14 Março 2013
"Desejamos que o papa Francisco, como São Francisco, na oração diante do ícone da cruz na Igreja de São Damião, escute a voz de Jesus, que o convida para a reconstrução da Igreja em ruína da qual todos fazemos parte", escreve Paulo Suess, assessor teológico do Conselho Indigenista Missionário – Cimi - e professor no ciclo de pós-graduação em missiologia, no Instituto Teológico de São Paulo – ITESP.
Eis o artigo.
Parecia que foi a mão de Deus – não como no caso de Maradona! - que escolheu com o novo papa um nome não esperado pela opinião pública. “Os cardeais me buscaram dos confins do mundo” declarou o recém-eleito. Alegria espontânea no meio do povo, não necessariamente por ser um ítalo-americano, mas por dar sinais para a renovação da Igreja, não baseada na tecnologia, mas em atitudes humanas e na opção pelos pobres.
Primeiro espanto, aparição de um septuagenário que elegeu o nome “Francisco”. O verdadeiro espanto é que nessa longa história da Igreja nenhum papa teve a ideia ou a coragem de escolher esse nome que é um programa.
Segundo espanto, o papa Francisco aparece na sacada do palácio “apenas” com a batina branca e não diz “laudetur Iesus Christus”, mas boa noite.
Terceiro espanto, o novo papa se inclina diante da multidão na Praça de São Pedro e pede orações e a benção do povo, antes de ele dar a benção apostólica “urbi et orbi”, prevista na cerimônia.
Quarto espanto, notícias da biografia de Jorge Mario Bergoglio que contam que o arcebispo e cardeal de Buenos Aires não atravessava sua metrópole com motorista e Mercedes, mas com transporte público, com ônibus e Metrô.
Quinto espanto, outra notícia dessa mesma biografia de Bergoglio que se refere ao bispo cozinheiro. Desde a morte prematura de sua mãe aprendeu preparar seu almoço e outras comidas gostosas.
Sexto espanto, este jesuíta e bispo de Buenos Aires, que pertence a uma família de classe média e adquiriu uma simplicidade franciscana e certa reserva contra a pompa curial, nunca se mostrou amigo da Teologia da Libertação.
Sétimo espanto, por conta de grupos que defendem os direitos humanos. A mídia nos informou que Bergoglio e sua Igreja argentina não mostraram atitudes proféticas durante a ditadura militar (1976-1983) como aconteceu em outras igrejas latino-americans. Nessa época, Mário Bergoglio ainda não era bispo, mas provincial dos jesuítas da Argentina (1973-1979). Como provincial expulsou dois jovens jesuítas – Orlando Virgílio Yorio e Francisco Jalics – da Companhia de Jesus e dificultou a sua recepção na diocese de Moron do Salesiano Dom Miguel Raspariti. Entre expulsão e trâmites de recepção, dia 23 de maio de 1976, Yorio e Jalics foram sequestrados pelas forças militares, torturados e, meio ano mais tarde (22.10.1976), expatriados. A sincronização entre expulsão e sequestro dos dois ex-jesuítas indica certo “entendimento” entre autoridade eclesiástica e militar. Definitivamente provado não foi. Bergoglio negou a sua colaboração com os militares.
Segundo o Ritual Romano, o novo papa deu uma indulgência plenária aos fieis, urbi et orbi. Certamente, o papa Francisco pediu também para si mesmo essa indulgência de Deus e o perdão de Orlando Yorio e Francisco Jalics, com quem agora partilha o nome. Quem poderia assumir a tarefa do papado, sem a misericórdia divina?
O Brasil e suas pastorais desejam ao papa Francisco que ele, como seu padroeiro de Assis, no abraço dos leprosos, que hoje se encontram não só na cúria romana, mas por toda parte do mundo, encontre sua missão profunda e conversão permanente. Desejamos que ele, como São Francisco, na oração diante do ícone da cruz na Igreja de São Damião, escute a voz de Jesus, que o convida para a reconstrução da Igreja em ruína da qual todos fazemos parte.
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Outra vez, a mão de Deus. Os sete espantos do papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU