Por: André | 11 Março 2013
O iminente conclave escolherá o novo pontífice, mas não resolverá as incógnitas sobre o papel do denominado “Papa emérito”. Um grande canonista mostra os riscos deste título e de outros equívocos com referência a este.
A reportagem é de Sandro Magister e publicada no sítio Chiesa.it, 09-03-2013. A tradução é do Cepat.
Como o novo papa que está para ser eleito conduzirá a Igreja vivendo ainda quem o precedeu na cátedra de Pedro? Diante da iminência do conclave, as incógnitas sobre como se dará esta coabitação ainda não estão inteiramente resolvidas.
Segue sendo ainda incerto, em especial, o tratamento que deve ser dado a Joseph Ratzinger após sua renúncia ao papado.
É verdade que o diretor da sala de imprensa vaticana, Federico Lombardi, autorizou e acalentou o uso da fórmula “Sua Santidade Bento XVI Papa emérito”. Mas é também verdade que o fez de maneira informal, apenas por palavras e segundo ele, simplesmente, “por indicação de dom Georg”, isto é, do secretário particular daquele que renunciou ao papado. Muito pouco e muito vago para considerar fechada a questão.
Prova da incerteza que ainda perdura é o fato de que no dia 28 de fevereiro, três dias depois da declaração do padre Lombardi, La Civiltà Cattólica, a revista dos jesuítas de Roma, impressa com o controle prévio e a autorização da secretaria de Estado vaticana, publicou um longo e douto artigo sobre a “Cesação do ofício do romano pontífice”, escrito pelo ilustre canonista Gianfranco Ghirlanda, ex-reitor da Pontifícia Universidade Gregoriana, o qual exclui taxativamente que se possa continuar definindo como “Papa” quem renunciou a este ofício.
Escreve o padre Ghirlanda em um determinado momento: “É evidente que o Papa que renunciou já não é Papa. Por isso não tem nenhum poder na Igreja e não pode se intrometer nos assuntos de governo. Podemos nos perguntar que título conservará Bento XVI. Pensamos que se deveria atribuir a ele o título de bispo emérito de Roma, como qualquer outro bispo diocesano que renuncia”.
E no parágrafo final: “Foi necessário deter-se longamente sobre a questão da relação entre a aceitação da legítima eleição e a consagração episcopal; quer dizer, sobre a origem do poder do pontífice romano, para compreender, com mais profundidade, que o que cessa no ministério pontifício, não estando este morto, embora siga sendo evidentemente bispo, já não é Papa, na medida em que perde todo o poder primacial, ao não provir esta da consagração episcopal, mas diretamente de Cristo por meio da aceitação da legítima eleição”.
Perguntado sobre isto, o padre Lombardi respondeu que é verdade que La Civiltà Cattolica foi publicada depois, mas que estava na gráfica antes da indicação dada por ele, que segue sendo válida.
Efetivamente, a fórmula “Sua Santidade o Papa emérito Bento XVI” foi usada no infeliz telegrama de saudação enviado a Ratzinger no dia 05 de março pelo cardeal decano Angelo Sodano, em nome do colégio cardinalício reunido para a preparação do conclave. Um telegrama que desarma por sua brevidade e sua banalidade, equivocado tanto nas maneiras como nos tempos, pois Bento XVI saudou pessoalmente, um a um, todos os cardeais no último ato público de seu ofício de Papa.
Em todo o caso, sobre isto falta ainda uma decisão oficial. Para tê-la, será necessário talvez esperar a nova edição do Anuário Pontifício que forçosamente dedicará, junto à página do novo Papa com os apelativos que lhe competem, também uma página para seu predecessor ainda vivo, com os títulos que o novo Papa lhe outorgará.
A incerteza sobre este ponto específico é indicativa de uma desorientação mais geral e permanente na interpretação do gesto de renúncia que Bento XVI realizou, como também na compreensão de suas consequências.
Com os riscos que poderia haver pela convivência entre dois Papas definidos como tais, um reinante e o outro emérito.
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Aviso de perigo. Uma Igreja com dois papas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU