Por: Cesar Sanson | 25 Junho 2013
Para movimentos sociais e partidos ligados ao governo, o melhor é manter esquerdas juntas, se situação for para o confronto, mas ir para as ruas agora pode reacender mobilizações.
A reportagem é de Maria Inês Nassif e publicada pela CartaMaior, 24-06-2013.
Mais de 80 instituições da sociedade civil – movimentos sociais, centrais sindicais, sindicatos e partidos de esquerda – se reuniram na noite de sexta-feira (21), no Sindicato dos Químicos de São Paulo, para discutir uma contraofensiva ao que se configura, segundo eles, uma instrumentalização da mobilização que tomou as ruas, nas últimas semanas, por forças de direita e extrema-direita. A reunião foi convocada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) e, embora não tenha conseguido avançar em um programa mínimo de luta de esquerda, foi considerado como um primeiro passado para a construção de uma unidade dos movimentos, de forma a reunir forças que apoiam o governo e movimentos e partidos que hoje estão na oposição ao PT. Os esforços de unidade continuam na próxima semana, depois de uma reunião que ocorrerá amanhã, pela manhã, entre as centrais sindicais.
O fator deflagrador da reunião de sexta-feira foram as mobilizações de rua ocorrida na quinta-feira, em São Paulo e em outras cidades do país, onde foi evidente a ação de grupos organizados contra partidos políticos presentes aos atos. Há preocupação também com o acúmulo de bandeiras de cunho conservador que passaram a frequentar as ruas do país, como as críticas ao Programa Bolsa Família (o programa é tratado como Bolsa Esmola), as palavras de ordem de “Fora Dilma” e a propagação, como rastilho de pólvora, da bandeira contra a corrupção – desde 2005, quando estourou o escândalo do chamado Mensalão, ela foi hasteada pelos partidos conservadores contra o governo petista, manteve o PT na defensiva durante esse período e encontrou terreno mais fértil após a condenação dos réus do caso pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A unidade, todavia, tende apenas a se consolidar se os movimentos de rua não arrefecerem esta semana. A Central Única dos Trabalhadores (CUT), durante a reunião de sexta, conseguiu adiar uma proposta das organizações mais à esquerda de ir para as ruas na próxima semana, em um dia nacional de luta. O presidente da CUT, Vagner Freitas, condicionou a posição da entidade à decisão do Fórum das Centrais, que se reunirá amanhã de manhã e instância à qual cabe tomar as decisões conjuntas das centrais de trabalhadores. O presidente do PT, Rui Falcão, propôs como referencial de unidade “a defesa da democracia e dos avanços obtidos pelo país”.
“Nos Estados, orientamos nossos diretórios a replicar reuniões como essas e convidar militantes e movimentos sociais. Para combater a direita é preciso organização e disciplina, não de voluntarismo”, disse Falcão.
Ir ou não para as ruas é, todavia, muito mais do que disputar a cabeça dos jovens, para o conjunto de movimentos presentes. As organizações mais ligadas ao governo estão num impasse: não podem desmobilizar aliados possíveis para uma futura guerra política, pois ela é fundamental se ocorrer uma tendência irrefreável à adesão dos manifestantes de rua ao antigovernismo e se a bandeira “Fora Dilma” ganhar os manifestantes de hoje. Contudo, se durante a semana as manifestações de rua começarem a arrefecer, uma grande mobilização marcada pelas esquerdas pode deflagrar nova onda de manifestações. Ganhar tempo é fundamental para avaliar se é mais prudente deixar passar a onda ou ir para a rua disputar as cabeças e simpatias dos jovens.
Para os movimentos mais à esquerda, contudo, o momento é de disputa política. Desde o início dos governos petistas, essas organizações, embora mantenham diálogo dentro do Palácio do Planalto, estão constantemente sujeitos à agenda da grande coalizão de governo – e, via de regra, têm suas principais reivindicações relegadas ao segundo plano. “Sempre somos convidados para o cafezinho, mas do cafezinho nunca sai nada de concreto”, conta um militante.
É o caso do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), que não tinha uma boa relação com o governo Lula, hoje mantém acesso ao governo Dilma via ministro Gilberto Carvalho, mas nunca foi oficialmente recebido pela presidente (o que, no entender do movimento, daria à organização uma demonstração de força e seria um contraponto para a excessiva força que teria junto ao governo a Confederação Nacional da Agricultura, CNA, presidida pela senadora Kátia Abreu). De outro lado, a exemplo do que tem acontecido em todas as eleições desde 2002, boa parte dessas organizações continuará apoiando o PT, se a situação política recolocar uma polarização entre o partido de Dilma e o PSDB. Na avaliação deles, os governos tucanos não apenas foram absolutamente impermeáveis às reivindicações dos movimentos sociais, como criminalizaram suas lutas.
A agenda conservadora que incomoda as organizações de esquerda, todavia, não são meramente corporativas. Durante os discursos das entidades, os oradores mostraram preocupações que vão além da intolerância das mobilizações de jovens contra partidos, sindicatos e movimentos sociais. Foi recorrente a sugestão de inclusão na agenda a regulamentação da mídia, reforma política, mais recursos para a educação e para a saúde e a oposição à agenda conservadora que tem sido colocada pela bancada evangélica no Congresso. Às organizações com um perfil mais nacionalista reclamaram também do que seria um processo de “desnacionalização” da economia por meio de excessivas concessões ao poder privado.
A reunião foi interrompida durante a transmissão do discurso da presidente Dilma Rousseff em cadeia nacional. Seu pronunciamento foi bem recebido – e ela foi especialmente aplaudida quando anunciou que proporia a destinação de 100% dos royalties do petróleo do Pré-Sal para a educação.
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