Por: André | 19 Junho 2013
Quase cinco anos depois do início das medidas de desoneração de impostos para a compra de veículos, o governo federal se vê acuado pela pressão popular para beneficiar também os usuários do transporte coletivo. Em 2008, o Planalto reduziu as alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre diversos produtos, incluindo automóveis, como medida de estímulo ao consumo.
A reportagem é de Fernanda Trisotto e publicada na Gazeta do Povo, 19-06-2013.
Além de movimentar a economia, a medida resultou em um crescimento expressivo nas vendas e a consequente motorização das grandes cidades. Entre 2008 e 2012, houve um aumento de 30% do número de licenciamentos de carros novos, de acordo com o Anuário da Indústria Automobilística Brasileira edição 2013.
Ao considerar apenas o número de automóveis, a frota brasileira chegou a marca de 43.541.296 unidades em abril de 2013, um aumento de 42,4% frente ao mesmo período de 2008, de acordo com dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Em Curitiba, houve crescimento de 23,4% da frota no período.
Consequências
O professor da UnB José Matias-Pereira, especialista em administração pública, alerta que ao usar determinados estímulos para uma área, pode-se gerar consequências negativas em outras. “Quando olhamos todo esse estímulo da indústria automobilística, um setor industrial com enorme poder de pressão e influência, você acelera o processo de deterioração da qualidade de vida nos centros urbanos”, pondera.
Desse modo, a tendência da frota de veículos é continuar crescendo, mas sem um enfrentamento dos outros problemas, como o transporte público. “Fica claro que os governantes estão girando em torno de si mesmos e não enfrentam os problemas de qualidade de vida nos centros urbanos, como capacidade de circulação e segurança pública. Isso também motiva as pessoas a reagir contra os governantes”, analisa.
O caso do transporte é a gota d’água da insatisfação, já que mesmo com a redução de tarifas, o serviço ofertado é de baixa qualidade, muitas vezes. “A solução é os governantes trabalharem com planejamento de longo prazo e estratégico para pensar o Brasil e o planejamento urbano de maneira mais racional, não é apagar incêndio quando ele aparece”, afirma.