13 Novembro 2012
"No princípio, Deus criou o céu e a terra", as palavras iniciais de Gênesis 1 é o início por antonomásia, Bereshît, a arché a qual todo ser humano ("homem e mulher os criou") é continuamente remetido assim que levanta o olhar para além dos grãos cotidianos. Há uma narração à qual todos nós, crentes ou não, conscientes ou não, somos remetidos como a um fundamento. E, em Roma, a Chiesa del Gesù – "igreja mãe" dos jesuítas, onde está sepultado o fundador, Santo Inácio de Loyola – está repleta de pessoas enquanto o cardeal biblista Gianfranco Ravasi explica como a criação bíblica não é a clássica cosmogonia oriental, fruto de uma "luta intradivina", mas está "totalmente em uma frase: 'Deus disse: Faça-se a luz!, e houve luz'. Como se lê no Salmo 19: 'Os céus narram a glória de Deus'; narram-na porque a criação é fruto de uma palavra, é palavra em si mesma...".
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal Corriere della Sera, 12-11-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
E assim o diretor do jornal Corriere della Sera, Ferruccio de Bortoli, cita Michelangelo e Nietzsche, Blake e Haydn, os tantos gênios que alimentaram as suas próprias linguagens com a fonte bíblica, "um texto que provavelmente, sob o perfil exclusivamente histórico, é uma coleção de mitos, lendas, relatos orais depois casualmente ordenados ao longo dos séculos" e que, contudo, "assume no fim uma forma perfeita". Por isso, "mesmo quem não está disposto a admitir a presença de um grande autor, de um grande narrador, não pode escapar do estupor da criação, interrogar-se sobre o que havia antes daquele princípio...".
Em torno dessa narrativa, o Pontifício Conselho para a Cultura, presidido por Gianfranco Ravasi, organizou um ciclo de seis encontros, um por mês ("No princípio Deus criou... Nas origens da vida. Nas raízes da fé"), entre personalidades eclesiásticas e seculares – dentre outros, duas grandes assinaturas do Corriere como Massimo Franco e Sergio Rizzo –, seis diálogos moderados pelo professor Rosario Salamone e inaugurados nesse domingo pelo primeiro relato da criação. Com o cardeal Ravasi envolvido em mostrar o aspecto literário, cosmológico, filosófico, teológico, antropológico, escatológico e místico do texto, sete elementos exegéticos assim como, não por acaso, o ritmo do texto hebraico é o setenário: "Sete dias. Sete fórmulas usadas para construir cada dia. Sete vezes o verbo bará, 'criar'. Vinte e uma vezes, 7 vezes 3, as palavras céu e terra. Trinta e cinco vezes, 7 vezes 5, a palavra Eelohîm, Deus. O primeiro versículo de sete palavras, o segundo de 14. Uma espécie de cabala mística que tem uma finalidade: mostrar que o ser é harmônico, que o universo é fruto de um projeto e não do caos".
A mesma pergunta, as mesmas emoções nos acompanham hoje, lembra De Bortoli: "Tenho certeza de que, independentemente da sua fé, até mesmo os descobridores do bóson de Higgs, chamado aventurosamente de 'partícula de Deus', também as sentiram quando tiveram a sensação ou a presunção de tocar com a mão, através da sua pesquisa, o princípio de todas as coisas. E devem ter se perguntado, talvez sem confessar aos colegas: o que havia antes?".
O cardeal Ravasi, no fim, citou uma frase de Isaac Newton: "Não sei que imagem o mundo terá de mim. Eu me vejo como uma criança que brinca na beira do mar e, de vez em quando, se diverte descobrindo uma pedra um pouco mais lisa ou uma concha um pouco mais bonita do que de costume. Mas, diante de mim, se estende ainda inexplorado o imenso oceano do universo e da verdade".
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Os sete dias que fizeram o mundo: uma história para crentes e seculares - Instituto Humanitas Unisinos - IHU