25 Janeiro 2013
No debate sobre as questões gays, confrontam-se opções que orientam escolhas políticas diferentes, suscetíveis de determinar consequências importantes para a vida pública. Essas contradições ficaram manifestas em um artigo do historiador e jornalista italiano Ernesto Galli Della Loggia.
A opinião é do sociólogo e senador italiano Luigi Manconi, em artigo publicado no jornal Il Foglio, 15-01-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
É muito recente a decisão da Cassazione [Suprema Corte italiana] que rejeita o recurso contra a sentença da Corte de Apelações que havia estabelecido a guarda exclusiva do filho menor à mãe, que coabita com uma mulher. Isso permite que se retome uma questão à qual, há algumas semanas, o jornal Corriere della Sera dedicou um amplo espaço.
O ponto de partida inicial foi oferecido por um artigo de Ernesto Galli Della Loggia do dia 30 de dezembro passado, que resumiu um texto ("Casamento homossexual, homoparentalidade e adoção") do Grão-Rabino da França, Gilles Bernheim.
Galli Della Loggia sublinha, em primeiro lugar, "forte semelhança de muitas das coisas ditas por Bernheim com as defendidas pelo magistério católico: e assume as mesmas argumentações. Portanto, conclui que "o ponto de vista da religião no discurso público" é muitas vezes precioso para "medir a ruptura" que as decisões da autoridade pública "podem representar com relação às raízes mais profundas e vitais da nossa antropologia e da nossa cultura".
Até aqui, estamos no âmbito de uma interessante discussão entre opções culturais muito diferentes, inspiradas, por sua vez, em diferentes sistemas de valores. E as opções expressadas por Galli Della Loggia e pelo grão-rabino, assim como as do magistério católico, são dignas da máxima atenção também por parte de quem absolutamente não as compartilha.
Trata-se de posições não só legítimas, obviamente, mas também essenciais para o livre debate, pois remetem a culturas que pertencem plenamente ao desenvolvimento histórico da nossa identidade e, de fato, gozam de um amplo espaço público e de adequados meios de comunicação. Que sentido tem, portanto, apresentá-las como se fossem as teses muito audaciosas de uma minoria perseguida?
Por outro lado, é verdade que, no debate sobre essas questões, confrontam-se opções, às vezes duramente contrapostas, que orientam escolhas políticas diferentes, suscetíveis de determinar consequências importantes para a vida pública. É exatamente essa a razão que deveria tornar menos rígidas as posições de todos e ajudar a compreender como as características essenciais de uma possível moral pública, sóbria e não invasiva, capaz de garantir os direitos de todos sem mortificar os valores de cada um, são o que mede a qualidade ética de uma democracia.
Pois bem, esses traços de uma possível moral pública, capaz de se traduzir em algumas normas compartilhadas sobre "questões de vida e morte" na Itália ainda devem ser totalmente conquistadas. Portanto, chama ainda mais a atenção a descrição do cenário em que Galli Della Loggia coloca o seu apreço pelo escrito do grão-rabino.
O título redacional do artigo do Corriere já é muito eloquente: "As religiões que desafiam o conformismo sobre os gays". Portanto, seria este último, o "conformismo sobre os gay", que domina as opiniões públicas das nossas sociedades. Em tal contexto, as afirmações do grão-rabino seriam um ato de "coragem" contra "o mainstream das ideias dominantes". E isso é ainda mais significativo, observa Galli Della Loggia, para a Itália, "onde é cada vez mais raro ouvir vozes destoantes" e, quando estas se fazem ouvir, são silenciadas pelas costumeiras "vestais do Iluminismo".
É de se pasmar. Portanto, o "conformismo sobre os gays" corresponderia, segundo Galli Della Loggia e outros, a um senso comum hegemônico, particularmente na Itália. Na mesma Itália, veja bem, onde não existe nem um fiapo de legislação sobre as uniões civis e não está nem mesmo à vista, por enquanto, um projeto de reforma, atualização e integração das normas do Código Civil a respeito. E o Parlamento não foi capaz de aprovar uma lei contra a homofobia. É fatal que, quando a política se cala, é a jurisdição quem fala.
As elites não são o "espírito do tempo"
Como foi possível que "as vestais do Iluminismo", tão hegemônicas em determinar o senso comum e as decisões públicas, não tenham sido capazes de introduzir normas de proteção da condição homossexual? Tudo isso parece fugir de um estudioso e atento e – o que não faz mal – gentil e respeitoso às ideias alheias, como Galli Della Loggia, em que se percebe, sutil e persuasivo, o prazer de se encontrar, com orgulho submisso, "contra a corrente".
O motivo é simples: ele faz parte, e segundo muitos é o guia, de um mainstream realmente dominante. E, no ódio ao politicamente correto, considera que este ("o conformismo sobre os gays", por exemplo) é o Pensamento Único Hegemônico (PUH). A causa de tal equívoco é fácil de encontrar: com efeito, esse PUH circula em algumas elites que constituem o ambiente cotidiano que Galli Della Loggia frequenta (universidades, editoras, meios de informação, círculos culturais...). Mesmo quem é avesso a esse mundo, fatalmente faz parte dele por razões sociais e culturais, e corre o risco de trocar o humor que lá se percebe pelo "espírito do tempo".
Mas não é assim. A mentalidade compartilhada e os sentimentos coletivos são principalmente outros. E, no senso comum, há espaço, e como, para a homofobia, para o desprezo pelos homossexuais e por todos os diferentes, o desejo de discriminação. No espírito do conformismo sobre os gays.
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Conformismo: um debate sobre as questões gays - Instituto Humanitas Unisinos - IHU