Por: André | 10 Agosto 2013
Ani Choying Drolma (foto) a monja budista mais famosa do Nepal, entrou no convento aos 13 anos para fugir das dificuldades enfrentadas pelas mulheres em seu país e acabou convertida em uma estrela da música CatmanduCatmandua.
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Fonte: http://bit.ly/198JwJG |
A reportagem é publicada por Religión Digital, 08-08-2013. A tradução é de André Langer.
Sua interpretação melódica e enternecedora de hinos budistas tocou a fibra sensível de um país, que vivia uma sangrenta guerra civil contra a insurgência maoísta quando apresentou seu primeiro álbum, em 1998; desde então publicou 11 discos.
Com o fim do conflito, em 2006, Ani Choying seguiu conquistando a audiência do país do Himalaia e fora dele, e, atualmente, passa entre seis e oito meses ao ano no exterior, oferecendo seus recitais.
Quase anualmente vai para a Espanha e no ano passado participou do Festival de Música de Tenerife.
“Quero recordar com minhas canções que o desenvolvimento da nossa capacidade espiritual é a solução para os problemas do nosso mundo”, disse Ani Choying à agência Efe na casa de seus pais na capital, Catmandu.
“Eu creio na bondade dos seres humanos”, prosseguiu a monja, a maior dos três filhos de um casal de refugiados tibetanos e que experimentou uma dura infância.
“Meu pai me batia quase todos os dias”, explicou Ani Choying, que, no entanto, acredita que pior que seu próprio sofrimento era ver como sua mãe sofria abusos sem que ela pudesse fazer nada.
Diante da situação de maus-tratos da sua mãe e outras mulheres do seu entorno, aos 10 anos Ani Choying perguntou à sua mãe se havia alguma maneira de escapar desse modo de vida.
Um exemplo para a sociedade
Sua mãe lhe respondeu que uma saída era ser monja, e com 13 anos a pequena ingressou em um convento.
“A mulher em nossa sociedade tem que sacrificar todos os seus desejos, é tratada como uma máquina e sua existência não tem o mesmo valor do homem”, sentenciou a cantora de 42 anos.
Seu périplo espiritual “transformou o modo como percebia o mundo” e a ajudou a “invocar o que há de positivo em seu interior”.
Uma lição que a levou a reconciliar-se com o seu pai, escultor de arte budista, no final de seus dias.
“Meu pai me fez sofrer muito, mas descobri que era possível querê-lo bem. Descobri que o queria profundamente e com gratidão”, afirmou a monja, “porque, graças àquelas experiências, sou quem sou”.
Apesar de seu despertar espiritual graças ao budismo, Ani Choying não pode evitar seu descontentamento diante da discriminação de gênero na estrutura monacal desta religião.
“Os monges recebiam uma educação, mas as monjas não; delas se esperava que apenas rezassem”, disse.
Em uma viagem aos Estados Unidos para um recital lhe perguntaram quais eram os seus planos, e ali descobriu que ela podia mudar o modo como as monjas eram tratadas.
Com o dinheiro que ganhava com seus concertos, abriu um colégio para monjas nos arredores de Catmandu, onde hoje 70 mulheres entre cinco e 26 anos recebem uma educação.
Conforme aumentaram suas rendas graças à música, a monja, cantora e agora filantropa, criou a Fundação Arogya, que proporciona tratamentos para os pobres para doenças relacionadas aos rins, como serviços de diálise. “Minha mãe sofreu uma doença do rim”, esclarece.
Ani Choying é também autora de um livro, publicado originalmente em francês, traduzido para 14 idiomas e que em espanhol se intitulou “A canção da liberdade”.
“É a história de uma menina que decide não sofrer”, explica. Quando os editores franceses se interessaram pela sua vida, Ani Choying pensou, no princípio, que o tempo para contar seu périplo não havia chegado, mas por fim aceitou já que pensou que tinha uma história para contar ao mundo.
“O que eu queria dizer no livro é que seu eu pude perdoar, outros também podem”, sentencia.