03 Março 2013
O padre Paolo Dall'Oglio volta a escrever da sua Síria, para onde voltou para rezar sobre as fossas comuns. E com os sobreviventes...
O relato foi publicado no sítio Il Mondo di Annibale, 02-03-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Enquanto em Roma fazem-se promessas, a Síria está totalmente sob ferro e fogo. A estrada para o sul está bloqueada, e as ajudas humanitárias não podem continuar até Homs. Eu pisei no freio durante todo o dia com os motoristas e a escolta das ajudas. Nada a fazer, "não passa nem uma formiga!". Esta área está nas mãos dos Livres de Sham e da Frente al-Nasra. Vistos de perto, eles dão menos medo do que se diz ou, melhor, alguns realmente têm rostos de pais de família de bem. Eu olhava um deles aqui ao meu lado que parecia justamente um terrorista das caricaturas, com os grandes cílios e o narigão. Um rapaz muito terno!
Eles vieram me encontrar para tomar conhecimento. Tivemos algumas discussões interessantes no plano religioso, assim como no plano político. O chefe deles dizia que era um fato devido à misericórdia de Deus que as potências ocidentais não tivessem intervindo na Síria, porque isso, em última análise, havia permitido que a motivação islâmica se afirmasse e marcasse a revolução com clareza. "A Síria será o início da libertação de todo o mundo muçulmano!" Naturalmente, não é fácil entender até que ponto as eleições livres farão parte do programa.
O fato evidente é que a revolução islâmica síria corresponde a um grande processo social de emancipação do imenso reservatório humano rural e proletário urbano. Os combatentes islâmicos são majoritariamente sírios, e os seus líderes são sírios. Os intelectuais são os jovens destas áreas que tiveram acesso às universidades. O responsável pelo centro de informática que me hospeda é formado em física.
Espero ir para o sul amanhã, mas, se não passa nem a farinha, será difícil que o exército livre me deixem passar. Eles tem muito medo pela minha incolumidade e não querem me deixar correr riscos. Talvez serei obrigado a voltar para a Turquia. Aqui me querem muito bem. É preciso desligar o motor e ir dormir. Boa noite.
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''Da minha Síria''. Artigo de Paolo Dall'Oglio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU