Transparência e disciplina em debate no Sínodo

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27 Outubro 2012

Uma velha piada sobre teólogos na Índia, que tendem a ser influenciados por noções hindus dos múltiplos caminhos para Deus, diz mais ou menos assim: você pode discutir com eles sobre algum ponto até o extremo, e então eles vão dizer: "Sim, sim, tudo o que você diz é verdade... mas o oposto também é!".

A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada no sítio do jornal National Catholic Reporter, 25-10-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Em alguns aspectos, um Sínodo dos Bispos é assim. Quando todos os discursos, as discussões em pequenos grupos, as mensagens e as proposições acabaram, praticamente todos os pontos imagináveis foram apresentados ao menos uma vez, assim como os seus opostos.

Antes de fechar a cortina do Sínodo dos Bispos sobre a nova evangelização dos dias 7 a 28 de outubro, há duas contribuições em grande parte negligenciadas de duas poderosas autoridades vaticanas que merecem ser registradas – não porque influenciaram o Sínodo, mas porque oferecem pistas para pensar duas importantes agências da burocracia central da Igreja.

A primeira veio no dia 18 de outubro pelo cardeal Giuseppe Versaldi, que chefia a Prefeitura de Assuntos Econômicos da Santa Sé, tornando-o efetivamente a máxima autoridade financeira do Vaticano. Com efeito, Versaldi argumentou que a administração dos recursos da Igreja deve respeitar a identidade distintiva da Igreja, e, portanto, a simples cópia das "melhores práticas" do mundo secular não é suficiente.

"Essas técnicas são ditadas pelo mundo e frequentemente estão em contraste com a finalidade religiosa", disse Versaldi.

Por exemplo, afirmou, o mundo exterior pressupõe uma má-fé e uma intenção criminosa quando se cometem erros, enquanto que a Igreja deveria pressupor boa vontade e inocência até que se prove o contrário. Portanto, quando há um problema, disse, a primeira opção deve ser a "correção fraterna", e não chamar a polícia.

"Em casos de possível má administração dos bens eclesiais, como terapia, o remédio evangélico da correção fraterna deve ser aplicado", disse Versaldi. "Antes de denunciar às autoridades, o debate pessoal deve ser aplicado para dar a possibilidade da reforma e da reparação".

Ele também apresentou nova rodada sobre a transparência, argumentando que ela nem sempre significa tornar as coisas públicas.

"A transparência não significa automaticamente a publicização do mal que leva ao escândalo", afirmou. "Só se a conversão não existir é que as autoridades competentes devem ser chamadas, que têm a tarefa de verificar as acusações sem que elas já sejam consideradas como provas de má governo".

Em um momento em que Bento XVI parece estar tentando levar o Vaticano e a Igreja em geral na direção de uma glasnost financeira, é interessante notar como o seu principal oficial financeiro interpreta como devem ser a "transparência" e a "responsabilização" em uma chave distintamente católica.

Na terça-feira, 23, o cardeal norte-americano Raymond Burke, que chefia a Signatura Apostólica – com efeito, o Supremo Tribunal do Vaticano – apresentou um discurso por escrito.

Nele, Burke pediu uma maior ênfase na disciplina e no respeito pela lei da Igreja como forma de resistir ao que ele chamou de uma cultura de "antinomianismo", ou seja, de desrespeito pela tradição e pela autoridade na Igreja, após o Concílio Vaticano II (1962-1965).

Como resultado desse descaso, disse Burke, as reformas pretendidas pelo Vaticano II foram "obstruídas, senão até traídas".

Burke também argumentou que uma das feridas mais graves na sociedade contemporânea é a separação entre a lei e os seus fundamentos morais. Ele citou uma série de coisas que ele acredita refletir esse colapso de um sentido moral: "O aborto sob demanda, a concepção artificial da vida humana com o objetivo de realizar experiências sobre a vida de um embrião humano, a chamada eutanásia daqueles que têm o direito da nossa assistência preferencial, o reconhecimento legal das uniões entre pessoas do mesmo sexo como casamento, e a negação do direito fundamental à consciência e à liberdade religiosa".

Além da liberdade religiosa, os outros problemas sinalizados por Burke não surgiram de forma especial durante o Sínodo, exceto como parte de uma crítica geral ao secularismo. No entanto, a sua apresentação oferece intuições sobre o pensamento do homem que, na verdade, é o canonista mais importante do Vaticano, sem falar que ele também é único norte-americano que atualmente dirige um grande escritório vaticano.