09 Abril 2013
O impacto da mudança do clima vai criar um ambiente de maior insegurança energética a médio prazo no Brasil e é preciso assegurar a oferta complementar de energia por meio de outras fontes além da hídrica. Usinas com reservatórios conseguem gerenciar melhor sua vulnerabilidade do que aquelas a fio d'água. A preocupação climática deve estar na agenda de planejamento e estratégia das empresas.
A reportagem é de Daniela Chiaretti e publicada pelo jornal Valor, 10-04-2013.
Essas recomendações fazem parte do "Estudo sobre adaptação e vulnerabilidade à mudança climática: o caso do setor elétrico brasileiro", desenvolvido pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), uma rede de 77 grandes empresas nacionais e globais que responde por mais de 40% do PIB brasileiro. Fazem parte do Conselho, por exemplo, Eletrobras, GE, Philips, CPFL, Vale, Petrobras, Alcoa e Cemig, além de vários bancos. O estudo teve apoio da consultoria Way Carbon.
"Adaptação à mudança do clima nunca foi um tema muito contemplado nas políticas públicas no Brasil, embora isso esteja mudando", diz Marina Grossi, presidente-executiva do CEBDS. O estudo, diz ela, mostra o setor privado reafirmando o que especialistas em universidades já sinalizaram - "que a nossa vulnerabilidade energética é muito grande e que temos que ter medidas mais urgentes de adaptação à mudança do clima".
Segundo Marina, só o setor de seguros é mais ativo em considerar que "a mudança do clima é importante". Na Europa, ilustra, já se utilizam torres eólicas que se retraem quando os ventos são muito fortes, um exemplo de adaptação a um fenômeno cada vez mais recorrente. "O governo tem que se mobilizar para esse diálogo." As empresas no mundo começam a querer mapear com mais precisão o que devem fazer para se adaptar ao clima em mutação, conta ela.
O trabalho do CEBDS procurou analisar a vulnerabilidade do setor elétrico por meio de uma análise de gerenciamento de risco. O estudo colocou uma lupa sobre três usinas hidrelétricas - uma pequena a fio d'água com potência instalada de 30 MW, outra de até 100 MW e uma terceira com mais de 1000 MW - as duas últimas com reservatório. Para entender o efeito da mudança do clima no potencial hídrico brasileiro, o estudo usou séries históricas da vazão dos rios onde ficam as usinas, nas bacias do Paraná e do Atlântico Leste/Sudeste. É ali que está a região que mais consome eletricidade no país e onde fica a maioria das hidrelétricas.
O estudo de 77 páginas definiu como horizontes 2020 e 2050. "Algumas empresas começaram a perceber que estavam aumentando custos ou diminuindo lucros como consequência climática", explica Fernando Malta, assessor técnico do CEBDS e da publicação. Ele cita uma produtora de laranjas que percebeu que a cada ano precisa de mais água além daquela da chuva para irrigar a plantação ou uma mineradora que teve que desativar uma mina na América do Sul por conta de um período de chuvas intensas. "Esse deve ser o primeiro de uma série de estudos em adaptação à mudança do clima", adianta Malta.
Não foi fácil realizar o estudo, diz Marina Grossi. Ela lembra que os dados não são públicos, não há régua pluviométrica e uniformidade de medidas. "O setor elétrico devia abrir várias caixas-pretas."
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Estudo analisa impacto do clima sobre potencial hídrico - Instituto Humanitas Unisinos - IHU