16 Julho 2013
Com mais de 100 dias de pontificado, o papa Francisco quer uma mudança na estrutura da Igreja católica no mundo. Para esta tarefa, confiou numa comissão de cardeais, coordenado pelo arcebispo de Tegucigalpa, Oscar Rodriguez Maradiaga. Nesta entrevista ao jornal La Nación, o purpurado sustenta que é preciso “reduzir” a estrutura da Cúria, e que Francisco “não vai ceder ante pressões”.
A entrevista é reproduzida por Religión Digital, 14-07-2013. A tradução é de Benno Dischinger.
Eis a entrevista.
Na Costa Rica abriu-se a discussão sobre a separação Igreja e Estado. Que opinião lhe merece este tipo de debates?
Creio que se interpreta mal o tema. A maioria da Igreja católica está composta por leitos. A separação entre ambas as instituições não significa confrontação. O Estado laico não tem por que ser inimigo da Igreja católica, porque os cidadãos são os mesmos. Essas discussões decorrem de ressaibos do passado. Eu prefiro construir no positivo.
Que aspectos urge mudar na Igreja católica?
O que motivou a reforma na Cúria é que o Santo Padre necessita informação completa das bases dos continentes. É uma estrutura muito grande e se requer mais agilidade.
Quando você fala de falta de agilidade, reconhece que a instituição padece de burocracia?
Exatamente, e é uma burocracia que cresce com o tempo. Não se podem tomar decisões com a rapidez necessária.
É esta reforma uma crítica a um capitalismo expresso na cúria romana?
Bem, eu não diria capitalismo, mas no transcurso do tempo a cúria tem ido transformando-se como um reino antigo e tudo isso não fala muito ao mundo de hoje. Me parece muito importante que o Papa Francisco esteja pregando a simplicidade com seu exemplo.
É um gesto que se opõe à vida sacerdotal em opulência?
Se nos damos conta das crises em que está vivendo o mundo, vemos desde logo que a opulência é um total insulto.
Crê que, com este novo gesto, o Papa pede aos sacerdotes manterem-se longe da vida em opulência?
A grande maioria de sacerdotes vivemos na pobreza. Não conheço quem viva em opulência.
Por que você crê que o Papa denuncia uma ‘corrente de corrupção’ no Vaticano?
Porque não se pode tapar o Sol com um dedo. Havia muitas coisas que têm sido denunciadas. Ele quer acabar com muitos rumores e vale a pena por o dedo na chaga para que se cure.
Essa cura se refere à corrupção no Banco Vaticano e ao ‘lobby gay’ que denunciou o Papa?
Não posso dizer-lhe nada do lobby gay, porque eu não vivo no Vaticano e não conheço tanto a vida em seu interior. Mas, posso dizer-lhe que há muita gente santa na cúria, mas também entendo que haja coisas negativas. Eu não posso dizer-lhe nada do lobby gay, porque eu não vivo no Vaticano e não conheço tanto a vida em seu interior. Mas, posso dizer-lhe que há muita gente santa na cúria, mas também entendo que haja coisas negativas. É explicável, porque também somos seres humanos e temos nossos defeitos. Mas, não há lugar no ministério da fé para uma pessoa com esse tipo de comportamentos; isso é quase uma contradição com o que deve fazer. Não se despreza ninguém, mas a mensagem do Evangelho é muito clara. Se uma pessoa tem esse tipo de comportamento, não é esse o lugar adequado para ele.
Um tema que é preciso atacar é o manejo das finanças do Banco Vaticano...
Sim, o mais importante é a transparência. Se dizem que é uma fundação e não um banco, pois que atuem como fundação. Se suspeita que há pessoas, principalmente da Itália, que se aproveitavam do Banco Vaticano para esconder capitais e às vezes se tem dito que poderia ter-se prestado para lavagem de dinheiro.
É reflexo de uma combinação entre política e religião?
Sem dúvida, há grupos de poder por trás. Não nos esqueçamos de que, desde um passado, o Estado pontificio foi um poder político.
Tomando em conta que há grupos de poder por trás, não crê que o Papa sofrerá pressões?
Imagino que vai haver quem procure pressionar, mas o Papa não é uma pessoa que vá ceder ante pressões. Eu o conheço há muito tempo e sei que, quando ele está consciente de que precisa fazer algo, ele o faz segundo sua consciência e a voz de Deus. Ele não vai ter medo de coisa alguma.
Você tem medo de algo ou de alguém nessa reforma?
Não, ao contrário, me sinto pleno de esperança.
Que mensagem deixa entrever que os líderes eclesiásticos que manejavam esta estrutura tenham renunciado?
Creio que era algo muito lógico. Se você já não tem a confiança das pessoas, como vai prosseguir trabalhando para esse organismo? Foi uma decisão muito oportuna.
No discurso, o Papa critica ‘estruturas frágeis’ na Igreja católica. Quais são essas estruturas e o que é preciso reformar?
Não saberia dizer-lhe. A cúria cresceu muito e há muita burocracia. Isso é preciso corrigir.
A reforma implicará em reduzir as vagas na cúria?
Sem dúvida alguma, creio que vão ter que ser reduzidas.
Haverá alguma reproposição em doutrina sobre aborto, fecundação in vitro, homossexualidade?
Não, isso já será muito mais adiante, de modo que por ora não estamos nessa temática. Há coisas muito mais urgentes. Primeiro é a estrutura, depois virá a doutrina.
Contudo, o Papa Francisco também dá prioridade à doutrina no chamado a que o sacerdócio saia do templo...
Sim, é certo. Ele usou a imagem tão bonita de que devemos ter “odor de ovelha”. Mas, a doutrina virá depois; primeiro vamos escutar e mudar a estrutura da cúria.
Para ter esse ‘odor de ovelha’, o que devem fazer os sacerdotes para que haja uma identificação com a mensagem de fé?
Devemos aproximar-nos mais e é uma aproximação de todos, não só dos sacerdotes. Na medida em que haja mais participação para o laicato, a nova evangelização será um êxito.
Ver-se-ão refletidos os países centro-americanos nesta reforma do ‘Papa dos pobres’?
Creio que sim e muito. Há um interesse profundo pela simplicidade e em simplificar as coisas.
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Maradiaga: “A cúria cresceu muito e há muita burocracia. É preciso corrigir isso” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU