Por: André | 02 Agosto 2013
Pode ser prematuro tirar conclusões da contundente manifestação que significou o protagonismo do Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) do Rio. Mesmo correndo este risco, é evidente que o papa saiu fortalecido; tem, a partir de agora, ao seu favor, o apoio fechado da “Igreja militante”. Certamente isto lhe dará audácia para empreender reformas de maior profundidade.
A reportagem é de Marco Antonio Velásquez Uribe e publicada no sítio chileno Reflexión y Liberación, 29-07-2013. A tradução é de André Langer.
Seus gestos e mensagens – que tiveram a maior cobertura midiática de todos os tempos – buscaram impulsionar uma grande transformação na Igreja. Sem exagerar, acumulam-se evidências de se estar na presença de uma verdadeira revolução eclesial.
Com o seu protagonismo no Rio, o papa assentou as bases para impulsionar uma nova cultura eclesial, que confiou – como é lógico – não à hierarquia, mas ao Povo de Deus e, particularmente, à juventude. A partir disso espera que se produzam mudanças de hábitos e costumes na vida da Igreja. Neste sentido aponta para aquilo que chama de “sair às ruas”, “arrumar brigas”, “não se deixar excluir”, “cuidar os extremos da vida”, etc. Uma retórica orientada para empoderar a Igreja militante, facultando aos contingentes juvenis e posicionando-os na primeira linha da transformação social da Igreja.
É evidente que o diagnóstico do Papa sobre a crise atual da Igreja passa mais por questões pastorais do que teológicas.
O desafio parece ser o de dotar o Povo de Deus de uma nova maneira de se relacionar, tornando operacional a comunhão eclesial. Desta forma busca estabelecer um novo apoio na vida da Igreja para superar aquela funcionalidade de tipo monárquico-piramidal, que na prática tornou inoperante o espírito do Concílio Vaticano II.
Tudo indica que Francisco se empenhou em remover, definitivamente, a pesada pedra que durante séculos deixou a Igreja ancorada na cristandade. Para imprimir-lhe nova vida, com a graça de Deus, está dando um passo estratégico chave ao orientar os esforços e criatividade para superar os vícios ancestrais da hierarcologia e do clericalismo, que tanto mal fizeram à vida da Igreja.
A estratégia parece querer desinstalar a “Igreja docente” e confiar à “Igreja discente” um papel catalisador fundamental. Com isso, parece empurrar toda a Igreja na direção da parresía apostólica.
E para maior consistência, o próprio papa começa por dar o exemplo, assumindo um passo pessoal determinante para desencadear esta transformação. Em virtude disso, no Rio, ele se despojou definitivamente de um dos atributos mais próprios que o cristianismo foi conferindo ao papado, tirando-lhe irreversivelmente esta aura de sacralidade. Morre assim definitivamente aquela cripto-heresia que durante muitos séculos dificultou a caminhada da Igreja. A renúncia de Francisco no Rio à segurança e sua confissão aos jornalistas, que o acompanhavam na sua volta para Roma, de “nos habituarmos a ser normais”, constituem a prova lapidar do fim da papolatria.
Como um sinal dos tempos, o desejo de Deus nascido de Assis há 800 anos, parece encontrar um forte impulso no Francisco de hoje, que escutando aquele chamado de “vai e reconstrói a minha Igreja” coloca em marcha uma grande revolução eclesiológica de tipo copernicano.
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No Rio começou uma Revolução Eclesial Copernicana - Instituto Humanitas Unisinos - IHU