01 Agosto 2013
O padre Dall'Oglio, o jesuíta expulso da Síria pelo regime de Assad em 2012, havia escrito ao Papa Francisco há poucos dias para pedir-lhe uma iniciativa de paz.
A reportagem é do sítio da revista Famiglia Cristiana, 30-07-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Meu nome é Paolo Dall'Oglio, sou jesuíta e por mais de 30 anos tenho promovido na Síria a harmonia islamo-cristã.
Tomei posição em favor dos democráticos sírios esmagados por uma repressão desumana e indiscriminada que eu esperava não ter que ver no século XXI. Fui expulso em junho de 2012 e, desde então, estou empenhado em tempo integral pela defesa dos direitos dos sírios e pela legitimidade da sua revolução.
Hoje, como sabemos, a Síria serve de ringue para uma luta geopolítica regional até a última gota de sangue. Em tudo isso, as Igrejas não souberam reagir a tempo, e os cristãos se encontram agora presos nas zonas de guerra e simplesmente tendem a deixar o país. Infelizmente, o regime sírio tem sido muito hábil em utilizar um certo número de eclesiásticos, homens e mulheres, para se propagandear no Ocidente como o único e último baluarte em defesa dos cristãos perseguidos pelo terrorismo islâmico.
Essa operação de manipulação da opinião foi bem sucedida para desacreditar em grande parte o esforço revolucionário sírio, in loco e no exterior, aos olhos dos cidadãos de todo o mundo e, portanto, conseguiu obter uma paralisia da diplomacia europeia e da política europeias, que, em última análise, só fortalece os grupos mais extremistas e enfraquece a sociedade civil. A forte e instrumental implicação das Igrejas na manipulação mentirosa sistemática do regime não pode deixar de exigir uma reação consciente e responsável por parte da Igreja Católica e, portanto, do papa de Roma.
O abaixo-assinado que eu apresento à sua atenção mostrará o rosto mais solidário e maduro da sociedade italiana e internacional e permitirá que o Papa Francisco supere as resistências do seu contexto, tendencialmente islamofóbico, embora muitas vezes de modo tipicamente sutil e indireto, e lance uma iniciativa diplomática própria, pedindo a intervenção de novos atores, latino-americanos por exemplo.
Esta minha e agora sua petição apresenta ao papa a necessidade de contrastar a atual sistemática utilização do regime pelos atores eclesiásticos mais importantes no Oriente Próximo, para olhar além, responder às expectativas de todos os sírios, que sofrem para obter a liberdade, e preparar um futuro positivo para aqueles cristãos que escolherem permanecer no país ou voltar para ele.
O abaixo-assinado ao Papa Francisco
"Estimado e caro Papa Francisco,
sabendo que o senhor é um amante da paz na justiça, pedimos-lhe que promova pessoalmente uma iniciativa diplomática urgente e inclusiva para a Síria, que assegure o fim do regime torturador e massacrador, salvaguarde a unidade na multiplicidade do país e permita, por meio da autodeterminação democrática assistida internacionalmente, a saída da guerra entre extremismos armados.
Pedimos com confiança que o Papa Francisco se informe pessoalmente sobre a manipulação sistemática da opinião católica no mundo por parte dos cúmplices do regime sírio, especialmente eclesiásticos, com a intenção de negar em essência a revolução democrática e justificar, com a desculpa do terrorismo, a repressão que cada vez mais adquire o caráter de genocídio".
Pe. Paolo Dall'Oglio
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A carta do padre Dall'Oglio ao Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU