22 Fevereiro 2013
Na iminência de assumir o cargo de arcebispo da Arquidiocese de Manaus neste sábado (23), Dom Sérgio Eduardo Castriani (foto), 58 anos, falou sobre a expectativa e a missão de coordenar 80 paróquias da capital. Nascido em Regente de Feijó, no interior de São Paulo, Dom Sérgio tem 37 anos de vida religiosa, dos quais quase 15 anos foram dedicados às comunidades da cidade de Tefé, a 520 quilômetros da capital. Agora o novo arcebispo pretende utilizar experiências do interior do Amazonas no trabalho com pastorais e comunidades da capital. Consciente dos novos meios de comunicação, o religioso prometeu incentivar a evangelização pelas redes sociais. O arcebispo aprovou a decisão de renúncia do Papa Bento XVI e revelou que em situação semelhante renunciaria também por amor à Igreja. Ele também defendeu maior espaço aos jovens e uma Igreja mais próxima de suas características.
Foto: Divulgação/Arquidiocese de Manaus
A entrevista é de Adneison Severiano e publicada pelo G1, 23-02-2013.
Eis a entrevista.
Qual estrutura da Igreja Católica o senhor espera encontrar na capital neste início de gestão da Arquidiocese de Manaus?
Eu acompanho a igreja em Manaus desde que cheguei ao Amazonas há quase 15 anos. Sou bispo em Tefé há 14 anos, que faz parte da Província Eclesiástica de Manaus. Uma das características do estado é que mesmo morando no interior participamos da vida religiosa da capital. Espero encontrar uma igreja que já conheço, com comunidades vivas, atuantes e dinâmicas. Com muitas pastorais e uma Igreja que investe bastante na formação dos leigos, além de muito afinada com a Igreja do Brasil [Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB]. É com este sentimento de encontrar esta Igreja, que eu vou a Manaus. Com muita paz e alegria, grato pela confiança que me foi dada pela Igreja.
Qual será o estilo do novo arcebispo a frente da Arquidiocese de Manaus?
Eu cheguei à Amazônia em 1979 e o que sei fazer é visitar as comunidades, estar junto ao povo e participar da vida das pessoas. Valorizarei muito os conselhos, a participação interna na vida da Igreja, ao mesmo tempo a presença dela no mundo. Nós fazemos parte de uma sociedade e de mundo maior, precisamos estar presente nele como cidadãos que vivem sua cidadania a partir da sua fé. Não se trata de fazer política partidária ou alianças, mas estar presente na vida das pessoas. Isso é o que acredito e tenho feito desde minha juventude e de quando fui ordenado padre há 35 anos.
Desses quase 15 anos atuando como bispo da Igreja Católica no município de Tefé, quais lições e aprendizados o senhor traz na bagagem para esse novo desafio?
A gente aprende a conhecer o povo amazonense e a cultura, que deve muito à cultura ribeirinha e indígena do interior. Desde que cheguei ao Acre até o período como bispo em Tefé aprendi a respeitar as pessoas e sua cultura popular. Depois aprendi a trabalhar junto com as pessoas, os conselhos, a sociedade civil, instituições e organizações não-governamentais [ONGs]. Também aprendi a conviver com um povo muito sofrido que é acolhedor, população pobre e que não tem preconceito. População que enfrenta sérias dificuldades econômicas, que sobrevive nesse estado. Essa convivência com as pessoas, aprendendo a amá-las, a respeitá-las e conhecê-las foi talvez a coisa mais importante nesses 14 anos.
A cada ano novas igrejas evangélicas são construídas em Manaus, assim como o número de seguidores do protestantismo cresceu 10% na última década no estado, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Como o senhor pretende atuar no fortalecimento da Igreja Católica na capital, atraindo mais fiéis?
O crescimento das igrejas evangélicas é nacional por várias razões e fatores. Uma delas é que a estrutura da Igreja Católica não acompanhou e nem conseguiu acompanhar o crescimento da população. Como também há outras razões culturais com pentecostalismo. A postura deve ser de respeito porque as pessoas fazem suas opções religiosas de acordo com a própria consciência. Esperamos também respeito por parte das outras expressões religiosas e cristãs. A Igreja Católica tem sua maneira de ser, mas quanto mais católica ela for - no sentido de fé, doutrina, liturgia e ação social -, atrairá mais pessoas, que vão ver na igreja uma forma de viver a religião cristã e o evangelho. Não se atrai fieis atacando, fazendo proselitismo, mas vivendo a identidade católica na sua grandeza, aquilo que ela tem de bonito. É preciso ser mais católico, fiel ao evangelho e à Jesus Cristo, com comunidades e pastorais atuantes para que as pessoas encontrem na igreja um lugar de viver a fé".
Quais mecanismos o arcebispo pretende utilizar como atração dos jovens para os movimentos pastorais da Igreja Católica em Manaus?
Hoje a Pastoral da Juventude tem uma característica que é o protagonismo juvenil. A Igreja tem que dar espaço para o próprio jovem católico, que encontrou Jesus Cristo e descobriu a fé, seja o apóstolo de outros jovens. Nós vemos isso claramente na Pastoral da Juventude e na atuação nos movimentos juvenis. A juventude é um momento da vida, uma faixa da sociedade que será o amanhã. Então a primeira coisa que a Igreja precisa fazer é dar protagonismo a juventude, deixar que o jovem fale e ao mesmo tempo apresentá-lo a pessoa de Jesus Cristo com suas exigências e radicalidade. Abrir espaço nas comunidades da estrutura de igreja para juventude.
Em 2012, a Igreja Católica passou a incentivar o uso das redes sociais digitais para promover a evangelização, depois que o Papa Bento XVI criou perfis em nove idiomas. O senhor é contrário ou favorável a utilização desse tipo de mecanismo?
Sou completamente a favor às redes sociais na evangelização. Porque não só os jovens estão nelas, muitos adultos vivem, pensam e se expressam nas redes sociais, que se tonaram um espaço vital para muitas pessoas. É preciso entrar nas redes sociais e quem vai evangelizar são aqueles católicos, que tendo encontrado Jesus Cristo, acreditando na ação da Igreja, vão dar testemunho da sua fé. As pessoas passam horas nessas redes sociais não só nas grandes cidades, até mesmo nas comunidades ribeirinhas elas estão presentes.
No último dia 11 de fevereiro, o papa Bento XVI anunciou a renúncia do pontificado. Como o senhor avalia a decisão do pontífice?
Aceitamos a razão da renúncia do papa Bento XVI, que não estava mais em condições físicas de exercer o cargo. Acredito que seja um ato de verdade e honestidade, de quem tem muito amor a Igreja.
O bispo tomaria uma decisão semelhante e renunciaria o cargo de arcebispo caso não se considerasse apto?
Eu faria a mesma coisa porque são cargos exigentes até fisicamente, precisamos estar bem de saúde com todas as forças para exercer essa função e serviços que nós prestamos a convite e pela Igreja. Por amor ao povo e a própria Igreja eu renunciaria, quando houvesse razões físicas ou psíquicas e sem condições de exercer o cargo. Uma atitude de amor a igreja na qual servimos.
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'Se a Igreja for mais católica atrairá mais fiéis', diz novo arcebispo de Manaus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU