Parolin seria o mais jovem dos que ocuparam o posto desde a época de Eugenio Paccelli.
Fonte: http://bit.ly/16W9KP4 |
A reportagem é de Gianni Valente e publicada no sítio Vatican Insider, 30-08-2013. A tradução é de André Langer.
Caso a notícia for confirmada, a nomeação de Parolin oferecerá novos indícios para imaginar qual será o caminho que a Igreja de Roma tomará nos próximos anos. Para dar-se conta desta direção, basta observar os momentos chaves da aventura humana e cristã do atual representante pontifício em terras venezuelanas.
O novo Secretário de Estado nasceu em Schiavon, na província e na diocese de Vicenza (Itália), no dia 17 de janeiro de 1955. Sua fé em Jesus o absorveu desde a sua primeira infância no entorno da “civilização paroquial” na qual viveu imerso, a do Vêneto branco de coração magnânimo e trabalhador. Seu pai, católico “de missa diária”, ocupava-se de uma loja de ferramentas e depois começou a vender veículos agrícolas. Sua mãe foi professora de educação primária.
Quando Pietro tinha 10 anos, a família Parolin foi tocada pela dor: o pai foi atropelado por um automóvel na estrada entre Bassano e Vicenza e morre. A partir de então, os três filhos (Pietro, sua irmã e seu irmãozinho, que tinha oito meses quando ocorreu a desgraça) foram testemunhas dos pequenos gestos heróicos e cotidianos de sua mãe e professora, que se empenhava para que não lhes faltasse nada.
Pietro foi coroinha na paróquia. O então pároco, o padre Augusto Fornasa (que faleceu em Schiavon na década de 1980), acolheu e cultivou sua vocação ao sacerdócio em um ambiente marcado pela memória de grandes figuras de pastores “sociais”, como Giuseppe Arena ou Elia Dalla Costa, que se converteu no arcebispo de Florença entre 1931 e 1961.
Em 1969, aos 14 anos, Pietro entrou no seminário de Vicenza. Depois de terminar os estudos superiores, prosseguiu com o aprendizado da filosofia e da teologia. As inquietudes fecundas e aquelas mais corrosivas do pós-Concílio também agitavam a vida nos seminários. Pietro se manteve afastado das turbulências deste período. Apreciava a linha pastoral do bispo Arnoldo Onisto, sua capacidade de ouvir as pessoas, de meditar e de atender aos problemas dos operários.
No seminário, os superiores se deram conta de que Pietro era um estudante muito bom. Depois da sua ordenação sacerdotal (recebida em 1980 pelas mãos do bispo Onisto) e após dois anos como vigário na Paróquia da Santíssima Trindade de Schio, foi enviado para estudar direito canônico na Pontifícia Universidade Gregoriana, com a ideia de ser enviado depois ao tribunal diocesano e ao setor da pastoral familiar.
Mas, em Roma (Pietro morava no Colégio Teutônico da Via della Pace) alguém solicitou ao bispo para que colocasse esse jovem sacerdote, discreto e trabalhador, à disposição da Santa Sé. Ele, como sempre, aceitava ir para onde o mandassem. Com os sistemas de eleição “anônimos” que funcionaram durante um tempo nos palácios vaticanos, acabou quase por casualidade na órbita do serviço diplomático vaticano, sem nem sequer saber quem foi seu primeiro “talent scout”.
No verão de 1983, entrou na Pontifícia Academia Eclesiástica. Em 1968, obteve a licenciatura em direito canônico com uma tese sobre o Sínodo dos Bispos. Depois partiu para a que seria a sua primeira missão: três anos na Nunciatura da Nigéria, aos quais se seguiriam outros três (de 1989 a 1992) na Nunciatura do México. Na Nigéria, envolveu-se nas atividades pastorais das comunidades locais e conheceu pessoalmente os problemas da relação entre cristãos e muçulmanos. No México, ao contrário, ofereceu sua contribuição para a fase final do longo trabalho que o núncio Girolamo Prigione havia posto em marcha, que, justamente em 1992, culminaria com o reconhecimento jurídico da Igreja Católica e com o estabelecimento de relações diplomáticas entre a Santa Sé e o país mexicano. Durante essas delicadas negociações diplomáticas havia se diluído o caráter laico e anticlerical que caracterizava o país desde a sua definição constitucional.
Caso Parolin se converter no novo Secretário de Estado, pode-se imaginar que, inclusive por seu temperamento, tratará de apreciar sensibilidades eclesiais diferentes, no horizonte aberto da Igreja não auto-referencial constantemente sugerido pelo Papa Francisco. Se há uma característica que se pode identificar no “modus operandi” de Parolin é a que se conecta com a grande tradição diplomática vaticana: realismo, estudo profundo dos contextos e dos problemas que devem ser enfrentados, busca de soluções possíveis. Diante dos conflitos regionais que seguem estremecendo o mundo (a partir do Oriente Médio) e diante dos perigos de novos enfrentamentos globais entre superpotências velhas e novas, a Santa Sé poderá oferecer, uma vez mais, sua sabedoria e clarividência para favorecer os caminhos da paz.
Deixando de lado as presunções de um protagonismo geopolítico, o instrumento da diplomacia vaticana, em sintonia com a “conversão pessoal” sugerida pelo Papa Francisco, poderá oferecer uma importante e criativa contribuição à ação da Igreja, para a qual o bispo de Roma convidou insistentemente a “sair de si mesma” para ir ao encontro de todos os homens nas periferias geográficas e existenciais.
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Os talentos de Pietro Parolin. Padre e diplomata - Instituto Humanitas Unisinos - IHU