17 Julho 2013
Para a história, ele voltou de Lampedusa depois do abraço naqueles que fogem de desespero. Até mesmo os maçons das nossas rejeições se resignaram a fazer comentários agradáveis. É difícil remar contra quem comove o mundo. Ele está partindo para o Rio, onde um milhão de jovens chegam de todas as partes para a festa da juventude, viagem a um Brasil agitado por revoltas que lembram as praças da Europa dos anos 1960.
A reportagem é de Maurizio Chierici, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 16-07-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A pequena burguesia cresce no desgosto pelo esfacelamento de uma esquerda entorpecida por 10 anos de poder. Um mês de protestos sem líderes, sem bandeiras, sem partidos. Tropas de elite, divisas pretas, desencadeadas na violência reservada aos traficantes das favelas: 60 jovens do Leblon, boas famílias, o bairro de ouro depois de Ipanema, 60 jovens algemados, rostos enfiados na areia para deixar claro que, sobre a Copa do Mundo e as Olimpíadas, o Brasil quer construir as eleições de 2014.
Um sacrilégio imaginar que o futebol não serve como distração de massa enquanto o PIB cai dos 7,5% de 2010 a 0,9% de um ano atrás. Os sindicatos tentam competir agitando os mesmos protestos, mas a desconfiança permanece. Cerca de 70% dos brasileiros têm menos de 27 anos. Não confiam nos políticos enfileirados nas TVs dos mesmos donos.
E aí vem Francisco, quase um encontro do destino. Primeiro papa sul-americano, primeiro papa de casa nas villas miserias quando era cardeal em Buenos Aires. No Brasil, o que ele vai dizer? Ele preparou a missão ouvindo o cardeal Hummes que cresceu com Lula em torno de São Paulo. E Hummes anuncia a simpatia do papa para aqueles que reivindicam a dignidade que "o Evangelho garante a cada ser humano".
Ele encontrará um acordo com os protagonistas do protesto? Talvez ele confortará as promessas tardias da presidente Rousseff, tolerância zero contra o nepotismo e as mãos longas. Violência nunca. E distinguindo a concretude dos governos da espiritualidade da Igreja. Até que ponto, porém?
Talvez, ele indicará novas esperanças sem afundar contra o egoísmo dos católicos conservadores que prosperam no país mais católico do mundo. No Brasil, o Pe. Giussani também havia posto seus olhos. Em 1984, ele enviou à Universidade do Rio o padre Filippo Santoro, pupilo do Comunhão e Libertação. A sua parábola brasileira continou até 2011, quando (o primeiro na história) voltou para o velho mundo: deixou o bispado de Petrópolis para se tornar arcebispo de Taranto. Para uma certa parte do Vaticano, ele poderia se tornar um referencial do Comunhão e Libertação no caso da ascensão do cardeal Scola ao papado.
A guarnição Comunhão e Libertação continua sendo importante para além-mar: Giuliano Frigeni, bispo de Parintins, Guido Zendron, arcebispo de Salvador, raiz na Cúria de Trento, e Giancarlo Petrini, bispo de Camaçari. O Comunhão e Libertação participa da organização do encontro mundial. Vende a 760 reais os bilhetes que a Igreja brasileira (sobre a qual pesam todos os custos) concede a 608 reais, 52 euros de lucro por uma intermediação que não prevê valores agregados.
Francisco deverá indicar o caminho ideal, sem insistir na degradação da política, lenha na fogueira em um momento tão difícil. Ou nos integralismos que animam não só os encontros brasileiros, mas também os compromissos dos amplos acordos italianos.
É preciso dizer que, no país dos mil problemas, a segurança de um papa que se mistura com as pessoas não deixa Brasília dormir. Estratégias muito severas, embora invisíveis, para não perturbar a relação entre Francisco e os jovens que buscam o futuro. Um triunfo como Lampedusa?
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A ''terrível'' viagem de Francisco ao Brasil - Instituto Humanitas Unisinos - IHU