Partidos religiosos anti-Palestina terão papel crucial em novo governo de Israel

Mais Lidos

  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS
  • Diaconato feminino: uma questão de gênero? Artigo de Giuseppe Lorizio

    LER MAIS
  • Venezuela: Trump desferiu mais um xeque, mas não haverá xeque-mate. Artigo de Victor Alvarez

    LER MAIS

Assine a Newsletter

Receba as notícias e atualizações do Instituto Humanitas Unisinos – IHU em primeira mão. Junte-se a nós!

Conheça nossa Política de Privacidade.

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

18 Janeiro 2013

Em Kfar Habad, o grande rabino asquenaze não impõe a disciplina do voto. Aqui, os judeus ultraortodoxos, que são conhecidos como Lubavitch, poderão votar no candidato que quiserem nas eleições da próxima terça-feira (22).

A reportagem é de Ana Carbajosa e publicada no jornal El País, 16-01-2013 e reproduzida pelo portal Uol, 17-01-2013.

O rabino só impõe duas condições: que seja um partido religioso e que prometa não evacuar um só judeu dos assentamentos incrustados nos territórios palestinos. Pode ser que os ultrarreligiosos de Kfar Habad sejam os mais convictos, mas em geral a criação de um futuro Estado palestino, com a saída de boa parte dos mais de 500 mil colonos que ali vivem, constitui uma linha vermelha intransponível para muitos israelenses, entre eles ao menos 11% da população que vive segundo as regras impostas pela literalidade bíblica.

No caso dos Lubavitch de Kfar Habad, uma localidade no centro do país, não há dúvida. O grande rabino Menachem Mendel Schneerson, morto em meados dos anos 1990 e que parte de seus seguidores considera o Messias em pessoa, deixou isso claro.

Não se deve sequer contemplar a possibilidade de evacuar os judeus do que ele considerava a terra prometida. O que Schneerson disse é a palavra de Deus nessa localidade, assentada sobre os restos de uma antiga aldeia palestina anterior a 1948. Cartazes com a imagem do suposto Messias podem ser visto em todo lugar, e também no edifício de tijolos aparentes que replica o quartel-general dos Lubavitch no Brooklyn, em Nova York.

Na saída da grande sinagoga de Kfar Habad, há certa movimentação de homens vestidos de preto. "Aqui ninguém votaria na esquerda. O rabino Schneerson deixou isso claro. Não daremos nenhuma terra aos árabes", diz um desses homens, o rabino Shmuel Grumach.

Que futuro espera então os palestinos? "O Messias, quando voltar, se encarregará disso", acrescenta. "Eu votarei em um partido que diga claramente que não é a favor de um Estado palestino", afirma também Beni, que emigrou do México para Israel e é professor em um grande orfanato de Kfar Habad, parte da rede de organizações de caridade que essa seita tem por todo o mundo.

O processo de paz, e o eterno conflito que confronta israelenses e palestinos, não é, entretanto, a grande preocupação da comunidade ultrarreligiosa, dedicada sobretudo a cumprir seus mandamentos e a propiciar o retorno imediato do Messias.

Seus líderes, os dirigentes dos partidos religiosos, preocupam-se principalmente com que o governo da vez lhes garanta o financiamento necessário para manter seu estilo de vida - famílias numerosas, nas quais o pai não trabalha e se dedica ao estudo dos textos sagrados graças a subvenções estatais.

Historicamente, não foi muito complicado para eles. O sistema eleitoral israelense faz que os partidos religiosos tenham sido até agora imprescindíveis para formar as coalizões de governo, nas quais as pequenas formações convivem com algumas grandes, para alcançar a maioria parlamentar necessária.

Os religiosos estão conscientes de que seus assentos são cruciais para formar governo, portanto partem de uma cômoda posição negociadora. Sua relevância aumenta a cada eleição graças ao alto índice de natalidade da comunidade ortodoxa, onde é frequente encontrar famílias com 12 filhos.

"A demografia não oferece boas perspectivas para os laicos nem para a centro-esquerda", explica o especialista em pesquisas eleitorais Rafi Smith.

O pragmatismo ultraortodoxo faz que, apesar de sua sintonia política com a direita, o governante Likud, o cavalo vencedor destas eleições, se preocupe a duas semanas das eleições que os religiosos decidam afinal formar um governo com partidos de centro-esquerda e deixem Netanyahu em perigo. Nesta altura, parece claro quem ganhará as eleições. O que não está tão claro é que governo de coalizão se formará.

Em seu majestoso gabinete na prefeitura de Jerusalém, o vice-prefeito Yitzchak Pindrus, um dos líderes da ultraortodoxa União, Torá e Judaísmo, expõe a posição de seu partido. "Nós pactuaremos com quem respeitar nosso sistema educacional e nossas moradias. Para nós não importa quem está no poder. Não descartamos pactuar com os trabalhistas", diz, em tom de ameaça a Netanyahu.

Até que ponto seus eleitores estariam dispostos a comungar com as propostas da centro-esquerda sobre os palestinos? "Veja, para nós está claro que nenhum partido atual, nem mesmo os trabalhistas, farão algo a favor de um Estado palestino."

Na realidade, não há grande diferença entre direita e esquerda em torno da questão palestina. Talvez o único grande partido que realmente se destaca é a Casa Judia, o partido de extrema-direita do carismático Naftali Bennett, que se opõe frontalmente não só de fato, mas também de palavra, à criação de um Estado palestino. As demais grandes formações, incluindo o Likud de Netanyahu, dizem ser, em linhas gerais, favoráveis a que os palestinos tenham seu próprio Estado, mas nem suas campanhas nem seus programas tratam excessivamente do tema, com exceção do que aqui consideram a extrema-esquerda.

O vice-prefeito Pindrus repete um argumento que se escuta diariamente nas ruas e que resume o sentimento popular: "Ninguém em Israel acredita que haverá negociações com os palestinos. Afinal, todos os governos, e também os de esquerda, construíram assentamentos".