29 Agosto 2013
Na Síria, junto ao Mosteiro de São Moisés, o Etíope, na localidade de Deir Mar Musa, realizou-se nessa quarta-feira um dia especial de oração e jejum para invocar a paz no país e pedir a libertação do padre jesuíta Paolo Dall'Oglio, sequestrado há cerca de um mês na região de Raqqa.
A reportagem é de Fabio Colagrande, publicada no sítio do Radio Vaticana, 27-08-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A comunidade monástica de rito católico sírio, fundada em 1982 justamente pelo padre Dall'Oglio, promove o diálogo ecumênico e islamo-cristão. Entrevistamos um dos monges da comunidade, o padre Jihad Youssef.
Eis a entrevista.
Qual a motivação desse dia de oração?
Esse dia, tradicionalmente, é um dia de alegria para nós e para as duas paróquias de Nabek, a cidade mais próxima do mosteiro: uma siro-católica e uma greco-católica. Este ano, dada a situação, pelo fato de não termos nenhuma notícia do nosso fundador, padre Paolo, não podemos ter expressões de festa ou celebrações como todos os anos. Então, decidimos dedicar este dia à oração, ao jejum, para quem pode e como pode, à meditação, também com a ideia de pedir a intercessão de São Moisés e de todos os santos, de Abraão, o protetor da nossa vocação ao diálogo entre os crentes, para sermos solidários com o padre Paolo, que nestes dias não pode celebrar a Eucaristia e, talvez, não pode ler a Palavra de Deus. Só pode rezar no seu coração.
Quem participa desse dia?
Monges e monjas, porque aqui a situação não é mais como há dois ou três anos, quando o mosteiro sempre acolhia centenas de pessoas. Os peregrinos não chegam mais, e aqui estamos em oito monges e monjas. Nós pedimos, e pedimos agora, através da Rádio do Vaticano, a solidariedade de todos os crentes católicos e não católicos, de todos os cristãos e não cristãos, pela paz na Síria e no mundo, onde há conflito, onde há injustiça e, particularmente, pelos nossos entes queridos, e pensamos sobretudo no nosso amado padre Paolo.
O Papa Francisco, recentemente, também rezou pelo padre Dall'Oglio. Quais são as esperanças de vocês pelo destino do seu coirmão e fundador?
Ficamos muito tocados pelas palavras do papa, do bispo de Roma, Francisco, porque na festa de Santo Inácio ele nomeou o seu coirmão jesuíta desaparecido. Depois, não houve notícias certas da sua vida ou da sua morte. Nós esperamos e não podemos deixar de esperar até o fim. Esperamos não só a sua libertação, mas também que ele esteja com boa saúde e em bom estado físico e espiritual. Não temos nenhuma confirmação, nenhuma informação segura. "Esperamos contra toda esperança", como diz São Paulo.
Um dia para também pedir que aqueles que neste momento estão limitando a liberdade do padre Paolo que respondam a este apelo de paz...
Supondo que alguém está nos ouvindo, nós falamos com os corações das pessoas, e o coração pode ter razões que a razão não pode entender. Esperamos, portanto, que o Senhor coloque nos corações dessas pessoas mais humanidade, mais ternura, mais razoabilidade para com o padre Paolo e para com todos aqueles que se encontram na sua situação.
O mosteiro de vocês, Deir Mar Musa, é um mosteiro em que sempre se praticou o diálogo. É uma comunidade espiritual, poderíamos dizer, que promove o encontro entre cristianismo e Islã. Como mudou a atividade de vocês como monges durante esses dois últimos anos de guerra?
O que mudou é que, antes, sempre tínhamos, durante todo o ano, pessoas que vinham, peregrinos da Europa, dos países árabes, de filiações e religiões diversas. Aqui se fazia diálogo da vida e o diálogo meditado através de seminários inter-religiosos, conferências e encontros espirituais. Nada mudou para nós, exceto essas "atividades públicas". Nós continuamos rezando pelo Islã, com o Islã, por uma humanidade melhor, por uma humanidade mais solidária, não sujeita à lógica do mercado e do poder. Temos a esperança de poder chegar a um mundo melhor para todos, onde se fala política pelo bem das pessoas e não para assujeitar um povo sob outro povo, para pôr um polo contra o outro.
Tocou o coração de muitos o apelo do Papa Francisco do domingo passado, exatamente pela paz na Síria. Nessas vésperas da festa de São Moisés, o Etíope, a comunidade de vocês, a poucos quilômetros de Damasco, também se une a esse apelo...
Nós estamos sempre unidos com o sucessor de Pedro. Sempre, sempre, sempre. E unidos com ele e com todos aqueles que são os sucessores dos apóstolos, católicos, ortodoxos ou não, com todos aqueles que se declaram cristãos e com todos aqueles que se declaram crentes em Deus. Estamos unidos através dessa rede que chamamos de comunidade e da comunhão dos Santos. Muito obrigado. Orate pro nobis! Da Síria, Deus vos abençoe!
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De Mar Musa, na Síria, a oração pela paz - Instituto Humanitas Unisinos - IHU