16 Abril 2013
Na corrida de 15 minutos, o taxista fala que o trabalho está rendendo. Com o dinheiro extra do movimento nos últimos meses, ele já está quase tirando a carta de motorista. Não há blitz em Altamira. Sem fiscalização, o motorista tem o privilégio de driblar o problema de não ter licença para dirigir enquanto a rotina do trabalho acontece. Tirar a licença antes de começar a trabalhar iria atrasar a vida do taxista. Cada dia sem dirigir é dinheiro perdido.
A reportagem é de Letícia Leite e publicada pelo Insituto Socioambiental - ISA, 16-04-2013.
Em Altamira, as chuvas de março deixaram 120 famílias desabrigados. Sem ter para onde ir, mais de 50 famílias que tiveram de deixar as casas alagadas passaram dias no ginásio poliesportivo da cidade.
Fora do táxi, a lógica permanece a mesma na cidade afetada pela construção da terceira maior hidrelétrica do mundo. Os problemas devem se resolver durante, ou depois da obra. Caso contrário podem atravancar o “desenvolvimento”.
Pouquíssimas obras previstas para amenizar os impactos da construção de Belo Monte, chamadas de condicionantes de mitigação, foram plenamente executadas. Mesmo assim, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), órgão que fiscaliza o projeto, concedeu, em 2011, a licença para sua instalação. Passados 21 meses, a prefeitura da cidade diz que ao menos 40 mil novos moradores chegaram à cidade, a barragem tomou forma, os taxistas ganharam um aumento de passageiros de quase 30% .
Nos relatórios de fiscalização, os atrasos, recomendações e descrições da situação caótica da execução das condicionantes socioambientais estão registrados pelo Ibama. O ISA analisou as centenas de páginas do último relatório, publicado em janeiro, e fez as contas: apenas 19% do compromisso foi cumprido. A obra seguiu sem multas ou suspensão da licença de instalação. A empresa responsável passou pela “blitz”.
Em março, atingidos pelo empreendimento organizaram vários protestos. A maioria quer saber para onde será relocada depois de ser obrigada a sair de casa para a formação do reservatório que irá atingir a cidade nos próximos meses. A última enchente na cidade deixou 120 famílias desabrigadas. Mais de 50 pessoas passaram dias no ginásio municipal. Moradores das áreas rurais foram despejados há um ano e ainda não receberam a devida indenização. Nas ruas de Altamira, uma faixa anuncia que outro megaempreendimento pode se instalar no quintal de Belo Monte: uma das maiores minas de ouro a céu aberto do País.
A menos de 1 km do lixão está um dos terrenos adquiridos pela Norte Energia para o reassentamento dos afetados no perímetro urbano. No último relatório entregue ao Ibama, órgão licenciador e fiscalizador da obra, a empresa informou que o local já tem licença ambiental emitida e projeto de terraplanagem concluído.
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Altamira: um retrato do caos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU