04 Fevereiro 2013
O membro da equipe dos bispos dos EUA responsável por várias críticas polêmicas aos teólogos católicos nos últimos anos está prestes a deixar o cargo.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada no sítio National Catholic Reporter, 30-01-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O padre capuchinho Thomas Weinandy, chefe do escritório dos bispos encarregado de defender a doutrina da Igreja, deve deixar o seu cargo de diretor-executivo do Secretariado de Doutrina dos bispos em agosto próximo. A Ir. Mary Ann Walsh, das Irmãs da Misericórdia, diretora de relações midiáticas da Conferência dos Bispos dos EUA, confirmou sua saída na última quarta-feira.
Weinandy dirigia o secretariado, que realiza o trabalho de nove prelados que são membros da comissão doutrinal dos bispos dos EUA, desde 2005.
Durante o seu mandato, a comissão episcopal emitiu repreensões públicas a cinco proeminentes teólogos dos EUA. Essas repreensões foram objeto de amplas críticas – incluindo das duas principais sociedades de teólogos norte-americanos –, porque foram feitas sem buscar a consulta ou o diálogo com os teólogos.
A College Theology Society, de 900 membros, chegou a emitiu um comunicado em dezembro de 2011 dizendo que a comissão doutrinal havia causado uma "ruptura fundamental" no chamado ao diálogo na Igreja e havia ferido a "comunidade inteira de teólogos católicos".
Weinandy não respondeu a um pedido feito na última quarta-feira para comentar o assunto.
A notícia da saída de Weinandy da conferência dos bispos estava circulando amplamente em e-mails no início da semana passada entre os teólogos e bispos norte-americanos. Um bispo disse ao NCR que havia recebido um aviso de que Weinandy havia alertado Dom Ronny Jenkins, secretário-geral da Conferência dos Bispos, de sua partida pendente.
O arcebispo de St. Paul-Minneapolis, Dom John Nienstedt, substituiu o cardeal Donald Wuerl, de Washington, como chefe da comissão de doutrina dos bispos norte-americanos no encontro anual dos bispos em novembro.
Os teólogos repreendidos pela comissão episcopal desde 2005 incluem:
• Ir. Elizabeth Johnson, das Irmãs de São José, teóloga do corpo docente da Fordham University;
• Todd Salzman e Michael Lawler, ambos teólogos da Creighton University;
• Daniel Maguire, especialista em ética médica e ecológica da Marquette University; e
• Peter Phan, teólogo da Georgetown University e natural do Vietnã conhecido pelo seu trabalho de conectar correntes teológicas da Ásia e do Ocidente.
Susan Ross, presidente da Sociedade Teológica Católica dos Estados Unidos, que possui 1.400 membros, disse que caracteriza o tempo de Weinandy na conferência dos bispos como antagônico.
"O comitê de doutrina tomou uma posição muito mais antagônica com relação aos teólogos durante o tempo do mandato de Weinandy como secretário-executivo", disse Ross, que também atua como coordenadora do departamento de teologia da Loyola University, de Chicago.
"Todo o clima de debate na sociedade – político e teológico – também se tornou muito mais antagônico", disse Ross. "Mas ele certamente desempenhou o seu papel nesse sentido na conferência".
Vários outros teólogos proeminentes convidados a comentar sobre o tempo de Weinandy na conferência dos bispos disseram que não o fariam. Dois citaram uma máxima sobre não falar quando você não tem palavras amáveis a dizer.
Walsh disse que os padres normalmente abandonam a conferência depois de trabalhar lá por alguns anos e que "é uma transição muito natural" Weinandy partir.
"Provavelmente, não houve qualquer debate" entre os bispos dos Estados Unidos sobre as críticas contra a comissão de doutrina durante o mandato de Weinandy, disse Walsh.
Em 2011, a comissão doutrinal foi alvo de críticas sustentadas após a publicação de uma severa repreensão ao livro de Johnson de 2007 intitulado Quest for the Living God: Mapping Frontiers in the Theology of God.
Emitindo uma declaração de 21 páginas em março 2011, o comitê disse que o livro era marcado por "deturpações, ambiguidades e erros" e "mina completamente o Evangelho e a fé daqueles que creem no Evangelho".
Weinandy disse ao NCR à época que os bispos não haviam dialogado com Johnson antes de emitir a crítica e que haviam posto de lado as diretrizes aprovadas pela Conferência dos Bispos em 1989 para tais investigações.
Johnson disse repetidamente que a comissão deturpou o seu trabalho e lamentou que as suas tentativas de se reunir com membros da comissão para discutir o livro haviam sido recusadas.
Walsh disse que os potenciais sucessores de Weinandy precisarão de "certos requisitos básicos", incluindo o fato de ter um doutorado em teologia, "uma recente publicação acadêmica, experiência pastoral e experiência de ensino em um seminário ou em nível de graduação teológica".
A descrição do trabalho para o cargo, disse Walsh, em parte, afirma: "O diretor-executivo é um padre católico romano em plena comunhão com a Igreja".
Weinandy, 67 anos, possui um doutorado em teologia histórica pelo King's College, de Londres. Antes de ingressar na conferência dos bispos, ele ocupou cargos acadêmicos em várias instituições dos Estados Unidos e foi professor de teologia na Universidade de Oxford.
Entre suas outras funções na conferência, Weinandy é responsável por analisar declarações e documentos de escritórios de toda a conferência dos bispos com implicações teológicas e de coordenar o trabalho da comissão de doutrina dos bispos com as outras comissões episcopais.
Weinandy também foi responsável pela organização de um simpósio de jovens teólogos em outubro de 2011, em Washington, que contou com a participação de 54 teólogos que discutiram as relações com os bispos e o esforço do Papa Bento XVI por uma "nova evangelização".
Ele também participou de sete anos de negociações com os líderes de várias denominações protestantes com relação ao reconhecimento recíproco dos ritos batismais com a Igreja Católica, que resultaram na assinatura de um acordo público sobre o assunto na última terça-feira.
Weinandy, que é membro da Sociedade Teológica Católica dos EUA (CTSA, na sigla em inglês), é conhecido por discordar publicamente de muitos dos seus outros membros e líderes.
A frustração de Weinandy na CTSA borbulhava na reunião anual da associação em St. Louis, em junho, quando se ouviu em voz alta a sua discordância com certos apresentadores, sentado na plateia durante as sessões.
Durante uma sessão do encontro, quanto uma teóloga disse estar preocupada que os bispos, ao fazerem críticas aos teólogos, "não estão atendendo ao pluralismo teológico", Weinandy disse baixinho, em voz alta o suficiente para que este escritor e os que estavam sentados perto dele pudessem ouvir, que "a CTSA não tem pluralismo teológico".
Weinandy também é conhecido por exibir um certo humor seco e áspero na comunicação pessoal. Em um exemplo, quando este escritor se apresentou a Weinandy no encontro da CTSA, Weinandy citou diversos posicionamentos editoriais do NCR antes de perguntar: "Por que você trabalha para o diabo?".
Na sequência das críticas das sociedades teológicas sobre o modo como tratou a questão Johnson, a comissão episcopal de doutrina silenciosamente formalizou procedimentos para as investigações teológicas que evitam o diálogo com teólogos, em favor de um processo de revisão interno.
Os protocolos, que são datados de abril de 2011, mas que vieram à tona no ano passado, afirmam que, embora os teólogos sob investigação pela comissão "possam ser convidados a responder às observações da Comissão por escrito", a comissão "reserva-se o direito" de publicar críticas sem consulta.
Ross disse esperar que, quem quer que seja escolhido para substituir Weinandy no secretariado, fomente a cooperação com os teólogos norte-americanos.
"Os bispos e teólogos têm papéis diferentes no magistério", disse ela. "E eu às vezes sinto que somos vistos como menos cooperativos uns com os outros nas diferentes formas pelas quais cumprimos os nossos papéis como parte do magistério de ensino".
"Parece ser uma relação menos cooperativa e mais hierárquica. E eu espero ver essa relação mais cooperativa".
Walsh disse que trabalhar com teólogos é "algo que os bispos desejam".
"Eles deixaram claro que querem trabalhar com os teólogos", disse Walsh. "Os teólogos, obviamente, são um corpo muito significativo do povo na nossa Igreja".
Questionada se o sucessor do Weinandy precisaria ir ao encontro da College Theology Society e da Sociedade Teológica Católica dos EUA após as suas críticas por parte da comissão de doutrina dos bispos desde 2005, Walsh disse: "Eu acho que é importante trabalhar com essas sociedades".
"De fato", disse, "essa é uma das responsabilidades do trabalho: trabalhar com essas sociedades".
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Bispos dos EUA devem substituir membro da equipe de investigações teológicas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU