25 Mai 2013
Ignorados os convites dos colaboradores à prudência: "Ocupemo-nos dos pobres, não das carreiras". "Que o pastor não se transforme em funcionário ou em um clérigo de Estado preocupado mais consigo mesmo, com a organização e com as estruturas, do que com o verdadeiro bem do povo". É um discurso sóbrio, curto, mas muito claro o que o Papa Francisco proferiu nessa quinta-feira à noite na Basílica de São Pedro aos bispos italianos reunidos em assembleia.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no jornal La Stampa, 24-05-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Uma intervenção que marca uma ruptura com o último quarto de século de discursos papais à Conferência Episcopal Italiana (CEI), não entra no mérito das questões italianas específicas e representa um forte apelo à radicalidade evangélica, quase uma "regra" sobre como deve ser o bom bispo: capaz de "inclinar-se sobre as pessoas" e não um administrador preocupado com a organização. Uma meditação, disse Francisco, que "eu faço primeiro a mim e depois compartilho com vocês".
O papa fez ecoar por duas vezes a pergunta de Jesus a Pedro: "Tu me amas? És meu amigo?". Uma pergunta "dirigida a cada um de nós". A única questão "verdadeiramente essencial, premissa e condição" para ser pastores, explicou Bergoglio, é "viver do Senhor", estando dispostos "ao abaixamento e à doação total", até o dom da própria vida.
"Nós não somos expressão de uma estrutura – explicou – ou de uma necessidade organizativa". E a falta de vigilância, acrescentou, torna o pastor "tépido", torna-o "distraído, esquecido e até mesmo impaciente; o seduz com a perspectiva da carreira, a tentação do dinheiro e os compromissos com o espírito do mundo; o deixa preguiçoso, transformando-o em um funcionário, um clérigo de Estado preocupado mais consigo mesmo, com a organização e com as estruturas, do que com o verdadeiro bem do Povo de Deus".
"Corre-se o risco, então", como Pedro, "de negar o Senhor, mesmo que formalmente nós o apresentemos e falemos em seu nome". Palavras severas, que traçam uma espécie de perfil negativo do que um bispo nunca deve ser. O papa, portanto, convida os bispos a não se deixar levar pela confusão e pela frustração, lembrando que desses sentimentos "o Inimigo, o Diabo, se aproveita, para isolar na amargura, na lamentação e no desencorajamento". E pede a eles que sejam "livres dos pesos que dificultam a sã celeridade apostólica e sem hesitações na orientação", falando a todos, tanto aos que creem quanto aos que não creem.
Ser pastores, explica Francisco, significa "caminhar no meio e atrás do rebanho: capazes de ouvir o silencioso relato de quem sofre e de manter o passo de quem teme que não irá conseguir; atentos a reerguer, a tranquilizar e a infundir esperança. Do compartilhamento com os humildes, a nossa fé sai sempre reforçada: deixemos de lado, portanto, toda forma de presunção, para nos inclinarmos" sobre as pessoas.
Não falta uma indicação precisa e concreta: a atenção aos sacerdotes. Bergoglio pede que os bispos mantenham o "coração", a "mão", a "porta" abertos para eles "em toda circunstância". A meditação papal conclui com uma oração a Nossa Senhora, à qual ele pede para despertar "do torpor da preguiça, da mesquinhez e do derrotismo".
No início da celebração, respondendo à saudação do cardeal Angelo Bagnasco, Francisco disse que os bispos italianos também têm a tarefa "do diálogo com as instituições culturais, sociais e políticas", e também devem trabalhar para "reduzir o número das dioceses". A referência ao diálogo com a política marca uma mudança de rota significativa à carta enviada em 2007 pelo secretário de Estado, Tarcisio Bertone, ao neopresidente da CEI, Bagnasco, com a qual o Vaticano reivindicava a gestão dessas relações. E, portanto, pode-se esperar para o futuro que, do outro lado do Tibre, irão diminuir os "endossos" e as "oportunidade de foto" para os políticos italianos.
Com a meditação dessa quinta-feira, toda escrita por ele, sem aceitar o conselho dos colaboradores que queriam deixar mais redondas algumas passagens, Francisco concluiu os trabalhos de uma assembleia da CEI vivida em um tom um pouco fraco, em que não foi posta em discussão a novidade do pontificado, mas se buscou uma confirmação à linha seguida até agora. Mas o sinal da mudança de estilo e de conteúdos, como confirmado também por esse último discurso do "primaz da Itália", está diante dos olhos de todos.
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Francisco aos bispos italianos: ''Não se tornem funcionários'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU