31 Outubro 2012
A acusação é metódica, os argumentos são tirados da Bíblia, do direito, da antropologia. Em um texto publicado no dia 18 de outubro, o grão-rabino da França, Gilles Bernheim, se esforça para desmontar os argumentos dos promotores do "casamento para todos". Convencidos de que esse projeto constitui um "requestionamento de um dos fundamentos da nossa sociedade", ele critica duramente o "modo de pensar dominante". Para o religioso, isso levaria a uma "confusão das genealogias, do estatuto da criança e das identidades sexuais".
A reportagem é de Stéphanie Le Bars, publicada no jornal Le Monde, 27-10-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O grão-rabino acredita que "o casamento não é unicamente o reconhecimento de um amor" – amor do qual ele não nega a sinceridade nos casais homossexuais –, mas, ao invés, é "a instituição que une a aliança do homem e da mulher com a sucessão das gerações".
Por isso, ele considera que "não se pode conceder o direito ao matrimônio para todos aqueles que se amam", citando o exemplo de uma mulher que ama dois homens ou de um homem que ama uma mulher casada. O rabino não coloca em discussão a segurança jurídica a que aspiram os casais homossexuais, mas propõem encontrar "soluções técnicas".
Como a maior parte dos opositores ao projeto, ele se insurge contra uma possível homoparentalidade. "Todo o afeto do mundo não é suficiente para produzir as estruturas psíquicas básicas que respondem à necessidade da criança de saber de onde vem". "Há milhares de anos, o sistema sobre o qual se fundou a nossa sociedade é uma genealogia de dupla descendência, a do pai e a da mãe".
Ele duvida que "a criança chegue naturalmente e de forma estruturante a se situar em relação às novas terminologias" induzidas por essas mudanças, "Pai/mãe adquirido, cogenitor, homogenitor, mãe de aluguel, pai/mãe biológico, pai/mãe legal, pai/mãe social, segundo pai/mãe".
Quanto à adoção, ele acredita que a esterilidade de um casal "não dá direito ao filho". E denuncia "as chocantes combinações", como define as diversas modalidades de procriação para um casal homossexual. A seu ver, a procriação medicamente assistida e a gestação de aluguel devem ser tratadas somente no quadro das leis sobre a bioética.
Mas o ataque mais original refere-se à promoção da "teoria do gênero", à qual visam os defensores do casamento homossexual: os adeptos da "teoria queer" "pedem que se erradique a diferença sexual entre homens e mulheres" e atacam "o atual modelo familiar, visto como um condicionamento social".
O casamento homossexual visaria, portanto, à "sua destruição pura e simples", e a "tolerância" necessária para todas as orientações sexuais seria apenas um "cavalo de Troia na sua batalha contra a heterossexualidade".
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Grão-rabino francês denuncia um ''cavalo de Troia contra a heterossexualidade'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU