17 Fevereiro 2013
Como é tradição, a marcha de aproximação ao conclave está dominada pelas listas dos papáveis, os possíveis candidatos à sucessão de Bento XVI. Mas há outro papel igualmente crucial na assembleia dos cardeais chamada a eleger o novo pontífice: o dos chamados kingmakers, os fazedores de reis, personalidades que – por experiência ou por autoridade, mais do que por identificação com uma ou outra inclinação – são capazes mais do que outros de orientar o voto para a figura que, no fim, será eleita.
A reportagem é de Giorgio Bernardelli, publicada no jornal Vatican Insider, 15-02-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Trata-se de um papel particularmente significativo, especialmente quando se chega à escolha de um novo papa em circunstâncias complexas, como é justamente o cenário inédito aberto de maneira totalmente inesperada pela demissão do Papa Ratzinger. Muitos, nestes dias, têm feito a comparação com o segundo conclave de 1978, convocado após a morte súbita do Papa Luciani, que levou à eleição de Karol Wojtyla. E essa foi justamente uma das circunstâncias em que o papel de um kingmaker bem preciso vazou dos Sagrados Palácios: é um fato amplamente reconhecido que foi o então cardeal arcebispo de Viena, Franz König – à época com 70 anos – que propôs o nome do arcebispo de Cracóvia. Ele fez isso quando as votações estavam emperradas no nome de Giuseppe Siri, que não conseguia alcançar o quorum necessário por causa da oposição de uma parte do colégio.
A pergunta, portanto, é: se em meados de março se entrasse na Capela Sistina sem uma candidatura muito forte (como, ao contrário, ocorreu há oito anos com Joseph Ratzinger), quais poderiam ser os cardeais kingmakers do conclave de 2013? A pergunta é ainda mais difícil do que sobre os papáveis. E – ao contrário da outra lista – tende a privilegiar figuras que, por causa da idade, são descartadas a priori pelas listas dos possíveis novos pontífices.
Desse ponto de vista, então, é extremamente significativo o fato de que uma figura como o cardeal Walter Kasper entre em cima da hora no colégio eleitoral. O ex-presidente do Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos completará 80 anos no dia 5 de março, mas mesmo assim será eleitor, porque a constituição apostólica Universi Dominici Gregis fixa para o início da sede vacante (e, portanto, no dia 1º de março) a definição de quem tem direito a voto.
Walter Kasper (ao lado de Ratzinger) é outro grande teólogo alemão católico do nosso tempo. Justamente no ano passado, ele publicou um livro com um título comprometedor: Igreja Católica. Essência, realidade, missão (Ed. Unisinos, 2012). É bastante natural pensar que alguns cardeais mais jovens olharão para ele como um ponto de referência.
Mas, sob esse mesmo perfil, também pode ser colocada a figura do arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio, que segundo algumas reconstruções durante o conclave de 2005 teria recebido muitos votos. Personalidade ascética, muito esquivo (são raríssimas as suas entrevistas), é um cardeal a anos-luz de distância das batalhas curiais do Vatileaks. E o seu perfil doutrinal, segundo muitos, é muito semelhante ao de Joseph Ratzinger.
Hoje, ele já tem 76 anos e por isso não aparece mais nas listas dos papáveis. Mas, para muitos, na Capela Sistina, ele poderia se tornar igualmente uma ajuda importante na reflexão sobre quem deverá ser o novo papa.
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Conclave: qual será o papel de Kasper e Bergoglio? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU