18 Dezembro 2012
Usando apenas seus pensamentos, uma mulher tetraplégica conseguiu controlar um braço-robô com aquela que é considerada a prótese de mão mais avançada já desenvolvida e testada.
Segundo os pesquisadores da Universidade de Pittsburgh, nos EUA, o dispositivo permite um "grau de controle e liberdade de movimentos" que nunca havia sido atingido com esse tipo de prótese. Eles dizem que o aparelho tem amplitude e variedade de movimentos similares aos de uma mão natural.
O braço-robô foi testado por uma voluntária de 52 anos, que há 13 foi diagnosticada com degeneração espinocerebelar, que a fez perder os movimentos do pescoço para baixo.
A reportagem é de Giuliana Miranda e publicada no jornal Folha de S. Paulo, 17-12-2012.
Os cientistas fizeram uma cirurgia para a implantação de eletrodos conectados ao córtex motor, área ligada aos movimentos, da paciente. Depois de duas semanas, eles começaram uma espécie de fase de treinamento de estimulação para que ela pudesse operar a prótese.
O braço mecânico ficou próximo à cadeira de rodas da paciente. Mas, a rigor, ele poderia também estar fisicamente distante.
O treinamento durou 13 semanas, mas a voluntária já foi capaz de executar livremente movimentos em três dimensões já no segundo dia de testes com o braço-robô. Na décima terceira semana, ela já conseguia fazer tarefas bem mais complexas, como empilhar objetos.
"O grande diferencial desse trabalho é a variedade e a complexidade dos movimentos alcançados pela voluntária", avalia Daniel Rubio, fisiatra e diretor clínico da Rede de Reabilitação Lucy Montoro, unidade Morumbi.
"A mão humana tem muitas complexidades. Conseguir afinar todas essas capacidades com os impulsos elétricos é o grande desafio".
Andrew Schwartz, professor da Universidade de Pittsburgh e autor principal do trabalho, publicado hoje na revista especializada "Lancet", destacou sua metodologia.
"A maioria das próteses controladas pela mente atingiram seus objetivos usando um algoritmo que envolve o trabalho de uma 'biblioteca' complexa de conexões entre o computador e o cérebro. No entanto, nós tentamos uma abordagem completamente diferente", explica.
"Usamos um algoritmo de computador baseado em um modelo que mimetiza de maneira muito próxima o jeito como um cérebro intacto controla o movimento do membro. O resultado é uma prótese de mão que pode ser movida de forma bem mais acurada e natural do que em esforços anteriores", conclui.
O tratamento ainda está em fase experimental, mas os cientistas já pensam na próxima etapa: eles querem que a prótese tenha alguma resposta sensorial, como ao calor ou ao frio.
Estudos anteriores tiveram bons resultados
A exploração das interfaces cérebro-máquina tem provocado uma verdadeira corrida entre neurocientistas de todo o mundo, que disputam para ver quem conseguirá apresentar o primeiro modelo de tratamento viável fora do universo dos laboratórios.
A publicação de artigos relatando o sucesso de próteses controladas apenas pelos pensamentos tem se tornado cada vez mais rotineira no mundo acadêmico.
Em maio, o grupo liderado por John Donoghue, da Universidade Brown, nos EUA, divulgou o progresso de dois pacientes, que também tiveram sucesso em controlar uma mão robótica só com o pensamento.
O projeto, batizado de Braingate, emocionou muita gente ao divulgar imagens de Cathy Hutchinson, 59. Tratraplégica há 15 anos, ela conseguiu, com a ajuda da prótese, erguer e tomar uma xícara de café sozinha pela primeira vez desde que perdeu os movimentos.
Os movimentos da mão usada por ela, embora mais limitados do que os da apresentada agora pelos cientistas, já foram suficientes para animar os pacientes que sofrem com limitações motoras. Seus criadores, porém, foram rápidos em avisar que qualquer coisa similar deve demorar a chegar ao mercado.
No ano passado, o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, da Universidade Duke, também nos EUA, teve sucesso em uma experiência parecida usando primatas.
Embora ainda não tenha apresentado um "protótipo" público, Nicolelis diz que fará um garota tetraplégico dar o pontapé inicial da Copa do Mundo de 2014, no Brasil, usando um esqueleto biônico controlado também por seus pensamentos.
Futuro
Na opinião do fisiatra Daniel Rubio, da Rede de Reabilitação Lucy Montoro, exoesqueletos, próteses e órteses parecem mesmo ser a grande aposta para a reabilitação de pessoas com limitações de movimento.
"Enquanto tratamentos como a terapia celular tiveram avanços mais modestos, esse campo conseguiu dar um grande salto rapidamente. Hoje, ele parece a alternativa mais viável ", afirmou.
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Mulher controla mão-robô com a mente - Instituto Humanitas Unisinos - IHU