25 Junho 2013
Desta vez, Ludwig van Beethoven e a sua Sinfonia nº. 9 em Ré menor ficaram sozinhos. Ou, melhor, sem o convidado principal, Papa Francisco, ausente por "uma incumbência urgente e improrrogável". A cadeira vazia, no centro da sala, foi imortalizada por todas as TVs. Símbolo de um papa que não pode (ou não quer) estar lá, porque tem que trabalhar duro e não tem tempo para representações supérfluas.
A reportagem é de Gianni Di Santo, publicada no jornal L'Unità, 24-06-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Na realidade, é preciso escolher o novo secretário de Estado: entre os favoritos, está o cardeal Giuseppe Bertello, presidente do Governatorato e um dos membros do grupo dos oito cardeais que estão preparando, já não mais em grande segredo, a tão esperada reforma da Cúria. É preciso se ocupar com o IOR, o banco vaticano.
Recentemente, encontrando-se com os padres escritores da Civiltà Cattolica, a histórica revista dos jesuítas que publica artigos vistos e certificados pela Secretaria de Estado, ele pediu a eles uma ajuda para saber contar uma fé que dialogue com o ser humano de hoje. Porque há muitas coisas a fazer, disse ele na ocasião, e, não menos importante, a troca da classe dirigente.
Resistência
O que vai acontecer, perguntam-se do outro lado do Tibre, a partir de agora com o papa que veio de longe? Enquanto Francisco continua o seu anúncio do evangelho todos os dias da residência e da capela de Santa Marta, com uma força interior e uma linguagem simples que agrada aos fiéis, entre os seus "súditos" há também quem tente organizar uma resistência.
Na Cúria e nos palácios que contam com um Bergoglio tão "jesuiticamente" em forma, não se esperava isso e principalmente não se havia calculado a sua simpatia humana, que se revelou até agora esmagadora. Às vezes, até mais do que a de Wojtyla, o papa comunicador. "Que fale, então", sussurram alguns.
O importante é que ele não perturbe os delicados equilíbrios curiais, que não feche o IOR, que não se intrometa, em suma, nos órgãos, cúpulas, carreiras. Mas Francisco nunca perde uma oportunidade para estigmatizar aqueles que pensam que a Igreja é uma ONG: em outubro próximo, está prevista a primeira reunião da comissão de oito cardeais que deverá mudar o rosto da Cúria Romana, e sobre o IOR ele já indicou que do jeito que está não vai, nomeando um homem de sua absoluta confiança, Dom Battista Ricca, como prelado interino do Instituto para as Obras de Religião.
Com o dinheiro, o Papa Francisco não pretende brincar. Depois de cortar as indenizações aos empregados vaticanos pela eleição pontifícia, o papa quis intervir pessoalmente eliminando a compensação normalmente devida aos cinco cardeais que compõem a comissão de vigilância do IOR: 25 mil euros, não poucos.
E já se fala, nas salas secretas, de uma redução significativa do chamado "prato cardinalício", o salário dos cardeais: 5 mil euros por mês é demais, que eles se adaptem à crise financeira e se lembrem, acima de tudo, de que são servos da Igreja.
Uma grande lufada de novidade. Àquela cadeira vazia no concerto de gala corresponde uma presença cotidiana na missa da manhã em Santa Marta. E um anúncio do evangelho que se torna incumbente. A renovação também se referirá à classe dirigente eclesiástica, bispos, cardeais e, não por último, o modo como são geridos os seminários.
Além disso, na linha da resistência "silenciosa" há muitos presbíteros. Eles parecem assustados, assustados com o "sopro do Espírito", assustados com a novidade. Alguns talvez temem perder a primazia eclesiástica com relação ao resto dos fiéis leigos. Na abertura do Congresso Diocesano de Roma do dia 17 de junho, do qual participaram 10 mil leigos e poucos sacerdotes, diante de um radiante cardeal Vallini, em grande sintonia pastoral com o papa, Francisco havia sido claro demais: "A Igreja é mãe, não babá". E ainda: nas paróquias, muitas vezes há alguns que se apressam a "pentear a sua ovelha", enquanto se esquecem das outras 99.
Na web, também se podem ouvir os críticos, mas é principalmente no boca a boca cotidiano, durante certas reuniões pastorais, nas homilias um pouco "empacotadas" que alguns fazem passar a ideia de que esse papa diz coisas óbvias de um modo "espanholizante". As mesmas coisas do Concílio Vaticano II que, durante muito tempo, ficaram esquecidas demais.
Há um medo terrível que corre entre alguns presbíteros: que o apelo de Francisco a "sair das igrejas" produza uma ruptura no status sacerdotal – naquela verticalidade Deus-padre-fiel que remonta às origens da história, mas que precisa de uma constante proteção intraeclesial. Será preciso tempo para mudar isso, como diz Francisco, mas o caminho parece marcado.
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Quem resiste a Francisco? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU