20 Dezembro 2012
"Mais do que ficar se alarmando, acredito que para Igreja existe uma chance a ser aproveitada, anunciar a possibilidade de um valor estável, definitivo e eterno. O verdadeiro desafio não é mais ou menos casamentos religiosos, mas, no fundo, mais ou menos evangelização: a nova evangelização desejada por Bento XVI, a necessidade de um anúncio de um modo novo, não moralista, mas 'querigmático', evangélico, no sentido de alegre...". O arcebispo Bruno Forte não acusa nem rasga as vestes, mas, como grande teólogo, vai até os fundamentos: "Secularização? Na realidade, já estamos em uma era pós-secular...".
A entrevista é de Gian Guido Vecchi e publicada no jornal Corriere della Sera, 19-12-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Em que sentido, excelência?
Partamos da queda dos casamentos em si. Ela demonstra, acima de tudo, como o efeito da grande crise está começando a ser percebido também nas escolhas de vida e induz a passos mais provisórios, com menos confiança na estabilidade....
No entanto, permanece a tendência: no Norte, os casamentos civis superam os religiosos, não?
É preciso dizer que a escolha de se casar na Igreja, no passado, também nascia do condicionamento de um contexto social que hoje está desaparecendo. Celebrar o casamento religioso para agradar a sua família ou aos outros é cada vez menos relevante do que a escolha pessoal de fé e esperança dos esposos. Sem contar que as núpcias na Igreja parecem ser algo mais absoluto do que o contrato civil, que, além disso, não deve ser subestimado ou obscurecido.
Não são duas escolhas contrapostas?
É claro que a proposta aos crentes é confiarem em Deus e se confiarem a Ele como casal. Mas aqueles que se casam com o rito civil são pessoas que escolheram um pacto estável. Além disso, as duas coisas não se excluem: muitas vezes, ao casamento civil, segue-se o religioso, depois de um período vivido como uma "verificação" antes do passo posterior. Eu não compartilho isso, mas o constato: nos cursos pré-matrimoniais, vi muitos casais já casados no cartório.
Mas por que o senhor falava de era pós-secular?
A secularização é a erradicação de uma pertença comum. Parecia tornar o ser humano mais livre e, na realidade, o deixou mais sozinho. O grande problema, agora, é a solidão. Uma sociedade esfacelada, uma multidão de solidões nas quais o outro se torna o estrangeiro moral, a desconfiança com relação ao próximo e o futuro. Não é por acaso que se vê isso mais no Norte, onde a secularização surgiu antes.
E os "ataques" à família, que a Igreja lamenta?
Certamente existem, mas acredito que o verdadeiro ataque é essa realidade mais sutil, penetrante, que a corrói nos seus fundamentos: a confiança para com o outro e para com o futuro que, no fim, é confiança em Deus.
O que significa "um modo novo" de evangelizar?
Quando eu digo Igreja, penso acima de tudo nos casais de esposos e namorados que acreditam e podem testemunhar que é bonito, que vale a pena: o evangelho no sentido da "boa notícia" de que o amor eterno é verdadeiro, o "sim" definitivo é possível. Entre as relações esfaceladas a serem recompostas está a das gerações. Veja, eu me comovo diante dos casais de esposos mais idosos que se olham com ternura de amor e penso no testemunho que podem dar aos jovens. Não se trata de fazer apelos moralistas. Vale o que dizia Paulo VI: o ser humano contemporâneo escuta mais as testemunhas do que os mestres, e se escuta os mestres é porque são testemunhas.
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''A Igreja não pode subestimar as outras uniões'', afirma Bruno Forte - Instituto Humanitas Unisinos - IHU