Por: Cesar Sanson | 19 Fevereiro 2013
Audiência da Comissão da Verdade mostra registros da relação entre a ditadura com o Consulado dos EUA e a Fiesp.
A reportagem é de Aray Nabuco e publicada pelo portal da revista Caros Amigos, 19-02-2013.
O mestrando em história Yuri Rosa de Carvalho nem tinha nascido quando seu avô, operário e militante político, foi preso, torturado e morto por agentes da ditadura militar no Brasil. O estudante de 25 anos era um dos que lotaram na tarde de segunda-feira (18) o auditório Paulo Kobayashi, na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), para acompanhar nova audiência pública da Comissão da Verdade paulista.
Clique e confira fotos e documentos
Na audiência, a CV apresentou documentos que mostram a relação da ditadura com o consulado dos Estados Unidos e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), principalmente, livros de registro dos que entravam e saíam do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), onde o avô de Yuri também foi morto, assim como tantos outros opositores do regime. Hoje Yuri dedica-se a pesquisar a história do avô, mas com o foco no Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT), grupo que ele integrava junto com os irmãos Joel e Daniel Carvalho - os corpos desses últimos, nunca foram encontrados.
Livro de Visitas
Ivan Seixas abriu a audiência mostrando um dos livros de registro de entrada e saída do Dops, no qual aparecem nomes e visitas suspeitas, entre eles, o então cônsul estadunidense no Brasil, Claris Rowney Halliwell, e outro, Geraldo Resende de Matos, que se identifica como 'da Fiesp'. Em ao menos uma das visitas, Halliwell entra em um dia no Dops e só sai no dia seguinte, o que levanta suspeitas de que tenha, no mínimo, testemunhado sessões de torturas. Para Ivan Seixas, os registros de entrada e saída do Dops, localizados no Arquivo Público do Estado de São Paulo, 'falam por si'.
Uma das visitas do cônsul ao Dops foi no dia 5 de abril de 1971, dia em que o avô de Yuri foi preso - morreu dois dias depois e a versão oficial é de 'troca de tiros' com policiais. Mas não há registro de saída do cônsul, o que leva a CV a supor que Halliwell tenha passado a noite ou muito tempo no local - o funcionário que anotava as visitas trabalhava até 22h.
Testemunhos
Yuri Rosa conta que ninguém viu a prisão de Devanir, pego no Rio de Janeiro quando já trabalhava de taxista - havia sido operário na Villares e na mondadora Toyota. Mas sua chegada ao Dops e as sessões de torturas foram testemunhadas por outros presos, como o próprio Ivan Seixas, que contou na audiência ter ouvido dois dias de torturas.
Rastreando os passos de Halliwell, a CV encontrou outras coincidências: ele estava onde as ditaduras se instalaram (do Brasil, seguiu para o Chile de Pinochet e, depois, Equador). Para Ivan Seixas não há dúvida de que o cônsul colaborou com a ditadura, mas resta saber qual o grau de colaboração. A CV também quer explicações sobre a presença de Halliwell no Dops e suas relações com a ditadura. No caso de Geraldo Resende 'da Fiesp', as visitas ao Dops eram bem mais frequentes - entre 1971 e 74, ele esteve lá por 124 vezes.
Tanto a Fiesp, quanto o Consulado dos EUA vão receber ofícios da CV pedindo explicações. "Será um questionamento para saber quem são essas pessoas e o que faziam lá", diz Ivan Seixas.
Mesa
A mesa da audiência pública também contou com depoimentos de militantes que eram operários em fábricas na época da ditadura. A ideia era desenhar um retrato da repressão dentro das fábricas.
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Comissão da Verdade mostra relação entre cônsul dos EUA e Fiesp com ditadura - Instituto Humanitas Unisinos - IHU