30 Julho 2013
A entrevista de Papa Francisco, concedida na viagem de volta do Brasil, repercutiu intensamente na imprensa internacional e nacional. O jornalista André Mags e a jornalista Larissa Roso, publicam, no jornal Zero Hora, 30-07-2013, algumas reações.
Ei-las.
Dom Zeno Hastenteufel
Bispo da Pastoral Familiar da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - Regional Sul 3)
Não achei nada especial. Falo isso na minha diocese há muitos anos. Mas isso não significa aprovação de casamento gay. O Papa não falou sobre isso. Ele falou que a pessoa que ama Deus e segue os mandamentos não tem problema nenhum. Não é que eu seja contra o casamento gay. O casamento católico cristão é feito para homens e mulheres. Nunca vai ter um sacramento do matrimônio gay. Isso não vai ter. Pode haver, como já está havendo, uma convivência gay, um comprometimento mútuo perante a lei.
Maria Berenice Dias
Presidente da Comissão da Diversidade Sexual da Ordem dos Advogados do Brasil
Nossa, gostei tanto da declaração do Papa! Segue o que ele tem demonstrado em suas manifestações, de absoluta inclusão e aceitação. Claro que isso não revela aceitação ao vínculo homoafetivo, é a aceitação da pessoa, a Igreja faz essa distinção. Mas não dá para deixar de reconhecer que é um avanço. Ao menos ele não emitiu um juízo negativo. Ele tem se mostrado muito poroso a avanços, a novidades, até incitando os jovens a se manifestarem, reivindicarem seus espaços de poder. Acho que os gays se sentem, no mínimo, reconfortados.
Dom Dadeus Grings
Arcebispo metropolitano
Essa foi sempre a doutrina da Igreja. Achei positivo, mas não tem algo novo ou inusitado. Alguns nascem com uma tendência para esta linha (homossexual). Se a pessoa tem uma tendência inata, tanto hétero quanto homossexual, isso se aceita. O problema é quando há escândalo. Não é privilégio dos gays fazer escândalo, os héteros também fazem. Quando os gays fazem escândalo em público, como lá no Rio, durante a Jornada, quebrando imagens de santo, eles querem tumulto. A pessoa é pessoa em si mesma, não pelo sexo.
Norton Cezar Dal Follo da Rosa Junior
Psicanalista, membro da Assoc. Psicanalítica de Porto Alegre
Ele lança a questão a todos nós: quem é ele e quem somos nós para julgar a homossexualidade? O ponto chave nessa declaração é abrir mão da ideia de julgamento da sexualidade humana, seja ela qual for. Ele também diz que não podemos marginalizar as pessoas. Não é mais possível hoje qualquer ideia de marginalização da homossexualidade. Por muitos anos, a Igreja tomou a homossexualidade como pecado, desvio de norma, déficit moral. Ele começa a colocar em cena alguns problemas que até então eram internos da Igreja.
Carlos Magno
Presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT)
Fiquei feliz com a declaração, me surpreendeu. Só pelo fato de não atacar a comunidade gay já ajuda muito. Já me dá uma esperança de que a igreja possa, futuramente, mudar. Acho que abre uma porta, uma esperança. A Igreja precisa assumir o debate sobre os direitos da comunidade, não pode mais ter essa posição tão fechada, de exclusão. A Igreja não está dialogando com a sua própria base. Tem muito homossexual na base da Igreja. Tem famílias com filhos ou algum outro parente, também católico, que é homossexual.
Frei Luiz Carlos Susin
Professor de Teologia na PUCRS
Não é uma mudança do ponto de vista moral, a mudança é de ordem pastoral. É extremamente positiva para marcar uma posição, não de ordem normativa, mas de ordem pastoral, de respeito, de confiança. Ele tem uma visão que não é a de querer fazer frente ao problema como se fosse o dono da verdade. Confia na consciência e na intenção de cada um de buscar o caminho mais certo para a sua vida. Não é que o Papa vai dizer que pode ou não pode o casamento gay. A meu ver, ele está reconhecendo que isso não compete à Igreja.
Cristiana Serra
Integrante do grupo Diversidade Católica
A gente ficou muito feliz. Na verdade, o que Bergoglio fez foi confirmar o que, há anos, já é a doutrina oficial. Muitas vezes, a gente tem uma visão da Igreja como se fosse homogênea, e ela não é. Não pode haver violência e exclusão. Muitas vezes as pessoas criticam a Igreja, com razão, por ter atuado como instância de poder e de controle, e daí um papa, no início do século 21, diz que não cabe a ninguém julgar. Ao mesmo tempo em que isso é uma total e absoluta novidade, é o que está na mensagem original, no fundamento da fé católica.
Jorge Hartmann
Frei franciscano e comissário da Terra Santa no Rio Grande do Sul
O Papa abriu um leque de possibilidades, e agora com a porteira aberta, vai ser difícil segurar. É um tabu enorme, mas, ao se referir com muita franqueza e informalidade ao assunto dos gays, ele abre caminhos novos dentro daquele temas mais polêmicos. Isso sugere à Igreja aprofundar, trocar ideias e discutir o que será um longo caminho. Eu não me espantaria se o Papa convocasse um concílio: faz 50 anos do último. O concílio dá a possibilidade de questionar toda a estrutura eclesial, e dá uma credibilidade ímpar.
Célio Golin
Coordenador do Nuances – Grupo pela Livre Expressão Sexual
Me surpreendeu positivamente. A frase é forte se comparada com as posições que o Vaticano sempre teve. Os outros papas não iam nessa linha. Eram críticos à homossexualidade. Essa posição dele parece abrir a possibilidade de outro entendimento por parte da religião. Acho que influenciará as pessoas que acreditam no discurso da Igreja Católica. Mas será que essa é a posição do Vaticano ou é uma posição mais individual do Papa? Essa é a pergunta que ainda não tem uma resposta.
Roberto Francisco Daniel
O padre Beto de Bauru (SP), excomungado pela Igreja por declarações polêmicas
A declaração de um Papa, dizendo quem é ele para julgar se uma pessoa é gay e procura Deus, já é uma abertura muito grande em termos de reconhecimento como ser humano, sem criar nenhum tipo de julgamento que possa levar a um preconceito. Isso deveria ser tratado com a maior naturalidade. Acredito que o Papa pode ajudar a mudar as estruturas da Igreja. Olha aquela declaração dele, de que o pastor deve cheirar a ovelha. O padre tem que cheirar a gente, estar no meio do povo, tem que fazer compras no supermercado, conviver com as pessoas.
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