Por: Jonas | 11 Abril 2013
A paralisação de advertência, por 24 horas, na manhã de ontem (09/04), pelos quase 12 mil trabalhadores da empresa estatal Codelco (que explica boa parte dos rendimentos fiscais do Estado chileno) é parte de um complexo cenário pelo o governo de Sebástian Piñera transitou, nos últimos dias. Esta semana, depois de vários dias de negociações, os trabalhadores portuários depuseram uma longa mobilização que colocou em xeque o movimento nos cais chilenos. Ato seguido, o Congresso continua discutindo uma provável destituição do ministro da Educação, Harald Beyer, e para amanhã, os estudantes anunciaram a primeira marcha nacional do ano, que promete ser massiva, levando em consideração a corrida presidencial que já está solta.
A reportagem é de Christian Palma, publicada no jornal Página/12, 10-04-2013. A tradução é do Cepat.
A importância da medida adotada pelos mineiros está nas perdas econômicas que significará para os cofres fiscais. Isto, levando em conta que a paralisação atinge todos os setores da principal empresa produtora de cobre do mundo. O presidente executivo da Codelco, Thomas Keller, avalizou, ontem, que a paralisação é “ilegal” e “não tem justificativa” Disse, além disso, que “significa que o país, e todos os chilenos, deixam de ganhar a ordem dos 35 milhões de dólares”. Junto a isso, Keller apontou certa desconfiança em relação aos motivos da paralisação: “Revisando, novamente, as demandas, estas não possuem nada a ver com a Codelco”. De sua parte, o ministro da Mineração, Hernán de Solminihac, estimou em 43 milhões de dólares as perdas.
Diego Hernández, ex-presidente da estatal e atual CEO da empresa privada Antofagasta Minerals, criticou a paralisação. “A mobilização não tem nada a ver com assuntos da produtividade. Tem a ver com temas alheios à indústria, que estão relacionados com um ano eleitoral. São temas puramente políticos, não há nada que esteja diretamente relacionado com a indústria”, disse.
As demandas dos mineiros apontam para melhores padrões de segurança e para uma nova política nacional de recuperação do cobre e do lítio, entre outras. Nesse sentido, Hernández disse que “a renacionalização” (do cobre) é uma legenda político, que provavelmente continuará neste cenário eleitoral.
Neste teatro de operações, Raimundo Espinoza, presidente da Federação de Trabalhadores do Cobre (FTC), recebeu o apoio de seu parceiro privado Gustavo Tapia, que convidou os trabalhadores para atrasar o início das jornadas nos locais controlados por particulares. No total, ontem, foram mais de 23 mil trabalhadores, da grande mineração do país, que se mobilizaram.
Os mineiros ostentam um grande poder desde os tempos de Pinochet. Em plena ditadura, fizeram parte dos poucos que se atreveram a protestar de peito aberto, mesmo quando vários dos seus foram assassinados ou desaparecidos.
No período da tarde, Raimundo Espinoza fez um primeiro balanço sobre a paralização e garantiu que “100% da Codelco está paralisada, todos os setores responderam, esperamos que a empresa entenda que não estamos aqui por esporte e que continuaremos mobilizados, caso não nos escutem”.
O dirigente acrescentou que esta paralisação é a primeira demonstração de forças que estão fazendo, não apenas a Federação de Trabalhadores do Cobre, “mas também o setor mineiro por meio das federações de particulares”.
“Não vamos aceitar nenhuma desculpa, nem carta de admoestação contra os trabalhadores mobilizados. Se isso não acontecer, iremos entrar numa nova fase de mobilização”, sentenciou.
Embora o assunto tenha se desenvolvido em regiões, principalmente no norte do Chile, a mobilização pegou de cheio o La Moneda. Nesse sentido, o presidente Sebastián Piñera advertiu que a paralisação dos trabalhadores do cobre e a acusação constitucional que a oposição apresentou contra o ministro Beyer são feitos que se não forem enfrentados com o diálogo, podem prejudicar gravemente o país.
“É muito importante reconhecer que é muito difícil construir um país e é muito fácil destruir um país e eu, como presidente de todos os chilenos, quero fazer uma advertência e manifestar minha preocupação pelo que estamos vendo nos últimos dias, por exemplo, a paralisação dos portos do Chile causou um tremendo dano para a nossa economia e para nossa criação de empregos e trabalhadores”, disse Piñera.
Acrescentou que “a paralisação do cobre também está causando um dano muito grande, as acusações aos ministros, às vezes sem fundamentos ou com graves erros, também podem causar um grave prejuízo. É necessário fazer esta advertência, porque eu vi muitos países que se desencarrilharam simplesmente porque as pessoas não se davam conta do quanto é fácil destruir um país e como é difícil construir um bom país para todos”.
Segundo o presidente, “o mundo está vivendo tempos difíceis, a crise econômica de 2008 ainda não acabou e ninguém sabe quando irá terminar. A Europa continua em recessão, a recuperação dos Estados Unidos continua sendo frágil e errática e, inclusive, os principais países da América do Sul, como Argentina e Brasil, estão sofrendo fortemente os efeitos desta crise internacional”.
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Greve dos mineiros no Chile - Instituto Humanitas Unisinos - IHU