06 Outubro 2012
O que significa ser cristão? Cuidar das nossas relações humanas.
Aproximam-se os 100 anos de Arturo Paoli, di Lucca, Itália, uma bela figura de fé do catolicismo italiano. Enquanto isso, ele continua apresentando as suas reflexões na revista Ore Undici, de outubro de 2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Se alguém ler atentamente o Evangelho e se perguntar "Jesus é um homem de oração?", a resposta é sim e não. Os discípulos que o seguem e que provavelmente esperavam que ele lhes ensinasse a rezar, em certo ponto se sentem um pouco desiludidos e lhe dizem: João ensina a rezar – aqueles que se declaram profetas, mestres, enviados por Deus acima de tudo ensinam a rezar –, tu o que fazes?
Jesus, então, ensina uma oração breve e essencial que é o Pai Nosso. Não parece que, todas as vezes em que os apóstolos se reúnem, a primeira coisa que fazem era rezar: quem espiava de noite aonde ele ia – porque, durante a noite, enquanto os apóstolos dormiam, ele se levantava –: quem o espiava o viu estirado no chão e recolhia lágrimas e gritos dirigidos a quem podia nos salvar da morte. Ele não chorava e não gritava pela sua morte pessoal, mas sim por ver este mundo que tem aparências de morte mais do que de vida: se sentia dilacerado e gritava pela humanidade.
Aos apóstolos, ele ensinava como se comportar com as pessoas, como se comportar entre si, o centro da sua ação é o reino de Deus: buscai primeiro o reino de Deus. O que é esse reino? A relação humana. Nas paróquias, em vez de se encontrar unicamente para rezar, seria bom se desse a primazia às relações: como nos comportamos entre nós? Como nos dedicamos àqueles pobres nossos vizinhos que vivem no mesmo bairro e estão desempregados, não sabem como seguir em frente, não têm recursos de nenhum tipo?
Nós deveríamos começar a partir deles, porque Jesus começou a partir deles, não dos sãos, mas sim dos doentes, que não são somente aqueles atingidos por uma verdadeira doença; são todos aqueles que vivem mal, que não sabem como viver, que não têm a força para viver. A Jesus não interessa ensinar a rezar, ele não é um guru; ele veio para sistematizar as relações humanas, para nos ensinar a viver com os outros.
O ideal está encerrado na palavra "amigos": é preciso se tornar amigos, e aos apóstolos que se perguntam quem é o superior, ele diz: "Sejam amigos entre vocês"; e os controla quando se dá conta de que há um pouco de mar agitado, que não há cordialidade perfeita. Ele se detém e diz: "Lembrem-se de que vocês são irmãos entre vocês e devem se amar"; e para imprimir neles a importância disso, na última noite da sua vida, ele lavou os pés de cada discípulo. "Vocês nunca devem se colocar em posição superior, pensar 'sou melhor do que tu, vou te tirar da tua ignorância ou pobreza'. Vocês devem se colocar no último lugar, porque, se vocês não tiverem essa intenção, erram tudo, pioram as suas relações".
O que significa ser cristão? Cuidar das nossas relações humanas. Não ter relações nem de comando, nem de negligência, mas sim realizar a amizade: fazer com que todos pensem: "Que bom amigo! Como saúda a todos! Como nos fala! E como como se preocupa com uma situação triste: como você está? O que podemos fazer? Como podemos nos unir e enfrentar essa dificuldade?". Essa é a oração, a mais bela oração: fazer com que venha o teu reino – o reino de paz e de justiça, de boas relações.
Se formos a Medjugorje para aprender a rezar com métodos novos, na realidade, significa que nunca conseguimos rezar. Não entendemos o que é a oração, buscamos onde nos ensinem fórmulas, mas não aprendemos a rezar. Para Jesus, a oração é como ter encontrado o lugar certo entre os outros, é a caridade para com os outros, a atenção com aqueles que sofrem.
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Jesus, mestre de relações, segundo Arturo Paoli aos 100 anos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU