07 Novembro 2012
Tina Beattie, professora de Estudos Católicos da universidade inglesa de Roehampton, especialista em questões de ética e de feminismo, membro da direção da revista católica britânica The Tablet, deveria ministrar, a partir do dia 6 de novembro, um curso como professora visitante no Frances G. Harpst Center for Catholic Thought and Culture da Universidade de San Diego. Mas apenas dez dias antes, ela recebeu o cancelamento do cargo por causa das pressões dos financiadores da universidade, de acordo com uma carta enviada pela reitora, Mary Lyons.
A reportagem é de Ludovica Eugenio, publicada por Adista, 05-11-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A Universidade de San Diego é uma instituição católica independente, nascida em 1952, da colaboração entre a arquidiocese de San Diego e a congregação religiosa feminina do Sagrado Coração de Jesus.
A revogação do seu cargo, disse Beattie em uma entrevista ao jornal católico norte-americano National Catholic Reporter, é "um sintoma de algo novo e muito preocupante": "Nunca se ouviu falar, ao menos na Grã-Bretanha, que um teólogo da minha posição se sinta ameaçado por uma ação desse tipo". "Não se trata de uma coisa que tenha a ver comigo. Tem a ver com uma mudança na cultura da Igreja Católica, com a qual deveríamos nos preocupar muito".
A notícia provocou espanto no mundo acadêmico norte-americano e britânico, que, através da voz de eminentes teólogos, definiu o procedimento de "um insulto". Por outro lado, a notícia da revogação chegou a Beattie mediante uma carta da reitora, que acusa a teóloga de "discordar publicamente do ensinamento da Igreja".
"A principal missão do Centro – afirma –, coerentemente com aqueles que o apoiaram financeiramente, é de oferecer a oportunidade de dar corpo à tradição intelectual católica nas suas diversas formas. Isso incluiria uma apresentação clara e coerente dos ensinamentos morais da Igreja, ensinamentos com relação aos quais a senhora, como teóloga católica, expressou sua discordância publicamente. À luz da contradição entre a missão do Centro e os seus posicionamentos públicos como teóloga católica, infelizmente retiro o convite que lhe tinha sido estendido". Na esperança de "mitigar os inconvenientes que essa decisão possa lhe criar", Lyon se oferece para reembolsar as despesas de viagem.
O conteúdo da conferência que Beattie deveria proferir no dia 8 de novembro, por ocasião de uma jornada de conferências do Centro foi removido do site, mas o link para a cópia em cache da página web fornecido pelo NCR revela que o seu tema – "Visões do paraíso: Mulheres, pecado e redenção na arte cristã" – abordaria a "representação artística do corpo das mulheres" entre a Idade Média tardia e a arte renascentista.
Não é a primeira vez a teóloga tem um compromisso cancelado. Isso também ocorreu em setembro passado, quando lhe foi retirado o convite para falar na Catedral de Clifton, Inglaterra, por ocasião de uma série de conferências pelo 50º aniversário do Concílio Vaticano II. Um mês antes, de fato, a teóloga havia assinado uma carta aberta em favor do casamento homossexual, publicada no jornal Times. Nessa ocasião, a iniciativa não havia sido do bispo da diocese, mas sim da Congregação para a Doutrina da Fé.
"Trata-se de um insulto contra uma eminente teóloga que eu conheço pessoalmente, da qual eu conheço o trabalho e que eu acredito que sempre foi correta nos modos em que expressou e desenvolveu as suas opiniões", afirmou, comentando o caso, a teóloga Jean Porter, professora de teologia da Universidade de Notre Dame.
"É profundamente desanimador – ecoou Eamon Duffy, professor de história cristã da Universidade de Cambridge, em uma carta a Lyons – que a reitora de uma universidade católica caracterize a discussão acadêmica e o debate entre católicos como 'discordância' e que tente suprimir o intercâmbio acadêmico atingindo um único indivíduo que a Igreja não condenou".
"A Igreja está fazendo mal a si mesma com o seu medo de empreender uma discussão verdadeiramente honesta e aberta sobre questões intelectuais, de fé e também problemas de prática e de governo da Igreja", disse Porter. "Penso que vemos cada vez mais os sinais disso: estamos sofrendo gravemente por causa disso. Não posso imaginar, na esfera do debate e da discussão pública, nada mais nocivo para a Igreja do que o que estamos fazendo contra nós mesmos neste momento". "Esta medida – concluiu a teóloga – é apenas mais um sinal do que está se tornando um problema sério e invasivo".
Na realidade, a Universidade de San Diego não é nova em procedimentos desse tipo. Em 2008, ela retirou o convite à teóloga feminista Rosemary Radford Ruether, que deveria lecionar teologia católica no ano acadêmico posterior.
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Universidade católica dos EUA ''desconvida'' teóloga - Instituto Humanitas Unisinos - IHU