27 Agosto 2013
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, passou dois anos se esforçando para não se envolver num conflito que ele temia que pudesse facilmente se tornar um problema complicado, que tinha pouco apelo popular no país e que as próprias autoridades do Pentágono diziam ser uma aposta perdida. Agora, ele está à beira de uma ação militar na Síria.
A reportagem é de Gerald F. Seib, publicada pelo The Wall Street Journal e reproduzida pelo jornal Valor, 27-08-2013.
As razões pelas quais a situação chegou a esse ponto são muitas e variadas, mas a mais complexa pode ser resumida numa única palavra: Irã.
Como a força por trás do governo sírio, o Irã é o país que ganhará mais influência se o regime do presidente Bashar al Assad prevalecer na guerra civil da Síria.
Uma preocupação mais imediata é que o Irã tem também um perigoso programa nuclear, que faz o país ser o mais propenso a tirar conclusões erradas se o alegado uso pela Síria, na semana passada, de suas próprias armas de destruição em massa - as armas químicas - passar em branco.
O fator Irã, em suma, é o problema evidente e notório, que cria um insólito dilema para um presidente que poderia de outra forma encontrar boas razões para se manter longe da questão.
A guerra civil na Síria, e a matança e deslocamento de civis que ela provocou, é um grande problema humanitário, como foi o conflito em Ruanda nos anos 90. A luta na Síria também traz grandes preocupações sobre quem controla o poder numa região importante, como foi o caso do confronto em Kosovo na mesma década. Em Ruanda, o problema não levou ao envolvimento dos EUA. Em Kosovo, sim, na forma de uma campanha aérea da Organização do Tratado do Atlântico Norte de 77 dias.
Mas, em grande parte devido ao papel do Irã, o conflito sírio cai numa categoria diferente, em que os interesses mundiais dos EUA estão em jogo. A Síria se tornou essencialmente a representação de um confronto entre o eixo liderado pelo Irã - o presidente Assad e seus aliados da organização Hizbollah - e virtualmente todos os outros países do Oriente Médio.
O que agora o torna uma questão mais ampla é a passagem das armas de destruição em massa para o centro do conflito. A declaração feita ontem pelo secretário de Estado americano, John Kerry, de que o uso de armas químicas pelo governo sírio contra seu próprio povo é "inegável", torna mais difícil evitar uma associação com o esforço ainda mais sério para conter o programa nuclear do Irã.
Obama tem declarado que o emprego de armas químicas pela Síria seria inaceitável, do mesmo modo que não aceitaria que o Irã desenvolvesse armas nucleares. Ele agora deve ponderar se a credibilidade da primeira declaração afetaria a credibilidade da segunda. Essa pergunta ganha uma importância especial num momento em que seu governo estuda iniciar negociações com o novo presidente do Irã, Hassan Rouhani, ainda que o país continue negando que tenha ambições relacionadas a armas nucleares.
Ao mesmo tempo, se uma força americana acabar ajudando a derrubar Assad, esse desfecho poderia somente aumentar o sentimento de isolamento do Irã e incitar seu desejo de ter uma arma nuclear como proteção.
Todas essas considerações serão levadas em conta na decisão do governo americano de lançar ou não um ataque com mísseis contra alvos sírios. Semelhante ofensiva poderia ser limitada, concebida para demonstrar que o uso de armas químicas tem um preço, em vez de ter a pretensão de ser uma fórmula mágica para fazer a corrente militar se voltar contra Assad. Ainda assim, mesmo um ataque restrito poderia criar riscos consideráveis no curto e longo prazo.
Numa carta enviada dias atrás ao deputado democrata Eliot Engel, de Nova York, que havia solicitado uma análise das opções militares na Síria, o general Martin Dempsey, presidente da Junta de Chefes do Estado-Maior, examinou sucintamente os efeitos de uma ação militar. Ele disse que embora os EUA tenham a capacidade de golpear a Força Aérea síria com um ataque limitado, tal iniciativa pouco ajudaria a resolver o conflito.
"É um conflito longo e profundamente enraizado entre múltiplas facções, e batalhas violentas pelo poder vão continuar depois do fim do regime de Assad", escreveu ele. "É sob esse contexto que devemos avaliar a eficácia de uma ação militar restrita."
Qualquer ação traria riscos imediatos. As tensões com a Rússia, outro aliado da Síria, aumentariam instantaneamente. As chances de ataques terroristas de aliados da Síria contra alvos americanos também. Qualquer escalada militar cria o perigo de expandir a guerra na região.
Da mesma forma, os riscos de longo prazo que persuadiram Obama a tentar ficar à margem seriam tão reais quanto antes. As duas maiores preocupações do presidente americano são essas: primeiro, quando os EUA se envolvem num conflito, espera-se que eles usem força suficiente para vencer. É duro para uma superpotência se envolver parcialmente em qualquer conflito. A questão que surgiria, de novo, seria a da credibilidade.
Segundo, uma vez que os Estados Unidos entrem no conflito, eles seriam os mais suscetíveis a herdar os problemas que viriam com a vitória - definida aqui como a derrubada do presidente Assad. As forças tentando tomar o lugar dele incluem muitas organizações islâmicas hostis, com poucos interesses em comum com os EUA.
Arrumar a casa poderia levar anos.
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Obama está perto de decidir intervenção militar na Síria - Instituto Humanitas Unisinos - IHU