24 Julho 2013
"Peço-lhes que me ajudem nesta viagem, pelo bem, pela sociedade, pelos jovens e, principalmente, pelos idosos. Agradeço a todos vocês. Eu fico um pouco triste como o profeta Daniel, porque vi que os 'leões' não eram tão ferozes". Com essas palavras, o Papa Francisco se despediu dos 70 jornalistas, operadores e técnicos que voaram com ele de Roma ao Rio de Janeiro.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 22-07-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Bergoglio não deu uma coletiva de imprensa com perguntas preparadas, como ocorria nas viagens do seu antecessor: "Eu não dou entrevistas – explicou –, para mim é cansativo". O papa, no entanto, quis conhecer os jornalistas da comitiva, entretendo-se com cada um para uma saudação e algumas piadas.
Houve quem lhe desse um livro, outro uma bandeira do Brasil, quem falasse sobre situações pessoais, quem se limitou a lhe prestar votos ou a lhe enviar as saudações de um amigo ou parente. Francisco não estava acompanhado pelo costumeiro séquito de prelados – não estava acompanhado nem do secretário de Estado nem do Sostituto –, mas apenas do porta-voz, o padre Federico Lombardi.
Antes que o papa tomasse a palavra para uma brevíssima introdução à viagem, dedicada aos jovens, mas também aos idosos, porque – como explicou –, se os primeiros são "o futuro" da sociedade, os segundos representam a "sabedoria", Francisco foi saudado pela jornalista mexicana Valentina Alazraki, decana das viagens papais. De fato, ela participou da primeira viagem internacional de João Paulo II em 1979, no México.
"Sabemos que os jornalistas – disse na sua breve saudação em espanhol – não são santos da sua devoção. O padre Lombardi trouxe o senhor aqui entre nós na cova dos leões...". Valentina Alazraki, correspondente da Televisa, deu ao papa uma pequena imagem da Virgem de Guadalupe, padroeira da América Latina.
"Ouvi coisas um pouco estranhas – respondeu Francisco –, ou seja, que vocês não são santos da minha devoção, e que eu viria aqui entre os leões... Mas vocês não me parece tão ferozes". O papa, então, falou do significado da viagem, com um pensamento voltado à crise global: "Corremos o risco de que haja uma geração sem trabalho. Do trabalho vem a dignidade de uma pessoa...".
Depois, mencionou a "cultura do descarte" em que vivemos, a cultura que "descarta" os idosos e, agora, também os jovens. "Ao invés, é preciso – disse – uma cultura da inclusão, do encontro, para que todos estejam na sociedade".
Logo depois da breve introdução, os jornalistas desfilaram um por um diante do pontífice, que, sem pressa, cumprimentou os seus companheiros de viagem, "leões não ferozes". Depois, antes de abandonar a cauda do avião onde os jornalistas viajavam, pediu-lhes que o ajudassem, que se tornassem seus aliados, "pelo bem", pelos jovens e, principalmente, pelos idosos.
Uma aliança entre o papa e os meios de comunicação que não é uma novidade, pois "João Paulo II já a havia proposto", explicou o padre Lombardi.