11 Dezembro 2012
Nossos colegas do National Catholic Reporter militam em favor da ordenação das mulheres na Igreja. Uma polêmica novamente atual nos Estados Unidos.
A nota é de Henrik Lindell, publicada em seu blog no portal da revista La Vie, 06-12-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O debate sobre a ordenação de mulheres na Igreja Católica não está fechado. Prova disso, cotidianamente, é a imprensa cristã dos Estados Unidos. Por exemplo, o National Catholic Reporter, uma jornal norte-americano de referência, com uma tiragem de 30 mil exemplares duas vezes por semana e um site extremamente popular. O seu editorial do dia 3 de dezembro é um apelo em favor das sacerdotisas. O título resume a essência da afirmação: "A ordenação das mulheres corrigiria uma injustiça".
Os autores escrevem: "As mulheres católicas que discerniram um chamado ao sacerdócio e tiveram esse chamado afirmado pela comunidade devem ser ordenadas na Igreja Católica Romana". Para se justificarem em uma perspectiva católica, referem-se em particular à Pontifícia Comissão Bíblica que apresentou as suas conclusões em abril de 1976.
De acordo com uma clara maioria dos membros dessa Comissão (12 contra 5), a Igreja poderia ordenar mulheres ao sacerdócio, "sem ir contra contra as intenções originais de Cristo".
O National Catholic Reporter contradiz assim formalmente a carta apostólica de João Paulo II Ordinatio Sacerdotalis, de 22 maio de 1994. O papa, então, afirmou que "a Igreja não tem absolutamente a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres". Uma posição que, aos olhos de João Paulo II, "deve ser considerada como definitiva por todos os fiéis da Igreja". Bento XVI recordou essa posição de princípio várias vezes.
Como explicar a opinião do National Catholic Reporter? Acima de tudo, com a sua forte convicção a respeito com uma autêntica irritação. Os jornalistas católicos lembram que diversos eclesiásticos muito populares foram dispensados ou afastados por causa das suas posições em favor da ordenação das mulheres.
O último exemplo é Roy Bourgeois. Esse padre, apreciado pela sua ação em favor dos pobres, recebeu uma carta em novembro da Congregação para a Doutrina da Fé, que o informava sobre a sua "excomunhão, dispensa e laicização". Motivo: o padre Bourgeois participou da ordenação de uma mulher em 2008. Uma culpa que, segundo o direito canônico, implica imediatamente na exclusão.
Para os nossos colegas do NCR, essa decisão é particularmente insuportável em um contexto em que padres e até mesmo bispos suspeitos de encobrir atos de pedofilia são mantidos em suas funções.
Por exemplo, o atual bispo de Kansas City, Robert Finn, que não foi oficialmente questionado pelo Vaticano nem pelo episcopado. No entanto, ele foi condenado por um tribunal em setembro do ano passado por não ter denunciado à polícia que um padre da sua diocese havia tirado centenas de fotos obscenas de crianças.
Diversos religiosos assumiram a defesa dos padres e dos teólogos condenados pelo seu compromisso em favor do ministério feminino. Uma das mais importantes organizações de religiosas – as Sisters of Mercy (Irmãs da Misericórdia) – expressou a sua "tristeza" e o seu "pesar" diante da decisão do Vaticano com relação ao padre Bourgeois. Um posicionamento que evidencia e agrava o conflito latente nos Estados Unidos entre congregações de religiosas e de leigos, de um lado, e o episcopado, de outro. Esses atritos referem-se tanto a pontos doutrinais (em particular sobre o ministério), quanto a pontos de vista pastorais.
Certamente, o NCR reflete historicamente uma certa sensibilidade teológica: a corrente progressista. Esta conheceu o seu momento de glória nos anos 1970. Alcançará novamente esse momento? Na realidade, seria difícil mostrar que os católicos progressivos estão voltando à sua força. Não dispomos de nenhum número para defender tal tese. Em geral, a história não se repete. No NCR, assim como em certas congregações religiosas, o pessoal é mais de esquerda. E bastante idoso.
O que acontece então? Em nossa opinião, não se trata nem mais nem menos do que de um protesto de grande parte dos católicos. Isto é, assim como muitas outras organizações católicas, o NCR encontra-se praticamente – e provavelmente teologicamente – em uma linha protestante, especificamente luterana, que admite o ministério feminino há muito tempo, a não ser em algumas comunidades recalcitrantes.
O que isso nos permite afirmar? Em função do seu modo de entender as Escrituras e do que muitíssimos católicos entendem hoje, o NCR considera que é possível reformar significativamente a Igreja, a ponto de rejeitar, frontalmente, o ensino do papa atual e do seu antecessor. "A nossa mensagem – explica o editorialista – é de que acreditamos que o sensus fidelium é de que a exclusão das mulheres do sacerdócio não tem nenhuma base forte na Escritura nem qualquer outra justificativa convincente".
É claro que se trata de um raciocínio muito próximo do dos luteranos em geral, dos luteranos reformados na França, sem falar dos anglicanos (episcopalianos). Para evitar qualquer mal-entendido, lembramos a versão original em inglês: "Our message is that we believe the sensus fidelium is that the exclusion of women from the priesthood has no strong basis in Scripture or any other compelling rationale; therefore, women should be ordained".
Essa linha "feminista" do NCR também poderia refletir o que a maioria dos leigos católicos e a sociedade em geral pensam. Acerca disso, é preciso lembrar que catolicismo norte-americano não é "conservador", no sentido francês do termo. Nos Estados Unidos, é possível ser um praticante católico e até tradicionalista, mesmo sendo muito "de esquerda", senão até anarquista (como mostra Dorothy Day e o movimento Catholic Worker). Também é possível ser um ultraliberal, mas, mesmo assim, estar muito próximo à Igreja e cultivar um grande respeito pelo magistério.
Essas características muitas vezes surpreendem os católicos progressistas europeus. Os católicos norte-americanos, acima de tudo, sabem cultivar a sua liberdade e independência de pensamento. Assim como os protestantes, certos eclesiásticos se opõem franca e valorosamente ao magistério por razões doutrinais. Nos Estados Unidos, o catolicismo sempre evolui em um contexto em que é minoritário (em comparação com o protestantismo) e em que o individualismo moderno e o sentido de igualdade – por exemplo, entre os sexos – desempenham um papel cada vez mais importante.
Diante dessa cultura, os bispos logicamente encontram dificuldades crescentes para impor totalmente a ordem romana. Um fenômeno que não os impede de "fazer discípulos".
Além disso, ao contrário de muitas comunidades protestantes, a Igreja Católica nos Estados Unidos está em ligeiro crescimento. Portanto, pode-se debater internamente e ao mesmo tempo crescer! Ousemos aprender essa lição: não somos obrigados a tentar dissimular ou a falar suavemente contra os bispos quando não estamos de acordo com eles. Podemos expressar em voz alta o nosso desacordo. Também podemos assumir as consequências.
Em definitivo, a Igreja não depende – nem sempre, em todo o caso – da fidelidade aos bispos. Depende apenas da fidelidade a Cristo.
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O surpreendente debate sobre as sacerdotisas católicas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU