17 Abril 2013
Um êxodo incessante. Uma comunidade que se esvazia. Mais de 300 mil cristãos estão fugindo não só dos seus vilarejos e das cidades atingidas pela guerra, mas também dos campos de refugiados da ONU. Quem relata isso à agência AsiaNews é Issam Bishara, diretor regional da Catholic Near East Welfare Association (Cnewa) – a agência pontifícia da Congregação para as Igrejas Orientais, que ajuda os cristãos do Oriente Médio – no Líbano, Egito, Síria e Iraque.
A reportagem é de Umberto De Giovannangeli, publicada no jornal L'Unità, 16-04-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Bishara observa que nenhuma das famílias deslocadas para além das fronteiras se refugiou nos campos de refugiados da ONU na Turquia e na Jordânia, onde os deslocados são registrados como rebeldes. "No Líbano – afirma – são cerca de 1.200 famílias que encontraram refúgio nas casas de amigos ou parentes".
A maior parte dos cristãos não figuram nas listas do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR). Eles se recusam a ser identificados como parte da oposição, formada principalmente por muçulmanos sunitas. Os cristãos mantêm o seu perfil neutro, vendo-se alheios ao conflito entre rebeldes islâmicos e a facção alauíta de Bashar al-Assad. Por essa razão, eles sobrevivem sem nenhuma ajuda substancial por parte de doadores importantes como a ACNUR e a Cruz Vermelha. "Eles precisam de tudo – explica Bishara –, precisam de tudo. O único apoio que recebem é o da Cnewa".
Refugiados cristãos relatam violências de caráter confessional sofridas pelos fiéis cristãos em Deir Ezzor ou em Hassake, depois da chegada das milícias jihadistas, lembrando homicídios a sangue frio, sequestros e estupros de mulheres cristãs. "Eles querem esvaziar a Síria dos cristãos?", perguntam-se aterrorizados. Indefesos, muitos deles acabam sendo vítimas de organizações criminosas envolvidas com o tráfico de seres humanos.
Equilíbrios frágeis
"Nós não estamos preocupados apenas com os refugiados sírios, estamos preocupados com a estabilidade do país", destaca o ministro libanês de Assuntos Sociais, Wael Abu Faour. Entre os bombardeios, as operações dos atiradores, a falta de médicos e a desnutrição, os cristãos devem escolher entre a morte e "outro modo de morrer", mais lento: abandonar a própria terra.
A Igreja – testemunha à Fides o arcebispo católico maronita de Damasco, Samir Nassar – se tornou "um muro de lamentações, ao qual todos se dirigem para pedir proteção e ajuda na busca de um visto para partir". Os cristãos estão angustiados com a "indiferença e o silêncio mundial diante do seu longo e triste calvário. Estão abandonados, destinados a morrer sem poder fugir. Os consulados estão fechados há um ano e meio", diz ainda o arcebispo.
"No Domingo de Páscoa, o Papa Francisco lançou um apelo pela 'amada Síria', pela sua população ferida pelo conflito e pelos muitos refugiados à espera de ajuda e conforto. Quanto sangue foi derramado! E quanto sofrimento ainda devem ser impostos antes que se consiga encontrar uma solução política para a crise? Rezemos para que o mundo ouça a voz do Papa Francisco", é a invocação de Gregorios III, patriarca de Antioquia e de todo o Oriente, de Alexandria e de Jerusalém.
Enquanto continua crescendo na Turquia o número dos refugiados cristãos sírios que fogem da guerra civil, as autoridades de Ancara aceitaram construir um campo só para eles na província de Midyat, perto do mosteiro siríaco de Mor Abraham, informa a imprensa turca. O novo campo só para cristãos poderá acolher 4 mil pessoas, segundo o site Zaman Online. O aumento dos refugiados cristãos, segundo fontes da comunidade cristã síria, está em grande parte ligado com a progressão dos grupos fundamentalistas sunitas no norte da Síria.
Segundo a agência Fides, nos últimos três dias, mais de 500 cristãos sírios cruzaram a fronteira turca, fugindo de violências e discriminações. As igrejas e os mosteiros da região montanhosa turca de Tur Abdin, berço histórico do cristianismo siríaco, já hospedam um número de refugiados superior à sua capacidade. As comunidades cristãs siríacas do norte da Síria, informa a Fides, foram atingidas com particular fúria por violências, sequestros e saques de todos os tipos. Clãs familiares inteiros tiveram que abandonar as suas casas sob ameaça de morte.
"Os cristãos do Oriente, em grande parte, estão preocupados que, com a eventual queda de Assad, se repita na Síria o cenário de violência e de insegurança do Iraque (com o consequente êxodo dos cristãos)", diz o ministro italiano para a Cooperação Internacional e a Integração, Andrea Riccardi, retornando de uma missão no Líbano. "É preciso negociar e abrir-se à democracia, dando segurança às minorias. Os cristãos na Síria são menos de 10% e temem uma vitória dos fundamentalistas. Mas o jogo ainda está em aberto, enquanto crescem aqueles que abandonar o país: há cerca de 20 mil refugiados sírios no Líbano. Aumentarão os refugiados, com um efeito destabilizador para o país?", questiona.
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Estrada do medo: 300 mil cristãos em fuga da Síria - Instituto Humanitas Unisinos - IHU