14 Agosto 2013
Em três anos de existência — completados este mês —, o projeto "Bicho Sagrado", da ONG SOS Aves & Cia, recolheu 2.648 animais que seriam sacrificados em oferendas religiosas. Desses, 30 conseguiram sobreviver e estão hoje em um dos dois abrigos da ONG, em Saquarema e em Itaipava. O trigésimo bichinho salvo foi a galinha Beta, que teve uma asa amputada durante um despacho em Niterói.
"Não temos nada contra a religião de ninguém, mas torturar animais é crime tipificado na lei, passível de prisão e multa. É preciso saber o que é religiosidade e o que é crime de maus-tratos", afirma o presidente da ONG, o ambientalista Paulo Maia.
A reportagem é de Clarissa Pains Silva e publicada pelo jornal O Globo, 14-08-2013.
Segundo o capítulo cinco da Lei 9.605, matar animais é apenas permitido para saciar a fome, proteger lavouras e no caso de o animal ser nocivo ao ser humano. Para qualquer outra finalidade, é considerado crime.
Para o axogum (sacerdote de Ogum) Marcelo Monteiro, diversas oferendas com animais encontradas em ruas e encruzilhadas são feitas por pessoas que não estão diretamente envolvidas com o Candomblé ou com qualquer outra religião tradicional de matriz africana. Segundo ele, no Candomblé, os sacrifícios são válidos apenas quando a morte do animal é rápida e a dor é minimizada.
"No sacrifício, a carne do animal sacrificado serve para nos alimentar, o couro serve para a produção de materiais, e assim por diante. Nada é jogado fora. O sacrifício é justamente para trazer toda a força vital do animal para nós, por meio principalmente do alimento", explica ele, que, por ser axogum, é uma das pessoas encarregadas de realizar sacrifícios durante os rituais.
"Logo, dentro da nossa religião, é impensável deixar um animal morto abandonado numa rua. Só que existe um imaginário popular sobre as religiões africanas, que faz com que pessoas de fora das matrizes tradicionais passem a fazer oferendas que não seguem nossos preceitos".
De acordo com Monteiro, uma campanha de conscientização poderia ajudar a evitar maus-tratos de animais com o pretexto da realização de oferendas. Ele alega, no entanto, que a proibição de sacrifícios durante cultos religiosos seriam exemplo de intolerância.
"O sacrifício de animais é parte fundamental da nossa religião e da nossa cultura. Tentar proibí-lo é um desrespeito ao estado laico e às tradições africanas. É intolerância religiosa. O que se pode fazer é levar conhecimento às pessoas para que elas saibam que existe momento e local certo para esses sacrifícios".
Os mais de mil voluntários da SOS Aves & Cia, espalhados pelo estado, colecionam episódios em que, por um triz, deixaram de resgatar algum bichinho prestes a ser morto de forma dolorosa e sem finalidade. O presidente da instituição, Paulo Maia, conta que arrancou um pato negro — espécie legitimamente brasileira — das mãos de uma mulher, na porta do cemitério de Inhaúma, que se dizia incorporada por Cleópatra e pretendia decapitá-lo. O pato estava com o bico amarrado e com várias agulhas espetadas no corpo.
Outro orgulho de Maia é um dos primeiros animais salvos, no início do projeto, em 2010: um bode encontrado sozinho em Itaipava com sete facas na cabeça. Surpreendentemente, ele conseguiu sobreviver ao ser tratado por veterinários da ONG.
"As pessoas precisam ter coragem de denunciar. Um bode agonizando em uma encruzilhada não é religiosidade, sob hipótese alguma. É crime e tem que ser punido", defende Maia.
Para denunciar abusos contra animais, basta clicar na aba "Denuncie" do site www.sosavesecia.org.br (a denúncia vai instantaneamente do site para o telefone dos voluntários da ONG) ou ligar para uma das unidades do Corpo de Bombeiros, que entram em contato com a SOS Aves & Cia. Todas as denúncias são anônimas.
Ato contra secretário de Defesa dos Animais
Nesta terça-feira, uma outra ação relacionada com a proteção de animais acontecerá na Cinelândia. Integrantes do Movimento Para Salvar os Animais Cariocas marcaram para as 16h a quarta manifestação pedindo a exoneração de Cláudio Cavalcanti, secretário Especial de Promoção e Defesa dos Animais (Sepda).
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Movimento tenta impedir sacrifício de animais por motivos religiosos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU