26 Julho 2013
Nos círculos do Vaticano, a expressão "efeito Francisco" se refere à maneira como esse papa famoso pelo seu ascetismo está reduzindo a pompa da Santa Sé, dispensando os carros de luxo e outras mordomias.
A reportagem é de Stacy Meichtry, publicada pelo The Wall Street Journal e reproduzida pelo jornal Valor, 25-07-2013.
Um grupo que está se beneficiando desse regime: os fabricantes de carros de preços acessíveis. Recentemente o papa provocou críticas ao passear pela ilha italiana de Lampedusa em um Ford Focus.
Esse golpe publicitário para a Ford Motor Co., que se deu no início do seu papado, já foi superado pela Fiat SpA. Na sua primeira viagem à América Latina, o primeiro papa do Novo Mundo gerou manchetes pela sua decisão de abandonar o papamóvel Mercedes-Benz blindado e escolher um Fiat Idea prata para seu percurso inaugural pelo Rio de Janeiro.
O trajeto terminou com uma já famosa "entrada errada" que deixou o papa preso no vagaroso trânsito carioca.
Imagens transmitidas pela TV do Fiat papal cercado por uma multidão de seguidores que pressionavam contra o carro e enfiavam a mão pelas janelas para cumprimentar o pontífice foram transmitidas para o mundo todo. Os repórteres que acompanhavam cada movimento do papa procuravam descobrir a marca e o modelo do carro que era o foco central da notícia. E a escolha do carro não foi nada casual.
Há anos as montadoras lutam para conseguir que o papa entre nos seus veículos - uma versão papal de marketing de produto.
Durante o papado de Bento XVI, alemão de nascimento, a BMW AG e a Daimler AG duelaram pelo direito de criar o papamóvel branco pérola de alta tecnologia. O Mercedes-Benz, da Daimler, venceu a disputa.
A Fiat é a maior fabricante de carros do Brasil, e o país é um dos seus maiores mercados. Com a Itália, o mercado doméstico da Fiat, atolada na crise econômica, a montadora passou a contar com o Brasil para gerar seus lucros trimestrais.
Quando a viagem do papa Francisco estava sendo planejada, autoridades da Fiat no Brasil entraram em contato com a Santa Sé. O Idea foi um dos quatro carros que a montadora emprestou ao papa para sua viagem ao Brasil.
"Durante nossas conversas com autoridades do Vaticano, eles analisaram toda a nossa gama de modelos brasileiros e preferiram o Idea, devido ao seu teto alto, grande espaço interno, facilidade para entrar e sair, grande área envidraçada e simplicidade", disse o porta-voz da Fiat, Richard Gadeselli, ao "The Wall Street Journal".
A versão do Fiat Idea usada pelo papa custa R$ 45,37 mil, observou Gadeselli, dizendo que o veículo é um "típico carro para a família" e "muito popular no Brasil".
O modelo só está disponível no Brasil, onde a Fiat já vendeu mais de 212 mil unidades desde seu lançamento, em 2005. Hoje ela vende cerca de 2,5 mil unidades por mês, segundo Gadeselli. Em outras palavras, o Fiat Idea se encaixa com a imagem do papa Francisco como um homem do povo.
Autoridades do Vaticano dizem que o papa ainda não encerrou suas atividades com a Fiat. Na terça-feira, responsáveis da Santa Sé pela viagem se reuniram com ministros brasileiros e chefes de segurança para modificar o itinerário do papa ontem. Entre as mudanças: o pontífice não usaria um Mercedes-Benz aberto para chegar até um hospital no Rio de Janeiro à noite. Em vez disso, seria fiel à Fiat.
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Fabricantes de carros populares festejam despojamento de Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU