Por: Cesar Sanson | 08 Julho 2013
Depois de três anos seguidos de queda no desemprego, a perspectiva para este ano é que a taxa média se estabilize no nível de 2012 ou até volte a subir. Vários indicadores do mercado de trabalho já dão sinais de perda de dinamismo e o modelo econômico baseado no consumo começa a ter impacto na ocupação. A taxa média de desemprego de 2012 foi de 5,5% da População Economicamente Ativa (PEA), a mais baixa dos últimos anos.
A reportagem é de Márcia de Chiara e publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, 07-07-2013.
"A fase de boom do mercado de trabalho ficou para trás. Aquela situação espantosa de 2012, com o emprego aquecido e a economia fraca pode estar passando por um ponto de inflexão", afirma o economista da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), Eduardo Zylberstajn.
Ele notou alterações recentes no comportamento de dois indicadores que podem indicar mudanças importantes no mercado de trabalho. O primeiro é o Índice de Pressão Salarial, calculado pela Fipe, com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Esse indicador mede a relação entre o salário médio de admissão e o salário médio de desligamento.
Em janeiro de 2013, essa relação era de 97%. Ou seja, o salário de admissão era apenas 2,8% menor do que o salário médio de desligamento, refletindo a dificuldade de recrutar mão de obra. Mas desde fevereiro, observa Zylberstajn, essa relação vem caindo e em maio foi de 93%. Significa que o salário de admissão é 6,6% menor do que o de demissão. O economista ressalta que a relação é ainda muito elevada, mas essa queda pode ser um indício de mudança.
Zylberstajn também destaca outro indicador que pode estar sinalizando uma transição, que é a fatia de trabalhadores que pediram demissão em relação ao total de demitidos. Esse índice espelha o ímpeto do trabalhador de pedir a conta porque acredita que vai conseguir um emprego melhor.
Em dezembro de 2007, esse indicador acumulado em 12 meses estava em 21%, fechou dezembro do ano passado em 29,1% e desde então permanece estável e com tendência de queda. "O ímpeto do trabalhador que vai conseguir um emprego melhor está perdendo força", diz o economista.
Moderação
"O momento é de moderação do mercado de trabalho", afirma o economista da LCA Consultores, Fábio Romão. Ele pondera que ainda não dá para afirmar que o mercado de trabalho esteja "virando" porque a taxa de desemprego ainda é historicamente muito baixa. Mas a perspectiva é de que a taxa se mantenha neste ano no mesmo nível da de 2013, com risco de alguma elevação. "É sinal de que algo diferente está acontecendo no mercado de trabalho."
Romão sustenta essa análise com o resultado de alguns indicadores. O primeiro é a ocupação, que cresceu apenas 0,1% em maio ante o mesmo mês de 2013. Essa foi a menor variação anual desde outubro de 2009, quando ocorreu a crise. No ano passado, o estoque de trabalhadores ocupados aumentou, em média, 2,1%.
"A ocupação despencou", diz o economista da LCA. Ele atribui esse resultado ao processo de retenção de mão de obra que houve em 2012 na expectativa de que ocorresse uma recuperação. A dificuldade de encontrar trabalhadores qualificados somada ao alto custo de demitir mitigou as contratações no início deste ano. Romão acrescenta que houve menor variação dos rendimentos em termos reais. O crescimento real da renda em maio foi de 1,4% em relação ao ano passado. Na média de 2012, o rendimento real tinha aumentado 4,1%.
"Entre janeiro e abril, todos os setores tiveram desempenho ruim, mas a indústria era um contraponto", diz Romão. Em maio, no entanto, observa o economista, o resultado foi diferente e a indústria teve desempenho ruim. "Isso preocupa porque a indústria é mais reativa: é o primeiro setor que reage quando há mudanças, tanto para cima como para baixo", afirma ele.
Negociações
O coordenador de relações sindicais do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), José Silvestre, concorda com Romão: "É possível que tenhamos neste ano uma taxa de desemprego maior". Mas ele ressalta que não faz projeções para esse indicador.
De toda forma, Silvestre constatou que o mercado de trabalho está perdendo fôlego e cita como um indicador desse movimento o porcentual menor de categorias que conseguiram reajustes salariais acima da inflação no primeiro trimestre deste ano, o último dado disponível.
Entre janeiro e março, 87% das categorias obtiveram dissídios acima da inflação e o índice médio de reajuste foi de 1,4%. No primeiro trimestre do ano passado, foram 94,6% das categorias que estavam nessa condição e o índice era de 1,96%. "Muitos sinais erráticos da economia devem ter impacto nas negociações salariais", diz o economista. Ele acredita que a tendência do primeiro trimestre seja mantida.
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Mercado de trabalho dá sinais de desaquecimento - Instituto Humanitas Unisinos - IHU