11 Março 2013
A crise no Banco do Vaticano gerou ontem uma cobrança ao secretário de Estado, cardeal Tarcisio Bertone, por parte de vários cardeais no último dia de reuniões da Congregação-Geral do Colégio Cardinalício, antes do início do conclave, escancarando a divisão na Cúria. A partir de hoje, os 115 cardeais com direito a voto se fecham na Capela Sistina e só saem após a escolha do sucessor de Bento XVI.
A reportagem é de Jamil Chade e José Mayrink e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 12-03-2013.
Os cardeais que hoje abrem o conclave passaram os últimos dias debatendo os problemas da Igreja - entre eles o vazamento de documentos secretos do Vaticano que expuseram ao mundo intrigas entre membros da Cúria, denúncias de corrupção e irregularidades envolvendo o Banco do Vaticano.
Atacado pela falta de transparência da instituição e escândalos envolvendo a Justiça italiana, Bertone - o número 2 do Vaticano - esperou até o último dia de discussões na Santa Sé para dar uma resposta e garantir que o banco é "transparente". Mas se recusou a aceitar o pedido de um grupo de cardeais para prolongar os debates. A decisão foi a de dar por encerrada a discussão e passar hoje à votação do novo papa - na prática, adiando qualquer decisão para o futuro pontífice.
O Instituto para Obras Religiosas - conhecido como Banco do Vaticano - foi tomado por uma série de escândalos que levou um tribunal a bloquear 23 milhões da Santa Sé. Não por acaso, cardeais como o brasileiro João Aviz usaram os encontros nos últimos dias para atacar a falta de transparência na instituição.
Segundo o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, Bertone explicou aos demais cardeais as regras internacionais sobre a transparência financeira e garantiu que reformas estavam sendo feitas. Mas foi bombardeado por perguntas de jornalistas sobre o motivo de o assunto ter voltado ao debate justamente no último dia de reuniões entre os cardeais.
Operações
O assunto escancarou a diferente visão das facções dentro da Cúria. De um lado, cardeais que pedem maior transparência, enquanto outros que defendem que a instituição permaneça da forma que está. Documentos obtidos pelo Estado apontam que a União Europeia tem sérias dúvidas sobre as operações do banco.
Durante a Guerra Fria, o banco teria sido amplamente usado para transferir recursos para a oposição em países no Leste Europeu. Hoje, uma das suspeitas é de que seria usado para financiar grupos em Cuba, China e regimes fechados. Mas é a suspeita de que o banco tenha sido usado pelo crime organizado na Itália o que mais preocupa os cardeais.
Em dezembro, o Banco da Itália acabou bloqueando operações de bancos europeus com o Vaticano por conta da falta de transparência. Como resultado, cartões de crédito passaram a não ser aceitos nas lojas do Vaticano e nos museus. A Santa Sé foi obrigada a buscar um novo acordo para permitir o uso de cartões, desta vez com uma empresa da Suíça, um paraíso fiscal fora da União Europeia e conhecida por ignorar vários dos critérios de transparência.
Nos últimos dias de seu pontificado, Bento XVI nomeou o aristocrata alemão Ernst von Freyberg como novo presidente do banco e deixou uma empresa suíça na administração das contas.
A cobrança explícita a Bertone por parte de muitos cardeais na véspera do início do conclave deu o tom de como será a eleição, a partir de hoje.
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Cardeais cobram nº 2 do Vaticano na última reunião antes do conclave - Instituto Humanitas Unisinos - IHU