22 Janeiro 2013
Uma nova medida da Santa Sé para a Fraternidade São Pio X: o vice-presidente do Ecclesia Dei, Augustin Di Noia, em cujas mãos há poucos meses Bento XVI havia confiado o ardente dossiê lefebvrianos, escreveu ao bispo Bernard Fellay. E através dele se dirigiu a todos os sacerdotes da Fraternidade, indicando um caminho para reatar os fios de um diálogo interrompido desde junho passado.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 18-01-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Depois de anos de discussões doutrinais, em junho de 2012, a Congregação para a Doutrina da Fé havia entregue ao superior lefebvrianos um preâmbulo doutrinal aprovado por Ratzinger, cujo assinatura era exigida para o acordo e a sistematização canônica que traria a Fraternidade novamente à plena comunhão com Roma.
A Santa Sé esperava uma resposta dentro de algumas semanas. Mas a resposta nunca chegou. Os lefebvrianos estudaram a proposta vaticana, houve tensões internas – por causas pré-existentes – que levaram à expulsão de Richard Williamson, um dos quatro bispos ordenados por Dom Lefebvre em 1988, tristemente famoso pelas suas declarações negacionistas sobre as câmaras de gás.
O caminho empreendido, no entanto, parecia interrompido, e as declarações das duas partes não pareciam conciliatórias: o novo prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Gehrard Müller, criticou duramente as posições lefebvrianas, enquanto ainda estão gerando discussão as controversas declarações de Fellay sobre os "inimigos da Igreja" que teriam se oposto ao acordo com Roma, dentre os quais o bispo lefebvriano também acrescentou os "judeus".
A medida de Di Noia representa uma novidade. O arcebispo norte-americano, dominicano, é um teólogo preparado e realista. Na carta que ele enviou a Fellay antes do Natal, pedindo que o superior da São Pio X a fizesse chegar a todos os padres da Fraternidade, Di Noia propõe um método para retomar o diálogo, fazendo assim uma última tentativa diante do impasse e de dificuldades que parecem objetivamente difíceis de superar.
Segundo o renomado vaticanista francês Jean Marie Guenois, o inspirador da missiva seria o próprio Bento XVI, que a teria relido e aprovado. Na carta, informa Guenois, fala-se do forte desejo de "superar as tensões" existentes. No documento de oito páginas, são tocados três pontos essenciais: o estado atual das relações, o espírito dessas relações e o método para retomar o diálogo interrompido.
A propósito da interpretação do Concílio Ecumênico Vaticano II, um dos pontos mais controversos do diálogo, Di Noia considera que as relações ainda são "abertas" e "cheias de esperança", apesar de algumas recentes declarações da parte lefebvriana. O vice-presidente do Ecclesia Dei sanciona, talvez pela primeira vez de modo tão autorizado, a existência, nas relações com a São Pio X, de um "impasse" de fundo e da ausência de avanços na interpretação do Concílio.
Na segunda parte do documento, ressalta-se a importância da unidade da Igreja e, portanto, a necessidade de evitar "o orgulho, a cólera, a impaciência". O "desacordo sobre pontos fundamentais" não deve excluir o debate das questões controversas com um "espírito de abertura".
Por fim, a terceira parte da carta propõe duas saídas para o impasse atual. A primeira é o reconhecimento do carisma de Dom Lefebvre e da obra por ele fundada, que era o da "formação de padres", e não o da "retórica contraproducente", nem o de "julgar e corrigir a teologia", nem mesmo o de "corrigir os outros publicamente na Igreja".
A segunda saída – presente no documento Donum Veritatis, publicado em 1990 sobre a dissidência dos teólogos progressistas – consiste em considerar legítimas na Igreja Católica as "divergências" teológicas, lembrando, porém, que as objeções devem ser expressadas internamente, e não publicamente, para "estimular a magistério" a formular melhor os seus ensinamentos. Portanto, nunca devem assumir a forma de um "magistério paralelo".
Em Roma, agora, aguarda-se uma resposta. Esperando que, desta vez, seja positiva.
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Lefebvrianos: uma mão estendida em oito páginas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU