27 Fevereiro 2013
"Eu não sei o que contém o dossiê sobre o Vatileaks, nenhum de nós realmente sabe. Mas devemos saber o que aconteceu, é um pressuposto fundamental das votações". O cardeal é um dos eleitores mais respeitados e ouvidos, terá um papel importante na Capela Sistina e não vê a hora de que se tenha um pouco de clareza, depois de meses de boatos, fofocas, outros venenos.
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal Corriere della Sera, 27-02-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Ele apenas abre os braços, suspira. "Não me faça comentar, eu não posso fazer isso sem ter os elementos. Que o Santo Padre tenha mantido o segredo sobre o dossiê, que tenha querido transmiti-lo apenas ao seu sucessor, tudo bem, é justo. Não é que queiramos ler tudo, devem ser centenas de páginas... Mas precisamos saber, isso sim: é preciso um sólido resumo, devemos conhecer a situação atual, na Cúria, até para poder tomar uma decisão responsável...".
No crepúsculo do pontificado de Bento XVI, todos já olham para as "congregações gerais" que reunirão todos os cardeais, eleitores e ultraoctogenários, antes do ingresso no conclave. Na sexta-feira, 1º de março, o cardeal decano, Angelo Sodano, enviará a carta formal de convocação, sábado e domingo não serão utilizados, e, portanto, a primeira congregação será quase certamente no dia 4 de março, segunda-feira.
As congregações são importantes. É nessas reuniões que os eleitores, dia após dia, intervêm, estudam e tentarão entender quem terá o "vigor" para prosseguir o impulso reformista de Ratzinger, e tudo isso abordando os temas mais urgentes: neste caso, central, a reforma da Cúria Romana.
Também será central, portanto, o papel que desempenharão os três cardeais com mais de 80 anos – Herranz, Tomko e De Giorgi – aos quais Bento XVI confiou no ano passado o encargo de investigar sobre o furto de documentos privados do apartamento papal.
O processo condenou o mordomo "corvo" Paolo Gabriele, depois agraciado pelo papa. Para o julgamento, não houve cúmplices. Mas os três cardeais realizaram durante meses dezenas de audiências entre altos purpurados, monsenhores e leigos da Cúria ou não. Nos confrontos subjacentes, nas tensões, nas rivalidades e nos venenos, há o terreno fértil do Vatileaks.
O dossiê é o diagnóstico necessário para o tratamento. Bento XVI ordenou que o dossiê seja confiado "unicamente" ao sucessor. Mas deu aos três cardeais a possibilidade de fornecer "elementos úteis para avaliar a situação e escolher o novo papa". Serão eles os verdadeiros fazedores de reis do pré-conclave.
Ainda sobre a antecipação do ingresso na Capela Sistina, os cardeais terão que discutir: nessa terça-feira, o cardeal Angelo Bagnasco falava de um conclave "o mais próximo possível". O nova-iorquino Timothy pediu "paciência". E nos movimentos de Bento XVI se percebe um projeto preciso.
Nessa terça-feira, o secretário de Estado, Tarcisio Bertone, lembrou ao canal TG1 que Ratzinger sai porque "sente faltar as forças". Mas o essencial está nas escolhas de Bento XVI.
O papa quer que o ambiente seja purificado. Totalmente ratzingeriana é a solicitação ao cardeal escocês O'Brien para que ele "renunciasse" a ir para o conclave. A velha guarda curial teria decidido o contrário. Os boatos do outro lado do Tibre relatam um Angelo Sodano contrário.
Certamente, um cardeal como Christoph Schönborn apontou o dedo contra o "encobrimento" da Cúria wojtyliana quando relatou o desconforto do então cardeal Ratzinger, que, em 1995, teria desejado processar por pedofilia o cardeal Hans Groër: "Não me deixaram fazer isso".
Justamente Schönborn, que chegou a Roma nessa terça-feira, é um dos mais decididos defensores de uma reforma: "A Cúria deve ser organizada de modo a servir o primado do papa e não a substituí-lo".
A promoção a núncio na Colômbia de Ettore Balestrero, número três da Secretaria de Estado, também tira da disputa um diplomata de prestígio – próximo de Bertone, mas ainda mais ao curial Mauro Piacenza – e desmonta os mecanismos internos. A própria escolha de deixar que os cardeais se hospedem onde quiserem – só na véspera do conclave é que entrarão em Santa Marta – favorece a liberdade de manobra: sem muitos controles curiais.
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Os cardeais e o Vatileaks: ''Devemos saber o que há no relatório'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU