08 Agosto 2013
Pela maioria dos parâmetros, os US$ 250 milhões (cerca de R$ 575 milhões) que o fundador da Amazon Jeff Bezos pagou pelo jornal The Washington Post - em negócio anunciado na segunda-feira - são uma quantia substancial. Mas talvez não tão substancial no mundo da internet e das novas mídias.
A reportagem foi publicada no site da BBC, 06-08-2013.
O próprio Bezos tem uma fortuna estimada em mais de US$ 25 bilhões, o que o coloca na 19ª posição no ranking da Forbes de pessoas mais ricas. Ou seja, o tradicional jornal americano representa apenas uma pequena fração de seu patrimônio.
Mas o que também coloca essa venda em perspectiva é a grande quantidade de dinheiro que está sendo investido nas novas mídias.
No ano passado, o Facebook foi avaliado em mais de US$ 100 bilhões quando abriu seu capital na bolsa. E o mesmo Facebook investiu US$ 1 bilhão no aplicativo de compartilhamento de fotos Instagram, em abril de 2012.
Sendo assim, por que tantas diferenças entre os valores envolvidos nas negociações de produtos da velha e da nova mídia?
Leitores e anunciantes
No caso dos jornais, o seu modelo de negócios tem sido constantemente depreciado.
"Em grande parte do século, os jornais eram como uma autorização para imprimir dinheiro", diz Tim Luckhurst, professor de jornalismo na Universidade de Kent. "Você podia vender as mesmas palavras para leitores e para anunciantes."
Mas, nos últimos 20 anos, tanto leitores como anunciantes têm desaparecido.
No caso do Washington Post, a circulação média em dias de semana é de cerca de 475 mil edições, contra quase 770 mil em 2002.
"(O jornal) sofreu duramente neste milênio", afirma Roy Greenslade, professor de jornalismo na City University, em Londres. "É provavelmente um dos jornais mais admirados, mas suas vendas têm caído."
Custos do bom jornalismo
Apesar de cortes, os gastos permanecem altos na maioria dos jornais, se comparados com novas mídias como os sites Huffington Post e Politico.
Isso se deve em partes ao fato de que jornais como o Post gastam dinheiro com esforços investigativos que resultam em grandes reportagens.
"O bom jornalismo custa dinheiro. Jornais têm de tirar seus repóreres da cobertura diária para ir atrás de histórias. Isso pode levar meses e até mesmo não levar a nada", acrescenta Greenslade.
Bezos parece estar disposto a manter esse tipo de esforço investigativo no Washington Post. Em um memorando à equipe do jornal, ele expressou admiração pela coragem dos donos anteriores - a família Graham - e seu empenho em buscar os fatos "a qualquer custo".
Mas o novo dono também ressaltou as mudanças que afetaram a indústria.
"A internet está transformando praticamente todos os elementos dos negócios noticiosos: encurtando o ciclo das notícias, erodindo fontes de financiamento antes confiáveis e criando novos tipos de concorrência, alguns dos quais sem nenhum tipo de investimento na busca por notícias", afirmou.
Mas observadores desse mercado avaliam que Bezos pode conseguir reavivar o Post.
"Ele pode ser o dono ideal, ou pelo menos um dono muito bom", opina Luckhurst. "O Post precisa de alguém com um bom cérebro para negócios e que se preocupe com jornalismo de qualidade. Não tenho motivos para não achar que ele é capaz das duas coisas."
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Venda do 'Post' expõe contraste entre velha e nova mídia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU