19 Dezembro 2012
Em vez de se interrogar abstratamente sobre supostas desordens antropológicas de uma abertura do matrimônio aos homossexuais, não seria melhor colocar todos os nossos esforços sobre a desordem antropológica de uma sociedade cujas formas de consumo, de produção e de partilha são tão pouco respeitosas à pessoa humana e à sua dignidade?
Publicamos aqui a declaração da revista francesa Témoignage Chrétien, 14-12-2012, sobre a lei do casamento para todos, por ocasião das manifestações dos dias 16 de dezembro de 2012 e 13 de janeiro de 2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
A homossexualidade foi perseguida ou oprimida durante longos séculos. Na realidade, trata-se de uma orientação sexual tão legítima e digna quanto a heterossexualidade.
O matrimônio é um contrato escolhido por duas pessoas mais livres e conscientes hoje do que jamais o foi. É um contrato que pode ser rompido ou renovado legalmente. Há famílias que se fundamentam fora do casamento, e 40% das crianças nascem fora do casamento.
Rejeitar esse contrato aos homossexuais seria acrescentaria uma enésima discriminação àquelas dos quais eles já foram objeto muito frequentemente. É por isso que consideramos justo que ele seja aberto àqueles – homens e mulheres – que querem dar um quadro lícito mais forte para a sua união.
Caberá às religiões refletir sobre o sentido do casamento religioso, mas seria um grave erro político colocar um contra o outro. Lembremos, enfim, que as mesmas pessoas que se orgulham das virtudes da união civil hoje, depois de terem rejeitado o PaCS [Pacto Civil de Solidariedade], muitas vezes com as mesmas palavras, são os primeiros responsáveis por uma radicalidade gerada pelo seu fechamento às liberdades individuais. Esperamos que a lição sirva.
Não acreditamos que o casamento para todos irá dissolver a sociedade. O divórcio não fez com que o casamento desaparecesse. Um número muito grande de divorciados se casa novamente. Se o casamento para todos é um modo de integração suplementar na sociedade, então não é preciso hesitar.
Consideramos que o projeto de lei atual constitui um avanço real. Distinguimos a conjugalidade, a parentalidade e a filiação. O direito de toda criança de conhecer as suas origens e a sua filiação é um direito essencial, exceto pela impossibilidade ou no caso de força maior de natureza patológica.
Enfim, pedimos a todos que abram os olhos para uma realidade que é a solidão de milhões de pessoas, em situação de indigência material, afetiva e psicológica às vezes terrível. Em vez de se interrogar abstratamente sobre supostas desordens antropológicas de uma abertura do matrimônio a uma parte necessariamente reduzida da população, não seria melhor colocar todos os nossos esforços sobre a desordem antropológica, bem real desta vez, de uma sociedade cujas formas de consumo, de produção e de partilha são tão pouco respeitosas à pessoa humana e à sua dignidade?
A humanidade cresce quando os cidadãos se recusam a sacralizar os laços de sangue e dão a precedência aos laços de fraternidade que os unem. Assim, o que os une, mesmo dentro da família, procede da adoção. Cristo na cruz dizia a João: "João, eis aí a tua mãe", e à sua mãe: "Mulher, eis aí o teu filho". Não é a paternidade biológica, não são os laços de sangue que nos tornam irmãos e irmãs. O nosso DNA único e comum é um amor fraterno que desloca as fronteiras dos nossos preconceitos e dos nossos medos para mais longe.
Veja também: O L’Osservatore Romano critica revista católica francesa por defender o casamento gay
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Casamento para todos, um avanço humano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU