20 Mai 2013
Diz o Apocalipse que Deus vomitará "os mornos", porque não são nem "frios" nem "fervorosos". Mais ou menos a mesma "acusação" formulada nessa quinta-feira pelo Papa Francisco, que pediu para se proteger contra os "cristãos de salão".
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada no jornal La Repubblica, 17-05-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Bruno Forte, teólogo de prestígio, arcebispo de Chieti-Vasto, foi membro da Comissão Teológica Internacional.
Eis a entrevista.
Quem são cristãos de salão?
O papa o disse. São aqueles que não têm a coragem de incomodar. Que vivem pela comodidade e pelos confortos, achatando-se sobre as lógicas do poder e da conveniência, as lógicas próprias do mundo. São aqueles que rejeitam o escândalo da vida cristã: a cruz de Cristo, Deus que se faz servo do ser humano.
Uma advertência sobretudo para Roma e para a sua Cúria?
Uma advertência para toda a Igreja. Para que se volte à radicalidade do Evangelho. Este não é o tempo de uma Igreja que busque na comodidade dos salões a sua própria vantagem, uma Igreja que renuncie ao Espírito em nome do poder ou da conveniência política.
A Igreja vive muito de carreirismo e de privilégios?
O papa pede que se abandone toda autorreferencialidade. Quem vive referindo tudo a si mesmo não ama e, portanto, vive pela carreira, pelos privilégios. Essa Igreja não é a Igreja de Jesus Cristo. O papa pede que cada fiel e todo o povo de Deus saiam de si mesmos e abracem cada periferia do mundo e também do coração, geográfica e espiritual.
Em suma, ele não quer uma Igreja tranquila?
Exato. Eu gostaria de citar aqui São Bernardo, que diz que "é amarga a vida da Igreja quando é perseguida pelos tiranos; ainda mais o é quando é dividida por causa dos hereges; mas atinge o seu clímax quando está tranquila e em paz". Se a Igreja está tranquila significa que algo está errado...
A chegada de Francisco mudou e está mudando muitas coisas.
A sua chegada pede uma renovação certamente também interna. É o tempo da Igreja dos pobres, da Igreja que saiba servir a todas as pessoas, começando pelos últimos. Se as prioridades são outras, a Igreja não é fiel à sua vocação e missão.
O papa pediu ao seu lado oito cardeais de diversos continentes. Uma reviravolta também aqui, para que se conduza a Igreja mais colegialmente e ouvindo a todos?
A convocação do conselho dos cardeais responde à lógica da Igreja unida na fé, capazes de manter presente e valorizar toda diversidade na comunhão colegial dos bispos ao redor do bispo de Roma e com a sua orientação. Verdadeiramente una e católica.
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Papa Francisco e a luta contra o carreirismo e os privilégios. Entrevista com Bruno Forte - Instituto Humanitas Unisinos - IHU